Milícias pró-Rússia ocuparam nesta quarta-feira ao menos duas bases
ucranianas na Crimeia e reivindicaram a captura do chefe da Marinha,
enquanto as autoridades separatistas se recusam a receber o ministro
ucraniano da Defesa.
Na terça-feira, o presidente russo Vladimir Putin assinou um tratado
histórico com as autoridades separatistas anexando a península à Rússia.
O Kremlin tem recebido críticas de todo o mundo. O presidente
interino da Ucrânia, Olexandre Turtchinov comparou a ação de Moscou às
realizadas pela Alemanha nazista.
O G7, cujos líderes se reunirão na segunda-feira em Haia, deverão
discutir a "expulsão permanente da Rússia" do G8, considerou nesta
quarta-feira o primeiro-ministro britânico David Cameron.
No terreno, os partidários de Moscou, apoiados por soldados russos, passaram para a ofensiva.
Eles anunciaram a captura do chefe da Marinha ucraniana Serguii
Gaiduk, após desalojarem a sede da Marinha no porto de Sebastopol.
"Estava bloqueado e não tinha para onde ir. Foi forçado a sair e o
levaram", disse à imprensa Igor Yeskin, representante das tropas russas
no local.
Uma agência de notícias local, a Kryminform, afirmou que Gaiduk foi
conduzido para a sede da procuradoria para interrogatório sobre a ordem
enviada de Kiev autorizando os soldados ucranianos a utilizar suas
armas.
Jornalistas da AFP viram os soldados ucranianos deixando o edifício.
Um dos homens tinha os olhos cheio de lágrimas, enquanto a bandeira
russa era hasteada em substituição da ucraniana.
Poucas horas depois, outro grupo das forças pró-Rússia na Crimeia
atacaram a base Sul da Marinha ucraniana em Novoozerne, oeste da
península, derrubando o portão com um trator, segundo o porta-voz do
ministério ucraniano da Defesa
Depois os "soldados russos" pausaram em seu avanço, informou
Vladislav Seleznev no Facebook. Segundo o porta-voz, os militantes
estavam diante de militares ucranianos armados.
Em Kiev, o governo ucraniano declarou que o ministro da Defesa, Igor
Teniukh, e o vice-primeiro-ministro Vitali Yarema pretendiam viajar
nesta quarta-feira à Crimeia para "acabar com a escalada" na península,
que decidiu pela separação da Ucrânia e pela incorporação à Rússia.
Mas o primeiro-ministro auto-proclamado da Crimeia Serguii Axionov
imediatamente declarou que os ministros seriam impedidos de entrar na
península.
"Não são bem-vindos à Crimeia. Ninguém permitirá que entrem e nós os
enviaremos de volta ao local de onde vêm", disse Axionov à agência russa
Interfax.
Esta rejeição foi confirmada em Kiev, onde esta questão e a situação
na Crimeia devem ser analisadas durante uma reunião do Conselho de
Segurança Nacional e de Defesa, segundo a agência Interfax-Ukraine.
Se o avanço institucional russo está praticamente concluído com a
aprovação por unanimidade da incorporação à Rússia da península da
Crimeia, muitos problemas ainda precisam ser resolvidos.
O mais urgente é o das bases ucranianas.
- Uso de armas -
O governo de Kiev ordenou a seus militares que permaneçam na Crimeia.
Na terça-feira, um militar ucraniano e um miliciano pró-Moscou
morreram em uma tentativa de ataque contra uma unidade militar ucraniana
em Simferopol, a capital regional.
Este episódio levou Kiev a autorizar oficialmente seus soldados presentes na península a utilizar suas armas para se defenderem.
Após a assinatura solene do tratado sobre a incorporação da Crimeia à
Rússia, a situação voltou a ser extremamente tensa entre Moscou e o
Ocidente, na véspera de uma nova cúpula europeia na quinta e sexta-feira
em Bruxelas.
- Fase militar -
Na terça-feira, o primeiro-ministro da Ucrânia, Arseni Yatseniuk,
declarou que o conflito de seu país com a Rússia em torno da Crimeia
entrou em uma fase militar após a morte de um soldado ucraniano na
península.
Do lado americano, o presidente Barack Obama convidou os líderes do
G7 e da União Europeia a se reunir na próxima semana em Haia para
discutir a situação na Ucrânia, e o secretário de Estado John Kerry
advertiu que uma eventual incursão da Rússia no leste da Ucrânia
representaria um ato "escandaloso".
O vice-presidente americano Joe Biden dará continuidade nesta
quarta-feira em Vilnius a seu giro na Polônia e nos países bálticos,
para tranquilizar esses países aliados que estão preocupados com a
agressividade de Moscou.
O chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, declarou na
terça-feira que Paris poderá suspender a venda de dois navios
polivalentes Mistral a Moscou, segundo os termos de um contrato assinado
em 2011.
O governo ucraniano também busca meios de responder à
"nacionalização" de suas empresas públicas na Crimeia, dando atenção
especial ao grupo Tchornomornaftogaz, que poderia ser tomado pelo grupo
russo Gazprom.
O método anunciado é o confisco por meio da justiça de bens russos, na Ucrânia e no exterior.
Do EM
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