O Irã comemorou na quarta-feira passada o
36o aniversário da revolução do aiatolá Khomeini sob a sombra das
negociações nucleares com o Ocidente. Depois delas, há muito mais por
trás do que um compromisso sobre as capacidades atômicas da República
Islâmica. O que está em jogo é a própria essência desse regime, que tem o
antiamericanismo como um de seus pilares. É por isso que, diante da
eventualidade de um acordo com os Estados Unidos e as demais potências,
as tensões políticas estão aumentando. Os conservadores, que controlam o
Parlamento, intuem que um acordo nuclear, e a consequente abertura do
país, favoreceriam o Governo de Hassan Rohani e os reformistas nas
eleições legislativas do ano que vem.
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“O passeio com o secretário de Estado norte-americano e sua visita à França depois que o jornal Charlie Hebdo
insultou várias vezes o profeta não são dignos do ministro das Relações
Exteriores do Irã”, atacam os parlamentares. Zarif abordou a situação
das negociações nucleares com seu colega francês, Laurent Fabius, em
plenos protestos no mundo islâmico devido à publicação das charges sobre
Maomé. Zarif e Kerry voltaram a se reunir no fim de semana passado na Conferência de Segurança de Munique.
As vozes descontentes não são ouvidas só
no Parlamento iraniano. O general Mohammad Reza Naghdi, chefe da
milícia Basij (voluntários islâmicos) e representante dos setores mais
conservadores, considera “imperdoável viajar à França enquanto o
presidente francês tem na mão a caricatura do profeta e mostra para todo
o mundo”.
O passeio com Kerry em Genebra e a
viagem à França se tornaram o último pretexto para tentar minar as
negociações nucleares. Os conservadores acusam o chefe da equipe
negociadora iraniana de violar os valores revolucionários e de não levar
em conta os interesses nacionais.
No entanto, Zarif conta com a plena confiança do presidente Rohani, que
recentemente qualificou seus críticos de “torcidas que aplaudem a
equipe contrária”.
“É muito irrefletido considerar o
passeio de Zarif com Kerry como um sinal de fraqueza diplomática. Alguns
recorrem a essas táticas ao ver que as negociações vão por bom
caminho”, defendeu o vice-presidente e porta-voz do Governo, Mohammad
Bagher Nobakht. O próprio Zarif atribuiu as críticas dentro e fora do
país a quem “se opõe à queda das sanções, porque acreditam que
contrariam seus interesses”.
A discussão entre a Câmara e o Governo
até motivou a intervenção do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. Em
sua página oficial na internet, ele voltou a publicar passagens de um
discurso que pronunciou em janeiro passado sobre uma foto do controverso
passeio de Zarif com Kerry.
“Eu não sou contra as negociações; que
os negociadores negociem o quanto quiserem. Considero que é preciso
depositar as esperanças nos pontos promissores, não em aspectos
imaginários; isso é o que está faltando”, afirma a autoridade máxima do
Irã. Apesar de Khamenei também reiterar sua desconfiança em relação aos
Estados Unidos, porque se recusa a retirar todas as sanções de uma vez, o
elogio ao ministro das Relações Exteriores não deixa de ser
significativo.
Fonte: El País - Via Plano Brasil
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