O desaparecimento misterioso de uma aeronave como o Boeing 777-200 da Malaysia Airlines, que caiu no oceano Índico com 239 pessoas a bordo, pode acontecer em território brasileiro.
A informação é do Decea (Departamento de Controle de Espaço Aéreo), órgão que controla o tráfego aéreo no Brasil. Segundo o órgão, aeronaves que voem abaixo dos 30 mil pés (9,1 mil metros) com o transponder desligado podem ficar indetectáveis da mesma forma que voo MH370.
O voo MH-370 desapareceu dos radares no último dia 8 de março, aproximadamente 40 minutos depois de decolar do aeroporto de Kuala Lumpur, na Malásia, com destino a Pequim, na China. A princípio, as buscas se concentraram na região que envolvia o mar do sul da China e partes da costa da Malásia, Vietnã e Índia.
Posteriormente, descobriu-se que o avião havia desligado o transponder e mudado sua rota sem informar as torres de controle. O transponder é um dispositivo que permite o que o avião seja detectado durante sua trajetória onde houver cobertura por radar.
No último dia 24, o governo da Malásia anunciou que, com base em dados de satélite, o avião da Malaysia Airlines caiu no oceano Índico a aproximadamente 2.500 quilômetros da cidade australiana de Perth, no sul do oceano Índico.
Até a última quinta-feira (27), porém, nenhum destroço confirmado da aeronave havia sido encontrado.
Desde o desaparecimento do voo MH370, uma das perguntas que mais intrigam as autoridades que investigam o caso é: como o avião voou durante tanto tempo sem ser detectado?
De acordo com o Decea, na faixa de altitude dos 30 mil pés (9,1 mil metros), onde voam as aeronaves comerciais de grande porte (como os jatos da Boeing, Airbus e Embraer), o Brasil tem 100% de cobertura por radar. O problema, no entanto, começa quando a altitude é mais baixa.
De acordo com o Decea, abaixo da faixa de 30 mil pés, há áreas em que aeronaves que não estejam voando com o transponder ligado podem ficar indetectáveis.
"Se eu tiver um avião voando abaixo do nível 300, com o transponder desligado, ele poderá não ser detectado", informou serviço de comunicação social do Decea.
O órgão explica que o controle de voo no Brasil é feito com base em radares primários e secundários. Os primários enviam feixes de ondas eletromagnéticas que, ao atingirem aeronaves, retornam à base e indicam a existência da aeronave.
Os secundários, mais sofisticados, permitem que as aeronaves possam ser identificadas e suas altitudes registradas por meio da captação dos sinais enviados pelo transponder dos aviões.
O Decea explica que, quando a tripulação desliga o transponder, o avião continua sendo detectado pelos radares primários, desde que ele esteja voando na faixa de 30 mil pés. Se a aeronave voar abaixo disso, em algumas áreas do país, o avião poderá ficar indetectável.
"Normalmente, o alcance de uma antena dessas é de 240 milhas. Se o avião estiver voando além do alcance de uma dessas antenas e não estiver sendo detectado ainda pela antena seguinte, eu vou ficar sem a detecção dele.
Se o avião estiver mais baixo, essa distância (alcance) em milhas vai diminuindo, porque o radar não acompanha a curvatura da terra. Na medida em que o sujeito vai se afastando (da antena), ele vai perdendo a detecção", afirma o Decea.
De acordo com o Ministério da Defesa, o controle do espaço aéreo brasileiro é dividido em quatro regiões e composto por 77 bases em todo o território, inclusive em Fernando de Noronha.
O Decea não informou, contudo, quantos radares fazem o controle de tráfego aéreo no Brasil e nem a idade média dos aparelhos.
Falhas no sistema de controle aéreo brasileiros foram levantadas em 2006, após o acidente em que um Boeing da Gol, que voava de Manaus para o Rio de Janeiro, se chocou com um jato Legacy em pleno ar enquanto sobrevoavam a floresta amazônica, e setembro daquele ano.
O Boeing perdeu parte da asa e caiu no norte de Mato Grosso matando 154 pessoas. À época, foi apurado que o Legacy voava com o transponder desligado, o que impediu que o Boeing o detectasse.
Outro caso que mostra como aviões podem desaparecer no espaço aéreo brasileiro sem serem detectados é a queda de um bi-motor na semana passada no Estado do Pará. O avião decolou de Itaituba em direção a Jacareacanga.
Uma das passageiras, a técnica em enfermagem Rayline Sabrina Brito Campos, chegou a mandar uma mensagem de texto para o seu tio informando sobre uma pane no motor antes do avião cair.
Desde o dia 18, equipes de resgate atuam na área em busca dos destroços e possíveis sobreviventes, mas, até a última quinta-feira (27), nada havia sido encontrado.
Do BOL
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