18 de Abril de 1943. Protegidos por uma meia dúzia de caças Zero, dois bombardeiros Mitsubishi G4M Betty japoneses preparavam-se para aterrar no aeródromo de Kahili, que se situa na extremidade meridional da ilha de Bougainville (mapa abaixo), quando, subitamente e surgidos de sudoeste e a rasar o mar para escapar à detecção, surge uma esquadrilha de 16 P-38 Lightning norte-americanos.
Descartando os Zeros e
aproveitando-se da superioridade numérica, os atacantes concentram-se
nos aviões maiores e abatem-nos em sucessão sobre a selva que cobre a
ilha. Apenas mais um episódio das centenas que ocorrerão naquele dia no
quadro da Frente do Pacífico da Segunda Guerra Mundial então em curso?
Não, porque a bordo de um dos bombardeiros abatidos viajava o almirante Isoroku Yamamoto
que morrera na queda do aparelho que o transportava.
E não, porque,
como anos depois se virá a saber, a presença dos aviões americanos
naquele local e àquela hora (09H35) não fora acidental. Desde há vários
anos que os americanos conseguiam decifrar os códigos japoneses. E, no
princípio daquele mês, os serviços de intercepção haviam descoberto que
Yamamoto iria realizar uma visita de inspecção às forças aeronavais
japonesas nas ilhas Salomão.
A incúria japonesa chegara ao ponto de transmitir o programa da visita
de Yamamoto em mensagem rádio e os americanos ficaram a saber o programa
tão bem quanto os comandos japoneses encarregues de receber Yamamoto.
Não só sabiam como dispunham dos meios militares para tirar partido da ocasião. A questão que se poria, ao almirante Halsey ou ao almirante Nimitz,
homólogos de Yamamoto na marinha adversária, era um problema de ordem
moral: Seria aceitável utilizar aquela vantagem para liquidar um grande
chefe inimigo? A decisão não poderia dar lugar a novos expedientes de
guerra, visando liquidar seleccionadamente as chefias militares
inimigas? E a decisão não poderia, terminada a guerra e com outro quadro
moral, voltar-se contra os próprios decisores? Nimitz consultou o seu staff
que se inclinou para a validade da operação.
Apesar de se conhecer a
sua oposição estratégica a um enfrentamento militar directo com os
Estados Unidos, fora Yamamoto quem concebera o plano de ataque inicial
contra Pearl Harbor e nem a derrota de Midway ou o mais recente abandono
de Guadalcanal o desvalorizara aos olhos dos americanos a ponto de
deixarem de o considerar um dos principais activos do inimigo.
Ironicamente, este respeito profissional por Yamamoto vai ser a causa
desta espécie de sentença de morte. Na fotografia abaixo, vê-se Yamamoto nesse mesmo dia de há 75 anos a cumprimentar os pilotos da base aeronaval de Rabaul, naquela que se acredita ser a sua última fotografia. A operação, denominada Vingança,
foi mantida em segredo até ao fim da guerra, preservando o segredo de
que os norte-americanos haviam quebrado os códigos japoneses.
Esta questão ética de seleccionar, mesmo em guerra, os alvos a abater entre o inimigo, como o fazem, por exemplo, os snipers (franco-atiradores),
é uma questão a que voltaremos depois de amanhã, por ocasião de uma
outra efeméride de há 48 anos que diz mais respeito aos portugueses.
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