Avião da FAB quase colidiu com Boeing da Gol, mostra gravação
Aeronaves sobrevoavam a Amazônia em 18 de junho.
Para muitos especialistas, região tem a pior comunicação aérea do país.
Do G1, com informações do Fantástico
Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) quase bateu em um Boeing da Gol, segundo mostra gravação obtida com exclusividade pelo “Fantástico”. Ela faz parte de um relatório de perigo com timbre do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). As aeronaves estavam sobre a Amazônia, uma região que, para muitos especialistas, tem a pior comunicação aérea do país.
O piloto do esquadrão grifo - uma equipe de elite da FAB, com base em Porto Velho (RO) e o instrutor, também da força aérea, realizavam uma missão de treinamento no comando de um turbo hélice tucano.
De repente, um susto enorme: bem perto deles, surgiu um Boeing 737 da Gol.
A reportagem teve acesso a uma gravação de áudio de cinco minutos que revela mais detalhes sobre o episódio. “O que aconteceu foi que o Gol passou por cima da gente aqui, quase bateu na gente”, diz trecho da gravação de áudio de cinco minutos.
Os documentos a que a reportagem também teve acesso revelam que o incidente ocorreu no dia 18 de junho deste ano, sobre Rio Branco, no Acre.
Depois de analisar o material, o especialista em segurança aérea Jorge Barros, que já foi instrutor de vôo em aviões tucano, afirma: foi sorte não ter acontecido mais uma tragédia na aviação brasileira. “Foi um incidente muito grave. Houve uma proximidade muito grande, com risco alto de colisão em vôo”, diz.
De acordo com os documentos, o avião da Gol fazia o vôo 1938. Este vôo sai diariamente de Cruzeiro do Sul, no Acre, e faz escalas em Rio Branco, Porto Velho, Manaus, Belém e Fortaleza.
Perto do aeroporto
O áudio mostra que a quase colisão aconteceu quando o Boeing e o tucano do esquadrão grifo se aproximavam do aeroporto de Rio Branco. O mesmo controlador era responsável pelos dois vôos.
“- Grifo 127, na perna de aproximação.
- está livre o procedimento x-ray. Informe visual com a pista, Grifo 127.
- Grifo 127, chamará.”
De acordo com a gravação, cerca de um minuto e meio depois, o controlador autorizou o piloto do Boeing a fazer o mesmo procedimento de aproximação do aeroporto.
“- informe iniciando a perna de aproximação.
- já está na perna de aproximação, descendo pra 3 mil (pés).
- já está autorizado iniciar o procedimento x-ray.”
O especialista Jorge Barros explica o procedimento do operador. “Dois aviões são autorizados para descer pra mesma altitude, fazer a mesma aproximação pra mesma pista, digamos, no mesmo segmento do espaço aéreo”.
A cerca de 15 quilômetros do aeroporto de Rio Branco, a 450 metros de altura, os pilotos do tucano viram o tamanho do perigo.
A quantidade de palavrões registradas na gravação dá idéia do espanto que tiveram.
“Como o avião da Gol é a jato e voa muito mais rápido que o avião da FAB, que é a hélice, é um turbo hélice, então esse avião da Gol se aproxima muito do avião da força aérea. E passa a 200 pés de altura do avião da FAB”, diz o especialista. Duzentos pés são pouco mais de 60 metros.
Para se ter uma idéia de como os aviões passaram perto um do outro, as asas do Boeing têm cerca de 30 metros. As do tucano, dez.
Logo depois da quase colisão, o instrutor que estava no tucano falou com o controlador.
Ainda bastante nervoso, o instrutor da FAB passou orientações, como mostra o áudio.
“- Rio Branco, Gol pode prosseguir na aproximação final. O que aconteceu foi que o Gol passou por cima da gente aqui, quase bateu na gente. Pode prosseguir aí que a gente tá no visual. Tá ok, Rio Branco? Copiou?
-afirmativo, foi copiado, senhor”.
