Reunião realizada nesta quinta (19) em Brasília avançou na solução de
entraves à parceria entre a Boeing e a Embraer, mas identificou novos
problemas que podem emperrar sua finalização.
O grupo de trabalho do governo ficou satisfeito com o
encaminhamento da última versão da proposta da gigante americana e da
fabricante brasileira, mas a questão da composição do conselho da nova
empresa a ser criada por elas está espinhosa.
O negócio poderá ser anunciado em breve, caso o obstáculo seja
removido. A discussão é sobre a presença de brasileiros no colegiado.
Pela proposta, será criada uma nova empresa, com controle da Boeing e
participação minoritária da Embraer. Os percentuais ainda estão sendo
discutidos, mas os americanos deverão ter entre 80% e 90% da companhia.
O grande nó para o governo brasileiro,
que tem poder de veto sobre negócios da empresa remanescente de sua
privatização em 1994, era a área de defesa. A Embraer reterá ela e
talvez o setor de aviação executiva, e havia temor sobre como ela
sobreviveria sem receitas da divisão regional.
Está indicado na proposta que a nova empresa destinará recursos para a
"velha" Embraer, que terá como principal cliente estratégico a Força
Aérea Brasileira —com programas como o do novo caça do país, o sueco Gripen, e o do cargueiro KC-390.
Este último produto, considerado com grande potencial de exportação,
hoje tem seu marketing externo a cargo da Boeing. Com o eventual acordo,
ele deverá ter vendas promovidas pelos americanos, o que potencializa
sua penetração dada a capilaridade dos americanos.
Hoje, a aviação regional responde por 42% das receitas líquidas da
empresa, contra 15% do setor militar e 25%, da aviação executiva.
De seu lado, se o acerto sair, a Boeing absorve a linha de produção
mais bem-sucedida da Embraer, que hoje está na segunda geração dos
chamados E-Jets. É uma forma de fazer frente à sua rival europeia, a
Airbus, que no ano passado comprou o controle de área semelhante da
canadense Bombardier —por sua vez, adversária histórica da fabricante
brasileira nesse nicho de mercado.
Além disso, os americanos terão acesso à mão-de-obra brasileira na
área de engenharia, considerada de alta qualidade e vital para acelerar
projetos hoje algo estagnados, como a criação do substituto do
Boeing-757.
Já a Embraer entra em uma das duas grandes cadeias do mercado
aeronáutico, que é dividido entre Boeing e Airbus. Outros atores, como a
chinesa Comac, a russa UAC, fabricantes indianos e japoneses estão
ainda engatinhando globalmente.
O negócio, o maior do gênero no Brasil se concretizado, ainda não tem
números definidos. A Boeing é uma empresa que fatura US$ 90 bilhões ao
ano, empregando 100 mil pessoas, contra US$ 6 bilhões e 19 mil
funcionários da Embraer.
Ele começou a ser aventado em dezembro passado, quando vazou na imprensa americana a intenção da Boeing de comprar toda a Embraer. A reação inicial
do presidente Michel Temer (MDB), aconselhado pela área militar das
implicações estratégicas da perda de controle sobre a área de defesa da
Embraer, foi a de dizer que não permitiria a perda de controle nacional
da empresa.
Mas Temer não se opôs à negociação. Ordenou a formação de um grupo
técnico para negociar os termos, e depois de idas e vindas chegou-se ao
formato final em discussão.
Boeing, Embraer e governo não comentaram o caso nesta quinta.
Da Folha
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