Depois de meses de negociação, a Embraer deu os primeiros indícios de
qual será o modelo de negócio adotado na parceria com a Boeing. A
companhia brasileira afirmou em comunicado ao mercado que a
possibilidade em estudo é a criação de uma joint venture (terceira
empresa) que ficaria responsável por toda a área de aviação comercial da
Embraer. Essa joint venture, porém, teria o controle majoritário da
Boeing, segundo especulações de mercado. Com isso, restaria à Embraer
exclusivamente as áreas de defesa e aviação executiva, além de uma
participação minoritária na nova empresa de aviação comercial.
A grande questão é saber como ficará a situação financeira da Embraer
após o acordo. A área de aviação comercial, que passaria para o
controle da Boeing, é responsável por mais da metade do faturamento da
brasileira e responde por grande parte do lucro operacional. Nos últimos
cincos anos (2013-2017), a aviação comercial respondeu por em torno de
85% do lucro operacional da Embraer e chegou a representar até 57,7% do
faturamento da empresa no ano de 2017.
As áreas de defesa e aviação executiva, que devem ficar
exclusivamente com a Embraer, viveram um período mais instável
principalmente nos três anos últimos anos, quando representaram, juntas,
menos de 45% do faturamento da Embraer. Em 2017, por exemplo, a área de
defesa e segurança foi responsável por 16,3% da receita e a de aviação
executiva, 25,6%. Além disso, a área de defesa chegou a operar no
vermelho em 2015, enquanto a executiva responde apenas por uma parcela
pequena no lucro operacional da companhia.
Embraer negocia sua sustentabilidade financeira
Para garantir a sustentabilidade financeira de Embraer após o acordo,
os principais pontos em negociação são: qual será o prêmio que a
fabricante brasileira vai receber pela criação da joint venture, já que
vai disponibilizar toda a sua lucrativa área comercial no acordo; qual
será o montante que a Boeing vai aportar no novo negócio; e qual será o
percentual de participação da Embraer da joint venture.
Além dessas pautas, outras negociações que também vão afetar o futuro
da nova Embraer são sobre como será feita a transferência de tecnologia
entre as empresas e quantos e quais profissionais da Embraer vão
trabalhar na joint venture.
Segundo apurou a reportagem do jornal Valor Econômico, a
Boeing queria ter 90% da joint venture, mas o governo brasileiro (que
tem uma ação especial, chamada golden share, que lhe dá direito a vetar a
negociação) quer pelo menos 20% de participação mais assentos no
conselho. Esse percentual defendido pelo governo, segundo o Valor,
seria o necessário nos cálculos das autoridades para garantir dinheiro
suficiente para sustentar a área de defesa da Embraer, quando
necessário.
“O setor de defesa é quem desenvolve as novas tecnologias que depois
são aplicadas na aviação comercial. Em todo o setor [de aviação] é
assim: os setores aeroespacial e de defesa geram as novidades para toda a
aviação. Por isso, o que não se pode faltar são recursos na área de
defesa”, afirma o engenheiro aeronáutico e presidente da Vinci
Aeronáutica, Shailon Ian. “Isso [os recursos para a defesa] vai depender
muito também do governo brasileiro, do andamento das compras do caça
KC-390 [o novo avião cargueiro da Embraer que chega ao mercado no 4.º
trimestre] e das futuras licitações que a Embraer venha a ganhar outros
países”, completa o especialista.
A Embraer encerrou o ano de 2017 com uma carteira de pedidos a
entregar na área de defesa e segurança de US$ 4,2 bilhões. Os principais
aviões da empresa na área são o KC-390 e o A-29 Super Tucano. A
expectativa é que a área responda por 15% da receita líquida da
companhia em 2018. Já na área de aviação executiva, a Embraer tinha, no
fim de 2017, US$ 777 milhões em pedidos. A companhia acredita que a área
vai responder por 25% da receita em 2018.
Do GP
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