Empresa de mercenários compra Super Tucano
Roberto Godoy
Fonte: Estadão
A companhia compradora é a EP Aviation, uma subsidiária da Blackwater. A transação teve de ser autorizada pela Presidência da República e negociada diretamente com o governo dos Estados Unidos. A legislação do Brasil proíbe o fornecimento de equipamentos militares para companhias e para uso em conflitos já existentes no momento da transação. O princípio é adotado desde os anos 80. Uma das destinações prováveis do turboélice Emb-314 é o preparo de pilotos em missões de ataque contra posições de insurgentes no Iraque.
Essa venda do Super Tucano é assunto sensível para todos os envolvidos. Nos Ministérios da Defesa e das Relações Exteriores, setores pelos quais o processo circulou, trata-se de tema a ser discutido ao abrigo da proteção das fontes. No Itamaraty, um veterano diplomata ouvido pelo Estado, pondera que a administração do presidente Lula está admitindo, na carteira de clientes do País, uma empresa sob investigação do Congresso dos EUA. Além disso, salienta o embaixador, a Blackwater é malvista entre nações do Oriente Médio que interessam à política externa brasileira. Na área da Defesa, mais cuidados: todas as etapas da operação são consideradas sigilosas e reservadas.
Na sede da Blackwater, o presidente Gary Jackson limitou-se a confirmar, por meio de um porta-voz, a compra da aeronave e a anunciar que ela será empregada em um novo programa de treinamento. O analista Cláudio Lucchesi, diretor da revista especializada Asas, acredita no benefício de mercado "a partir da escolha, por um cliente não sujeito a lobbies ou pressão política, que fez sua seleção com base na qualidade do produto". A Embraer apenas reconhece ter feito a exportação.
A versão do Super Tucano vendida para a EP Aviation/Blackwater é a mesma utilizada pela aviação brasileira. O sistema de armas foi inibido. As duas metralhadoras .50, internas, montadas nas asas, foram removidas. O conjunto eletrônico não sofreu alterações - o que permite realizar ataques simulados de alta precisão.
A Blackwater Worldwide foi fundada em 1997 por Erik Prince e Al Clark. Prince tem sólida formação empresarial e treinamento militar de ponta: foi integrante da Força Seal, considerado o mais avançado time americano de operações especiais. Aos 39 anos, Erik é um republicano convicto. Católico recém-convertido, pai de 6 filhos, divorciado e novamente casado, ele responde por 987 contratos oficiais no valor de US$ 1,2 bilhão.
Em 16 de setembro de 2007, um grupo de agentes da companhia atirou e matou 17 civis iraquianos em Nasur. Segundo a investigação conduzida posteriormente pelo FBI, 14 vítimas "foram atingidas sem motivo". Ainda assim, não houve acusações formais.
Erik Prince não gosta que "os rapazes da firma" sejam chamados de mercenários. "Mercenários são combatentes profissionais que trabalham para quem oferece o melhor salário; nós somos americanos garantindo a segurança de americanos em zonas de risco", declarou em entrevista coletiva. Na ocasião apresentou números: em 18 mil missões realizadas não perdeu nenhum cliente.
Um deles é o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, alvo de cinco atentados conhecidos. A contabilidade das ações registra cerca de 200 tiroteios só em território iraquiano. Em 173 casos o fogo foi iniciado pelos homens da Blackwater.
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