Introdução do 15E601 “Perímetro“ em 1983
Adormecido em
tempos de paz, sistema possibilita contra-ataque nuclear até mesmo em
caso de destruição total dos pontos de comando e linhas de comunicação
com a Força Estratégica de Mísseis (sigla em russo RVSN). Na Rússia
recebeu o nome de “Perímetr”, mas ficou conhecido nos EUA como “Dead
Hand” (“mão morta”, em tradução livre).
Silo de
lançamentos e seus dispositivos/sensores e antena para recepção de sinal
para disparo autônomo individual de cada silo/míssil.
O
principal sistema de controle de mísseis estratégicos é o Kazbek,
conhecido graças ao sistema portátil Cheguet (“maleta nuclear”). O
Perímetr é um sistema alternativo de comando das forças nucleares da
Rússia e está preparado para ser controlado automaticamente em caso de
ataque nuclear maciço.
O desenvolvimento de um sistema de
contra-ataque começou no auge da Guerra Fria, quando ficou claro que os
meios de guerra eletrônica em constante evolução seriam, em um futuro
próximo, capazes de bloquear os canais regulares de comando das forças
nucleares estratégicas. Era preciso criar um método de backup de
comunicação que garantisse o envio do comando aos dispositivos de
lançamento.
Foi então que surgiu a ideia de usar um
foguete de comando equipado com um poderoso dispositivo transmissor de
rádio como meio de comunicação. Ao sobrevoar a União Soviética, esse
míssil iria transmitir a ordem de lançamento dos mísseis não só aos
pontos de comando da RVSN, mas também diretamente aos dispositivos de
lançamento.
Em
agosto de 1974, por ação de um decreto governamental, a empresa de
projetos Iujnoe (KB Iujnoe), em Dnepropetrovsk, que criava mísseis
balísticos intercontinentais, ficou encarregada da construção de tal
sistema.
A base de trabalho era o míssil
UR-100UTTH, conhecido na classificação da Otan como Spanker. Os testes
de voo começaram em 1979 e o primeiro lançamento com transmissor foi
realizado com sucesso em dezembro do mesmo ano. As provas confirmaram a
interação de todos os componentes do sistema Perímetr, bem como a
capacidade da ogiva de manter a trajetória pré-definida.
Em novembro de 1984, o míssil de
comando lançado de Polotsk transmitiu a ordem ao dispositivo de
lançamento no silo subterrâneo de mísseis balísticos RS-20 (SS -18
Satan), em Baikonur. O Satan foi lançado e, depois de trabalhadas todas
as fases, foi registrado a queda da ogiva em um determinado quadrado no
campo de teste Kura, em Kamtchatka.
Antena receptora do sinal do míssil de comando.
No ano seguinte, o Perímetr foi
incorporado ao serviço do Exército. Desde então, foi modificado várias
vezes e, atualmente, os modernos mísseis balísticos intercontinentais
são usados como mísseis de comando.
Carregamento em silo de míssil ICBM 5 ª geração PT 2PM2 “Topol-M”
Quatro verificações
A base do sistema são os mísseis
balísticos de comando. Eles não são lançados contra o agressor, mas
antes sobrevoam várias regiões da Rússia e, em vez de cargas
termonucleares, suas ogivas transportam poderosos emissores que enviam
sinais de controle a todos os sistemas de mísseis de combate
disponíveis, instalados em silos, aviões, submarinos e outros sistemas
móveis com base em terra. O sistema é totalmente automatizado.
A decisão de lançar os mísseis de
comando é feita por um sistema autônomo de controle – um complexo
sistema de inteligência artificial que analisa os variados dados
recebidos: a atividade sísmica e radioativa, a pressão atmosférica, a
intensidade do tráfego de sinais de rádio das frequências de rádio
militares, além de controlar a telemetria a partir dos postos de
monitoramento das RVSN e os dados do sistema de alerta de mísseis.
Conjunto de sensores ao lado do silo
Ao detectar, por exemplo, várias
fontes pontuais de radiação eletromagnética e ionizante, e depois de as
comparar com os dados sobre abalos sísmicos daquelas mesmas coordenadas,
o sistema identifica a possível existência de um ataque nuclear em
grande escala. Nesse caso, o Perímetr pode iniciar uma retaliação, mesmo
passando ao lado do Kazbek.
Outra variante é que, ao receber do
Sistema de Aviso de Ataque de Mísseis (SAAM), a informação de um
lançamento de mísseis efetuado em território fora das suas fronteiras,
os dirigentes do país colocam o Perímetr em “modo de combate”. Se
passado algum tempo não chegar a ordem de desligamento do sinal de
alerta, o sistema dará início ao lançamento dos mísseis. Essa solução
permite eliminar o fator humano e assegurar um contra-ataque, mesmo em
caso de morte de todos os comandantes políticos e militares ou de
destruição completa dos dados de lançamento.
Em tempos de paz, o Perímetr fica
“adormecido”, sem deixar, no entanto, de analisar e processar as
informações recebidas. Ao passar para o modo de combate ou ao receber o
sinal de alarme do SAAM, do RVSN e de outros sistemas, ele ativa o
monitoramento da rede de transmissores para detectar sinais de explosões
nucleares.
A liderança da Federação Russa já
por várias vezes assegurou aos Estados estrangeiros a inexistência de
risco de lançamento acidental ou não autorizado de mísseis. Antes de
executar o algoritmo de retaliação, o Perímetr deve cumprir quatro
condições. Primeiramente, a existência comprovada de um ataque nuclear
contra a Rússia. Em seguida checa a existência de comunicação com o
Estado-Maior – em caso de ligação o sistema é desligado. Se o
Estado-Maior não responder, o Perímetr envia um pedido para o Kazbek. Se
o Kazbek também não responder, a inteligência artificial transmite o
direito de tomar a decisão para qualquer pessoa que se encontre no
bunker de comando. E só depois disso é que entra em ação.
Publicado originalmente pela Rossiyskaya Gazeta
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