A gravação mostra que, na seqüência, o instrutor do tucano faz uma pergunta para o piloto do Boeing. “Gol, confirme. Você entendeu que poderia prosseguir no ILS?”
No áudio a que tivemos acesso, o piloto da Gol não responde se entendeu ou não que poderia continuar a aproximação por instrumentos.
A seqüência final é esta.
“- que medo!
- Gol 1938 está arremetendo.”
Susto
O vôo 1938 chega todos os dias ao aeroporto de Rio Branco lotado, com mais de 180 pessoas. Quem estava no Boeing que quase bateu no avião da FAB provavelmente não percebeu o perigo. Mas naquele dia, o momento mais tenso dos passageiros foi quando o jato da Gol arremeteu e teve que fazer uma nova manobra para aterrisar.
“Cada vez que o avião passa um susto grande, ele desiste de pousar. Agora, o acaso esteve presente aí, a ausência de colisão foi mero acaso”. A reportagem procurou os pilotos que se envolveram neste incidente; os da FAB não foram localizados.
Por telefone, o piloto do Boeing conversou com a reportagem. O comandante Carlos Joubert confirmou o incidente, mas não passou nenhum outro detalhe. Segundo ele, por determinação da Gol.
“Gostaria muito de colaborar. Agora eu não posso contrariar o que a empresa determinou pra mim”, disse.
Procurada pelo “Fantástico”, a Gol enviou uma nota que também não dá esclarecimentos sobre o incidente.
A empresa diz que segue os procedimentos de segurança e que os eventos que mereçam registro são feitos dentro dos padrões estabelecidos pelas autoridades competentes.
Também em nota, a Aeronáutica informa que em nenhum momento houve uma situação crítica de quase colisão. Mesmo assim, foi feita uma avaliação que concluiu deficiências de procedimento por parte do controlador de vôo.
“Em verdade, o fato não chega a nos surpreender. Muito pelo contrário. A estrutura de trabalho é deficiente", diz Roberto Sobral, advogado da Federação Brasileira dos Controladores de Vôo.
Segundo ele, há falhas de comunicação e faltam equipamentos como radares. Essas alegações fazem parte de uma ação penal movida há dois meses pela federação contra o comando da Aeronáutica no Supremo Tribunal Federal (STF).
“Nós queremos uma auditoria isenta para que, apontadas as falhas, nós possamos corrigir e saiamos dessa situação de risco em que vive a sociedade civil brasileira", afirma Sobral.
Segundo a Aeronáutica, cerca de 600 novos controladores foram capacitados para o trabalho nos últimos dois anos.
A aeronáutica informa ainda que na torre de Rio Branco a operação é coordenada de forma convencional, via rádio, em razão da baixa demanda de tráfego. Mas afirma que existe cobertura de radar plena para aeronaves comerciais voando naquela região.
O especialista em segurança aérea Jorge Barros dá um alerta. Segundo ele, ainda há muito o que fazer para evitar situações de risco, como aconteceu com o vôo 1938.
"Pura sorte não ter havido um acidente. Por isso é fundamental que a equipe de controladores seja bem escolhida, bem treinada e bem equipada, para que ela possa desenvolver um trabalho de excelente qualidade”.
Controlador de vôo da FAB vai passar por reciclagem
Fonte: G1
Autoridades da Aeronáutica dão explicações sobre o quase acidente revelado pelo Fantástico. As gravações mostraram o momento em que o avião da Força Aérea Brasileira quase bateu em um Boeing da Gol.
O controlador de vôo que monitorava um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e um Boeing da Gol que quase se chocaram vai passar por um curso de reciclagem. O Fantástico revelou como foi o incidente.
O susto mais recente nos céus do Brasil: um turbo-hélice da Força Aérea se encaminha para o pouso no Aeroporto de Rio Branco.
De repente, uma sombra passa por cima da cabeça dos pilotos. É um Boeing da Gol, também na reta final. O piloto do jato arremete. Os militares desabafam pelo rádio.
“O que aconteceu foi que o Gol passou por cima e quase bateu na gente”, conta um instrutor da FAB.
