Uma pesquisa publicada na conferência CRYPTO 2018 em Santa Barbara, no estado da Califórnia, pode gerar novos métodos de espionar alguém sem a necessidade de câmeras.
De acordo com os estudos de pesquisadores das universidades de Michigan, Pennsylvania, Cornell, Columbia e Tel Aviv, será possível monitorar todos os passos de uma pessoa usando apenas o microfone embutido no computador. Com o nome provisório de “Synesthesia”, esse tipo de invasão se utiliza de vazamentos acústicos das telas de LCD para definir o tipo conteúdo que está sendo acessado na máquina.
Essa tipo de invasão utilizaria a mesma base lógica das invasões do tipo Van Eck, só que, ao invés de captar a padrões de radiação eletromagnética emitido pelos componentes, o Synesthesia se preocupa em achar padrões nas emissões de áudio (os chamados coil whine) de transformadores e outros componentes eletrônicos utilizados para o funcionamento de uma tela LCD.


O método funciona por causa do modo que os computadores renderizam a tela (enviando sinais para cada pixel em cada linha com intensidades variadas para cada sub pixel), fazendo com que a energia enviada para cada um dos pixels sofra flutuação a cada atualização. Em contrapartida, essa variação em cada pixel também cria uma variação nas emissões sonoras da fonte responsável por gerar energia para esses pixels. E é essa variação nos sons da fonte que esse novo método de monitoramento é focado, utilizando algoritmos de machine learning para descobrir o que é que está sendo mostrado na tela naquele determinado momento.
Esse áudio pode ser captado de diferentes maneiras. De acordo com o estudo, foram feitos testes utilizando uma série de alternativas, como microfones internos da máquina; microfones conectados a uma câmera durante videoconferência pelo Skype, Google Hangouts ou outros aplicativos do gênero; através do microfone de um aparelho próximo à máquina, como um Google Home ou um Amazon Echo; pelo microfone de um smartphone próximo à máquina; ou com o uso de um microfone parabólico, que permite capturar as emissões de áudio da tela a até 10 metros de distância do computador que está sendo monitorado. Segundo o estudo, até aqueles microfones mais baratos, daqueles que se compra no comércio popular, podem captar com bastante competência os ruídos emitidos por uma tela LCD.
Essa não é a primeira vez que uma tecnologia sonora é utilizada para a espionagem eletrônica. Daniel Genkin e Eran Tromer, dois dos cientistas que participaram deste estudo, já demonstraram em outros projetos como era possível utilizar a captação de áudio para descobrir a chave de decriptação de senhas RCA. Além disso, agências de inteligência no mundo todo já utilizaram a captação de áudio por microfones escondidos para descobrir senhas em teclados de acesso numéricos.

Isso não quer dizer que logo as agências de inteligência conseguirão utilizar os smartphones de uma cidade para monitorá-la por inteiro — como acontece naquela cena de Batman: O Cavaleiro das Trevas. (acima)

Essa tecnologia ainda está nos estágios iniciais, e não existe nenhum algoritmo que dê conta da quantidade de informação necessária para uma operação do tipo. Mas, com a proliferação de smartphones em todos os cantos do planeta, as agências de segurança veem esse tipo de invasão como algo com muito potencial, pois alguém com esse conhecimento conseguira burlar praticamente todos os sistemas de proteção de informação disponíveis hoje.