A decisão do governo de acertar a compra dos caças Gripen NG, da sueca Saab,
deixa como saldo um exemplo de como a presidente Dilma Rousseff
imprimiu sua própria marca numa negociação herdada do antecessor Luiz
Inácio Lula da Silva. Embora todo o processo de compra tenha sido
realizado com base em estudos conduzidos na gestão de Lula, o desfecho
foi diferente daquele engatilhado anos atrás pelo ex-presidente.
Quando comandava o Palácio do Planalto, Lula defendia que a compra
dos caças deveria servir para fortalecer a parceria estratégica do
Brasil com a França na área de Defesa, já pautada pela construção de um
submarino. Em 2009, Lula chegou a anunciar como certo o acordo para a
compra dos caças Rafale, produzidos pela Dassault, ao lado do então
presidente francês Nicolas Sarkozy. Dali, saíram poses para fotos e
entrevistas, comemorando o avanço das negociações.
Quem acompanhou as negociações desde aquela época avalia que Dilma
foi mais “prática” em relação à compra dos caças e priorizou a “relação
custo-benefício” das propostas. Lula, naturalmente, foi ouvido durante
todo o processo. Mas Dilma defendia internamente que o Brasil
diversificasse seus parceiros estratégicos nesse setor.
A favor do Gripen, pesou em grande parte a questão do custo – a
proposta da Saab não só era mais barata, como incluía benefícios no que
se refere ao financiamento e ao início dos pagamentos. Isso sem contar
que a sueca também mostrou-se competitiva no que se refere ao
compartilhamento de tecnologia.
Este sempre foi um dos pontos negativos da proposta da americana
Boeing. Dentro do Ministério da Defesa, sempre houve um entendimento de
que o F-18 Super Hornet oferecia várias vantagens técnicas sobre os
demais concorrentes. Mas, segundo participantes das negociações, nunca
houve disposição em abrir o código-fonte do sistema da aeronave, sob a
justificativa de que a informação era determinante para a segurança de
voo do avião.
No início deste ano, predominava a avaliação de que as três propostas
ofereceriam vantagens para o Brasil. Contra a França, jogava contra
principalmente o custo do projeto. E a conta dos Estados Unidos acabou
ficando mais salgada após a eclosão do escândalo de espionagem
envolvendo a presidente Dilma Rousseff. Para interlocutores da
presidente, o monitoramento de informações pode não ter sido
determinante para o desfecho das negociações. Mas certamente não
facilitou as coisas para a Boeing.
Do IG
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