Comentamos por aqui sobre a disputa judicial
envolvendo o satélite brasileiro de banda larga. A Telebras fechou
acordo exclusivo para a americana Viasat explorar o SGDC (Satélite
Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas), e o provedor Via
Direta acredita que foi prejudicado com isso.
O
acordo entre Telebras e Viasat é tão confidencial que, quando a Justiça
solicitou o contrato firmado entre as duas partes, ela recebeu um
documento com trechos cruciais omitidos por tarjas pretas.
Inicialmente,
a Justiça Federal estabeleceu multa de R$ 5 milhões à Telebras e Viasat
por não entregarem o contrato completo. Mas o TRF-1 (Tribunal Regional
Federal da 1ª Região) decidiu suspender a cobrança da multa até que o mérito da ação seja julgado.
Em comunicado, a estatal diz que “as condições do contrato
associativo que se encontram encobertas são aquelas que devem ser
preservadas por envolverem informações comerciais e estratégicas da
Telebras, protegidas por sigilo legal”.
O G1 obteve
uma cópia do contrato censurado e descobriu vários detalhes
reveladores. Basicamente, a estatal reduziu muitas de suas exigências ao
firmar acordo com a empresa americana.
A Telebras manteve aberto
um chamamento público para o satélite durante oito meses, até o final de
2017, mas não achou interessados. A Lei das Estatais prevê que, nesse
caso, ela poderia receber propostas privadas. Então, em fevereiro, ela
fechou acordo com a Viasat.
Edital vs. contrato
No edital de chamamento público, a
empresa deveria pagar 15% do valor do contrato logo após ser escolhida.
Enquanto isso, no acordo firmado com a Viasat, a Telebras é que deve
pagar à contratada — o valor exato foi censurado.
A estatal
explica que, dessa forma, a Viasat reduziu o “valor da contrapartida
relativa à manutenção dos pontos instalados para atendimento aos
clientes da Telebras”.
Além disso, no edital, a empresa contratada
teria que pagar o valor estipulado mesmo se ainda não tivesse clientes.
No caso da Viasat, ela só paga caso a operação gere receita.
O
edital exigia uma garantia correspondente a 20% do valor total do
contrato. No acordo com a Viasat, não existe essa cláusula. A Telebras
diz que isso não foi necessário por se tratar de “uma oportunidade de
negócios única e específica, com empresa singular e uma das maiores do
mundo”.
Por fim, o edital obrigava a empresa a usar, no mínimo,
25% da capacidade cedida do satélite em até três anos. Caso contrário,
ela teria que devolver a capacidade não-usada sem qualquer reembolso.
Enquanto isso, a Viasat pode devolver a capacidade não-usada sem ser
penalizada.
Disputa judicial
Além da Via Direta, o Sindisat (sindicato das empresas de telecomunicações
por satélite) e o SindiTelebrasil (sindicato de telecomunicações)
também entraram na Justiça. Eles alegam que algumas exigências mudaram
entre o edital público e o contrato privado.
Em abril, o Supremo Tribunal Federal (STF) manteve a suspensão do acordo entre Telebras e Viasat até que a queixa da Via Direta seja completamente julgada.
A
juíza Jaiza Maria Pinto Fraxe, do TRF-1, acredita que esse contrato
pode violar a soberania nacional. Ela diz que não há “nas leis e na
Constituição do país uma norma ou princípio que sustentasse a entrega da
exploração do único satélite de defesa estratégica a uma empresa
estrangeira”.
Telebras e Viasat dizem em comunicado que sua parceria “está totalmente de acordo com as leis brasileiras, protegendo a soberania do Brasil”.
O satélite de R$ 2,78 bilhões
deveria ser usado em programas como Internet para Todos e Educação
Conectada. Mas, com a disputa judicial, ele atende somente 0,1% das
localidades previstas. A Justiça ordenou que as antenas instaladas para
receber sinal do satélite sejam desativadas, sob multa diária de R$ 200
mil em caso de descumprimento.
Do Tecnoblog
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