O chefe do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da
Ucrânia, Andriy Parubiy, revelou nesta quarta-feira que o país está
fazendo planos para retirar seus soldados e suas famílias da Crimeia, a
península no sul do país que recentemente votou por passar a integrar a
federação Russa.

Forças subordinadas à Rússia invadiram o quartel-general da marinha
ucraniana em Sevastopol. Autoridades da Ucrânia afirmaram que o
comandante da instalação, Serhiy Hayduk. foi levado pelos invasores e é
mantido sob custódia.
Kiev deu um ultimato à Rússia para libertá-lo em um prazo de três horas.
Bases
Segundo testemunhas, colunas de militares ucranianos foram vistos saindo da unidade militar levando seus pertences.
Contudo, uma fonte que está dentro da base disse
à BBC pode telefone que cerca de cem militares ucranianos fizeram
barricadas e tentaram ressitir. Até o início da tarde desta quarta-feira
não havia registro de mortos ou feridos na ação.
Outra base naval ucraniana no oeste da península da Crimeia, Novoozerne, também foi tomada por forças ligadas à Rússia.
O governo de Kiev diz que dois de seus ministros foram impedidos de entrar na Crimeia para negociar.
Na terça-feira, líderes da Crimeia assinaram um tratado com Moscou para que a península seja absorvida pela Rússia.
Exercícios militares
Em novos desdobramentos da crise, a Ucrânia
anunciou que deixará a Comunidade dos Estados Independentes, uma aliança
de países liderada pela Rússia.
A Ucrânia também informou que fará exercícios
militares conjuntamente com os Estados Unidos e o Reino Unido. Junto com
a Rússia, os dois países são signatários de um acordo de 1994 que prevê
a defesa da integridade territorial ucraniana. A Ucrânia acusa a Rússia
de quebrar o acordo ao anexar a Crimeia.
Na Moldávia, o presidente Nicolae Timofti fez um apelo à União Europeia para acelerar o processo de união do país ao bloco.
No dia anterior, ele havia alertado a Rússia
para não tentar anexar a região da Transnístria, onde políticos e
ativistas pediram que o parlamento russo criasse uma lei que permitisse
sua entrada na Federação Russa.
Enquanto isso, a Rússia disse que aplicará as mesmas sanções impostas a autoridades russas e ucranianas pelos Estados Unidos.
O ministro de Relações Exteriores interino da
Rússia, Sergey Ryabkov, disse à agência de notícias Interfax que as
medidas podem não ser limitadas a indivíduos, como fizeram os
americanos.
“Consideramos várias opções. Podemos fazer
listas de autoridades, não só do governo, mas também de outros setores
da sociedade. Não tenho dúvidas que haverá uma resposta”, disse Ryabkov.
Caminho obscuro
Ainda nesta quarta-feira, o vice-presidente
americano Joe Biden assegurou a líderes do Leste Europeu que os Estados
Unidos protegerá seus países de qualquer agressão russa.
Entre hoje e amanhã, o vice-presidente americano
Joe Biden fará encontros com lideranças do governo da Polônia, Estônia,
Lituânia e Latvia.
“A Rússia ofereceu vários argumentos para
justificar o que nada mais do uma tomada de território, mas o mundo já
rejeitou esses argumentos”, afirmou Biden. “Se continuar nesse caminho
obscuro, o país ficará cada vez mais isolado”
Para amanhã, é esperado a chegada do
secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, à região. Ele se encontrará com o
presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou na quinta-feira.
Será a primeira tentativa de diálogo direto com Putin desde o referendo que aprovou a anexação da Crimeia pela Rússia.
No dia seguinte, estará em Kiev para se reunir
com os líderes interinos do país, presidente Olexsandr Turchynov e o
primeiro-ministro Arseniy Yatsenyuk.
Da BBC
Forças pró-Rússia ocuparam nesta quarta-feira duas bases da Marinha
ucraniana na Crimeia, consolidando seu controle sobre a província,
enquanto as tropas da Ucrânia anunciavam sua retirada do enclave sobre o
Mar Negro.
As milícias pró-Moscou ocuparam ao menos duas bases ucranianas na
Crimeia e capturaram o contra-almirante Serguii Gaiduk, chefe da
Marinha, durante a tomada do comando da força em Sebastopol.
Segundo a agência de notícias local Kryminform, Gaiduk foi conduzido à
sede da procuradoria para interrogatório sobre a ordem enviada por Kiev
autorizando os soldados ucranianos a utilizar suas armas.
As forças pró-Rússia na Crimeia também ocuparam a base Sul da Marinha
ucraniana em Novoozerne, oeste da península, após derrubar o portão com
um trator, informou o ministério ucraniano da Defesa.
