O primeiro míssil brasileiro de cruzeiro, o MTC-300, com 300 km de
alcance e precisão na escala de 50 metros, entra na fase final de
desenvolvimento esse ano, com a retomada dos voos de teste. As primeiras
entregas para o Exército estão previstas para 2020 - encomenda inicial
de 100 unidades, definida em 2016, está sendo negociada e será entregue
em lotes sequenciais até 2023. O investimento no programa é estimado em
R$ 2,45 bilhões.
O míssil é o vetor mais sofisticado do
desenvolvimento do Astros 2020, a sexta geração de um sistema lançador
múltiplo de foguetes de artilharia criado há cerca de 35 anos pela
empresa Avibras, de São José dos Campos. O Programa Estratégico Astros
2020 cobre a compra e a modernização de uma frota de 67 carretas
lançadoras e de veículos de apoio, a pesquisa do MTC-300 e também a de
um novo foguete guiado, o SS40G, de 45 km de raio de ação. No pacote
entra a instalação do Forte Santa Bárbara, em Formosa (GO), sede do
grupo, que já opera 53 viaturas da versão 2020.
"O míssil
expande a capacidade de dissuasão do País e confere ao Exército apoio de
fogo de longo alcance com elevados índices de precisão e letalidade
porém com mínimos danos colaterais", analisa um oficial da Força ligado
ao empreendimento. É um recurso empregado para missões de destruição de
infraestrutura, como uma central geradora de energia ou um complexo
industrial. A cabeça de guerra de 200 kg de explosivos é significativa.
"Com duas delas é possível comprometer o funcionamento de uma refinaria
de petróleo de grande porte", considera o engenheiro militar.
A configuração do MTC 300 é o resultado de 13 anos de
aperfeiçoamento. O desenho é moderno, compacto, e utiliza asas retráteis
que se abrem depois do disparo partir do casulo transportado por uma
carreta. O motor de aceleração usa combustível sólido e só é ativado no
lançamento. Até agora foram realizados 16 voos de ensaio. Há ao menos
mais quatro em fase de agendamento antes do começo da produção de
pré-série.
Durante o voo de cruzeiro, subsônico, o míssil tem o
comportamento de uma pequena aeronave - a propulsão é feita por uma
turbina desenvolvida também pela Avibrás. Ela foi construída para durar
40 horas, dez vezes mais que as quatro horas do tempo máximo de uma
missão de ataque. A navegação é feita por uma combinação de caixa
inercial e GPS. O míssil faz acompanhamento do terreno com um sensor
ótico-eletrônico, corrigindo o curso em conformidade com as coordenadas
armazenadas a bordo.
A arma está no limite
do Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis, o MTCR, do qual o
Brasil é signatário. O acordo restringe o raio de ação máximo a 300
quilômetros e as ogivas a 500 quilos. O MTC-300 está dentro da distância
fixada e atua com folga no peso, sustenta o presidente da Avibras, João
Brasil de Carvalho Leite.
O míssil ainda não tem o radar
necessário para buscar alvos móveis. O recurso permitiria realizar por
exemplo, um disparo múltiplo contra uma frota naval, liderada por um
porta-aviões, navegando a até 300 quilômetros do litoral - no caso do
Brasil, eventualmente ameaçando províncias petrolíferas em alto-mar. Uma
bateria do sistema é composta por seis carretas lançadora com suporte
de apoio de viaturas remuniciadoras, um blindado de comando, um
carro-radar de tiro, um veículo-estação meteorológica, um de manutenção
e, quando houver uso do míssil, um de preparo de combate.
O MTC
300 é disparado por rampas duplas - cada carreta levará quatro unidades.
O Astros 2020 completo pode utilizar quatro diferentes tipos de
foguetes. O modelo SS-30 atua em salvas de 32 unidades e o SS-40, de 16.
Os maiores, SS-60 (70 km de alcance) e SS-80 (cerca de 90 km), de três
em três. O grupo se desloca a 100 km/hora em estrada preparada e precisa
de apenas 15 minutos de preparação antes do lançamento. Cumprida a
missão, deixa o local deslocando-se para outro ponto da ação, antes que
possa ser detectado.
O mercado internacional para o produto é
amplo. Uma prospecção feita há dois anos pela Avibras entre países
clientes, operadores das versões mais antigas do sistema de foguetes -
Arábia Saudita, Malásia, Indonésia e Catar, além de três novos
interessados, não identificados - indicou um potencial de negócios entre
US$ 2,5 bilhões e US$ 3,5 bilhões a serem definidos até 2025. A
empresa, que atravessou uma séria crise até 2015, quando registrou
receita bruta de R$ 1,1 bilhão, cresceu 20% em 2017, obtendo receita
líquida de R$ 1,7 bilhões.
Do jornal "O Estado de S. Paulo" - Via BOL
0 Comentários