O S-33 Tapajó, um dos cinco submarinos que pertencem à Marinha brasileira,
chegou ao Rio de Janeiro nesta quarta-feira (18) após sete meses de
treinamento com militares do Navy Seals, a força de elite da Marinha dos
Estados Unidos. Pela primeira vez, segundo o capitão de fragata Horácio
Cartier, que comandou a missão, um submarino brasileiro disparou
torpedos em águas internacionais.

O teste serviu para que os submarinistas observassem, na prática, o
funcionamento do sistema e o desempenho do torpedo MK-48. O alvo foi o
navio americano Range Rover.
O armamento pode ser controlado remotamente pelos oficiais da divisão
de torpedos, tem capacidade para viajar a cerca de 80 km/h e é capaz de
destruir um navio de grande porte. Para o capitão de corveta do S
Tapajó, Luiz Eduardo Cetrim, o MK-48 --fabricado nos Estados Unidos e
vendido às Forças Armadas do Brasil pelos Navy Seals-- é um dos modelos
mais poderosos do mercado.
"Ele sai com um fio bem fininho que nos permite controlar a sua
direção. Ele pode até acertar um alvo que esteja protegido por um objeto
à frente", explicou Cetrim. Ainda segundo ele, toda a ação do torpedo é
monitorada em um visor de LED instalado na sala de combate do
submarino. Apenas seis militares --que possuem treinamento específico--
podem operar o equipamento.
"O Tapajó tem capacidade para armazenar 14 torpedos e fazer até dois
lançamentos simultâneos. (...) Ele vai longe [seria, por exemplo, capaz
de se deslocar de Niterói, na região metropolitana do Estado do Rio, até
a praia de Copacabana, na zona sul da capital fluminense]. Ele é uma
arma tática de emprego em um cenário de situações limitadas", afirmou
Cartier.
Os MK-48 são armazenados em tubos localizados na proa do submarino e
têm oito portas que abrem para o lado externo, possibilitando o
lançamento. Desses, oito torpedos ficam engatilhados e seis são deixados
em um compartimento de reserva. O S-33 Tapajó carrega ainda oito artefatos
explosivos em quatro tubos auxiliares, que também podem ser disparados
em ocasiões de conflito.
O treinamento com os militares americanos foi a missão mais longa já
feita pela Marinha brasileira, segundo Cartier, e envolveu 42 homens
divididos em duas forças: as divisões de máquinas e de operações.
Durante os sete meses de confinamento, os praças e oficiais foram
submetidos a diversos procedimentos de emergência, tais como avarias,
explicou o comandante do S Tapajó.
"Quando a gente tem uma falha elétrica, por exemplo, a gente perde a
nossa capacidade de monitoragem e sensoriamento. É como se a gente
ficasse de olhos vendados. Isso aconteceu uma vez durante os sete
meses", disse o capitão.
Cartier explicou ainda que os equipamentos que mantêm a operação de um
submarino são "redundantes" e que o período de maior tensão entre os
membros da equipe é o "delay time" --intervalo entre o desligamento de
um equipamento e o acionamento de outro. "Quando há algum problema,
sempre tem um outro equipamento cuja finalidade é substituir aquele que
apresentou uma falha. Se desligamos uma válvula, imediatamente abrimos
outra", argumentou.
"Nem tudo está previsto no manual e na apostila. Existem situações
inusitadas. Graças ao nosso treinamento, conseguimos superá-las. Há um
trabalho em equipe, que é fundamental. Desde o cozinheiro que faz a
nossa comida até o comandante", completou.
'Não tem janelinha', diz comandante
Com 25 anos de carreira militar, o capitão de fragata responsável por
comandar a missão nos Estados Unidos afirmou que, diferentemente de uma
eventual ilustração criada no imaginário coletivo a partir dos filmes, o
submarino não tem "janelinha":
"Não é igual ao filme 'Vinte Mil Léguas Submarinas'. Aqui é um casco, fechado e de ferro", explicou Cartier.
Segundo o capitão, o periscópio é o "coração" de um submarino, pois
somente através dele é possível "olhar o mundo externo". Trata-se de um
equipamento constituído por um jogo de prismas cuja função é refletir
luzes. "É como se a gente olhasse em um binóculo", disse o comandante.
"A gente observa o meio externo fazendo a chamada a varredura de
horizonte. Para navegar, fazemos uso da navegação inercial ou da
navegação estimada. Esses são os procedimentos mais indicados quando a
gente está muito afastado e no meio do mar", afirmou.
As informações sobre o posicionamento são captadas pelos sensores de
localização e projetadas na mesa de plotagem do comandante. A partir
dessas coordenadas, o oficial pode executar deslocamentos com o
submarino.
Experiência internacional
O comandante do S-33 Tapajó afirmou que esta foi a sexta vez em que um
submarino brasileiro foi enviado aos Estados Unidos para participar do
intercâmbio com os Navy Seals. A missão é conhecida como "deployment".
Para Cartier, o desempenho do submarino brasileiro foi satisfatório:
"Já esperávamos um resultado satisfatório de um submarino submetido a um
treinamento com a Marinha americana. Em todas as seis vezes que lá
estivemos, o submarino mostrou a bandeira brasileira com galhardia e
profissionalismo".
Do UOL
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