O subcomandante da base declarou à AFP por telefone que homens das
milícias entraram no edifício primeiro, seguidos por um grupo de
mulheres e crianças. Os soldados russos chegaram depois.
Kiev reagiu dando um prazo de três horas para que as autoridades da
Crimeia libertem Gaiduk, decidiu estabelecer a obrigação de visto para
os cidadãos russos e abandonou a Comunidade dos Estados Independentes
(CEI), que reúne 11 ex-repúblicas soviéticas.
O presidente ucraniano interino, Olexander Turchynov, "deu ao poder
autoproclamado da Crimeia três horas para libertar todos os reféns",
entre eles, o almirante Serguii Gaiduk, e ameaçou adotar "medidas
adequadas" de represálias.
São "reféns militares e civis", destacou Kiev, sem especificar seu
número, ou sua identidade. As bases militares ucranianas na Crimeia
estavam cercadas há várias semanas pelas forças russas e pró-Moscou.
Paralelamente, a Ucrânia prepara um plano para a retirada dos
militares e de seus familiares, anunciou o secretário do Conselho de
Segurança Nacional e da Defesa, Andrii Parubii.
Foi Parubii que anunciou que o Ministério das Relações Exteriores
ficou encarregado de introduzir um regime de vistos com a Rússia e que a
Ucrânia iniciou o processo para saída da CEI.
Essa medida tem uma importância principalmente simbólica, mas também
significa que a Ucrânia, um grande país industrial e agrícola, tenta se
distanciar ainda mais da zona de influência russa.
- Obama descarta ação militar -
O presidente americano, Barack Obama, descartou nesta quarta-feira
qualquer ação militar na Ucrânia, e defendeu uma sólida frente
diplomática para discutir a crise com a Rússia.
"Não vamos realizar uma incursão militar na Ucrânia", garantiu Obama
em entrevista à rede de televisão NBC News. "Os próprios ucranianos
reconhecem que enfrentar a Rússia por meios militares não seria
apropriado ou benéfico".
"O que faremos é mobilizar todos os nossos recursos diplomáticos para
garantir que haja uma coordenação internacional forte que envie uma
mensagem clara" à Rússia.

Já a embaixadora americana junto à ONU, Samantha Power, advertiu que o
que ocorreu na Crimeia "não pode se repetir em outras partes da
Ucrânia", afirmando que Washington está pronto para adotar medidas
adicionais em caso de nova agressão ao território ucraniano.
"Um ladrão pode roubar algo, mas isto não confere o direito de
propriedade ao ladrão. O que a Rússia fez foi um erro em matéria de
direito, errado em matéria de história, um erro perigoso em matéria de
política", disse Power.
O embaixador russo, Vitaly Churkin, reagiu à declaração afirmando que
os "insultos dirigidos a seu país são inaceitáveis". "A senhora Power
deve entender isto caso a delegação dos Estados Unidos deseje nossa
cooperação em outros temas no Conselho de Segurança".
Churkin afirmou que o referendo realizado no domingo - que decidiu
pela anexação à Rússia - foi "a expressão da liberdade do povo da
Crimeia", e voltou a acusar Kiev e os países do ocidente pela atual
crise.
Na terça-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, assinou um
tratado histórico com as autoridades separatistas, anexando a península à
Rússia. O Tribunal Constitucional russo validou por unanimidade o
tratado de anexação.
O G7, cujos líderes se reunirão na segunda-feira em Haia, tentam
chegar a um acordo sobre uma resposta de impacto às ações da Rússia, mas
descartando sanções econômicas que possam afetar seus próprios
interesses.
Nesse sentido, deverão discutir a "expulsão permanente da Rússia" do G8, segundo o primeiro-ministro britânico, David Cameron.
"Acredito que temos de discutir se expulsaremos, ou não,
permanentemente a Rússia do G8, caso ela tome mais medidas" que promovam
uma escalada na Ucrânia, disse Cameron no Parlamento britânico.
Segundo Downing Street, Cameron conversou por telefone sobre a
Ucrânia com a chanceler alemã, Angela Merkel. Ambos concordaram que a
"União Europeia deve tomar outras medidas contra a Rússia", além das já
anunciadas.
A passagem da Crimeia para o controle da Rússia, já ilustrada pela
chegada do rublo e pela "nacionalização" de companhias públicas
ucranianas, começa a impactar a economia da península.
O maior banco ucraniano, o PrivatBank, anunciou o fim de todas as
suas atividades na Crimeia, "em razão da incerteza sobre o status
jurídico do sistema bancário da península".
Todas as agências permaneceram fechadas nesta quarta-feira, e
multidões se aglomeravam em frente a outros estabelecimentos da região
que haviam adotado, na véspera, o rublo como moeda oficial.
Do EM
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