Nos últimos tempos, muitas "teorias de conspiração" ganharam fama pelo
mundo, envolvendo, por exemplo, o atentado contra o World Trade Center e
o Pentágono, o atentado de Lockerbie, a morte da Princesa Diana, e
muitos outros mais. Mas é interessante conhecer uma dessas teorias que
envolve o ex-Presidente do Brasil e Marechal Humberto de Alencar
Castello Branco (foto abaixo).
Segundo
a versão oficial dos fatos, o Marechal Castello Branco faleceu em um
acidente aeronáutico, em uma aeronave do Governo do Estado do Ceará, um
Piper Aztec (foto abaixo) matriculado PP-ETT, no dia 18 de julho de
1967. A aeronave que conduzia o ex-Presidente foi atingida na cauda pela
ponta da asa de um caça da Força Aérea Brasileira, um Lockheed TF-33,
perdendo a deriva. Depois de entrar em parafuso chato, o avião chocou-se
com o solo e todas as pessoas a bordo morreram, com exceção do
co-piloto.
Na
manhã de 18 de julho, Castello Branco saiu do sítio da escritora Rachel
de Queiroz, sua amiga, e decolou de Quixadá para Fortaleza a bordo do
Aztec cedido pelo Governo do Ceará. Estavam a bordo do bimotor a
escritora Alba Frota, o major Manuel Nepomuceno, o irmão do Marechal,
Cândido Castello Branco, o comandante Celso Tinoco Chagas e o co-piloto
Emílio Celso Chagas, filho do comandante.
Desenho do TF-33 que abalroou o avião de Castello Branco |
O tempo estava bom, visibilidade praticamente ilimitada e nebulosidade
insignificante. O Aztec decolou do sítio de Rachel de Queiroz às 9 horas
da manhã e voou em cruzeiro no nível de voo visual 055 (cinco mil e
quinhentos pés). Trinta minutos depois, já durante a descida para
Fortaleza, um jato de caça da FAB, um TF-33 - FAB 4325, atingiu a deriva
do Aztec, decepando-a. O jato perdeu o tanque da ponta da asa, que
curiosamente estava vazio, mas conseguiu retornar em segurança para sua
base. O Aztec, entretanto, perdeu o controle direcional e entrou em
parafuso chato, chocando-se com o solo de barriga, matando 5 das 6
pessoas a bordo, salvando-se o co-piloto Emílio Celso Chagas, que ficou,
entretanto, bastante ferido.
O Aztec acidentado: houve apenas um sobrevivente |
Na ocasião do acidente, houve uma investigação, que concluiu que o
choque foi acidental, que ambas as aeronaves estavam em um mesmo
"corredor" em direção à Fortaleza, e que teria havido, possivelmente,
falha do controle de tráfego aéreo. E ficou por isso mesmo, já que o
Governo Federal, naquela época, controlava tudo com "mão de ferro",
censurando a imprensa e calando a oposição.
Embora a presença de caças nos céus do Ceará fossem comuns entre 1947 e
2002, o tráfego civil era respeitado e os jatos mantinham separação
visual dos mesmos, como acontece até hoje. Mas o bimotor que levava
Castello Branco foi atingido na deriva com uma precisão "cirúrgica", com
poucos danos ao caça. As condições de visibilidade eram excelentes,
dando condições ao piloto do caça, o Tenente Alfredo Malan d'Dangrogne,
de avistar perfeitamente o tráfego à sua frente. Mesmo assim, ocorreu a
colisão, o que despertou a suspeita, anos depois, de que não se tratava
de um acidente, e sim de um atentado.
Se se tratava realmente de um atentado, qual teria sido o motivo e a
quem interessaria a morte do ex-Presidente? Sobre isso não restam
dúvidas, pois motivos não faltam. Castello Branco tinha deixado a
presidência apenas 3 meses antes, passando o poder para o Marechal
Arthur da Costa e Silva, representante da "linha dura" do Exército.
Na verdade, Castello Branco era um moderado, que assumiu o governo em um
momento muito conturbado da política brasileira. Sua verdadeira
intenção era devolver o governo aos civis assim que a crise que o
conduziu ao poder tivesse acabado. Isso ia contra os interesses de
outros generais, que tencionavam se manter no poder sob a alegação de
manter a paz e e ordem pública e manter os comunistas e a esquerda
"radical" longe do governo.
O mausoléu do Presidente Castello Branco, em Fortaleza/CE |
Mesmo fora do governo, o Marechal Castello Branco tinha uma considerável
influência no Exército Brasileiro, por ser um herói de guerra e por ter
mantido a ordem pública em uma fase crítica da política brasileira. Em
resumo, a presença de Castello Branco incomodava, e muito, os generais
da "linha dura" que pretendiam se perpetuar no poder. E não haveria
outro meio de meio desses generais se verem livres dele, senão
matando-o.
Castello Branco e os generais da "linha dura" que o sucederam, Arthur da Costa e Silva e Emilio Garrastazu Médici (da esquerda para a direita) |
Durante muitos anos, o co-piloto do Aztec, Emílio Chagas, acreditou na
versão oficial de acidente, inclusive se encontrando com o piloto do
caça que atingiu seu avião. Mas depois, passou a questionar o fato,
evitando porém comprometer o piloto da FAB, já que o mesmo era ala de
outro oficial, o Tenente Areal.
A
operação de resgate das vítimas do acidente foi desastrosa: os oficiais
e soldados da aeronáutica destroçaram o avião a machadadas e carregaram
as vítimas nas costas, sem qualquer técnica. Como estas tinham danos na
coluna vertebral pela posição de impacto, isso pode ter colaborado para
agravar seus ferimentos.
O Aztec PP-ETT parcialmente restaurado e sem a deriva, preservado em Fortaleza |
O avião acidentado foi reconstruído e parcialmente restaurado, e
encontra-se hoje no quartel do 23º Batalhão de Caçadores, em Fortaleza,
no Ceará. A deriva arrancada pelo caça jamais foi encontrada. O caça
também foi preservado e encontra-se hoje na Base Aérea de Fortaleza,
como monumento, ao lado do prédio do Comando da Base.
O FAB 4325 também foi restaurado e preservado (Foto: Escuta Aérea Fortaleza) |
1 Comentários