A primeira investigação indica que a falha foi do controle de tráfego aéreo. O avião da FAB ainda estava na área de transição, em plena descida para a pista, quando o controlador do aeroporto de Rio Branco autorizou o Boeing da Gol a também começar o seu pouso. Mais veloz, o Boeing se aproximou rapidamente. As duas aeronaves chegaram a pouco mais de 60 metros uma da outra.
Nesta segunda-feira, o chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da FAB, esteve em São Paulo justamente para falar de segurança de vôo. Ele trouxe um relatório detalhado da aviação brasileira nos últimos dez anos, mas foi obrigado a se concentrar no incidente de 18 de junho, em Rio Branco, revelado no domingo à noite pelo Fantástico.
O chefe do Cenipa, brigadeiro Jorge Kersul, disse que o incidente de Rio Branco é um fato isolado, mas que o controlador de vôo deverá fazer um treinamento. “Se houve falha humana, o indivíduo vai passar por uma reciclagem. E não é por causa de um evento que nós vamos dizer que o controle do tráfego aéreo no país está assim ou assado", afirmou Kersul.
Para o brigadeiro, apesar das tragédias dos últimos dois anos, a aviação comercial brasileira é segura e o Cenipa se prepara, principalmente, para o aumento do tráfego de helicópteros em São Paulo e nas novas áreas petroleiras do estado do Rio de Janeiro.
Cenipa registra 66 acidentes aéreos de janeiro a agosto
Centro de investigação de acidentes divulgou balanço de acidentes.
Problema com aeronave agrícola é mais comuns em MT, MS, GO e TO.
Glauco Araújo Do G1, em São Paulo
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) divulgou, nesta segunda-feira (15), o relatório de acidentes aéreos ocorridos no Brasil nos últimos dez anos. Até agosto deste ano, foram registradas 66 ocorrências com 39 mortes.
Em 2007, o órgão computou 97 acidentes, com 270 mortos. Em 2006, foram 66 acidentes, com 215 vitimas fatais.O documento foi finalizado em janeiro deste ano tem validade até 2009.
O brigadeiro Jorge Kersul Filho, responsável pelo Cenipa, disse que o levantamento mostra a incidência de fatores contribuintes para acidentes aéreos. “Entre os principais, estão as falhas de supervisão (52,7%), aspectos psicológicos (48,7%) e planejamento da tripulação sobre o vôo (43%).”
Segundo Kersul, apesar dos avanços tecnológicos presentes no controle aéreo do país, o indivíduo ainda é uma peça importante, mas também a mais frágil no processo aeronáutico. “O profissional tem de trabalhar com todos os ambientes de um ambiente de vôo. Os acidentes estão relacionados à exposição de risco. Quanto mais aeronaves eu tenho em um espaço aéreo, mais possibilidades existem de um acidente ocorrer. Isso não significa porém que haverá mais ocorrências”, afirma.
Aeronaves agrícolas
O relatório também indicou que os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins registraram mais acidentes com aeronaves agrícolas. “A área de controle correspondente a estes estados é uma das menores da Aeronáutica, mas é a que mais registrou acidente deste tipo. Foram 129 no período de dez anos.”
Kersul disse ainda que a aviação geral (quando o vôo é feito com proprietário da aeronave) representa 41,1% dos acidentes. Os registros de acidentes com táxi-aéreo somam 24% do total. A aviação agrícola representa 43,9% dos casos e os vôos de instrução aparecem com 10,2% dos registros. A aviação regular (de passageiros) representa apenas 4,3% do total. “Apesar disso, é a aviação regular a q tem o maio número de vitimas fatais”, afirma.
O responsável pelo Cenipa disse que não é possível fazer a fiscalização em todo espaço áereo do país. “Não dá para os órgãos públicos do Brasil colocarem um fiscal ao lado de cada individuo. Cada cidadão sabe o que pode fazer de errado e as conseqüências de suas atitudes, principalmente no sistema aéreo. A Aeronáutica não faz fiscalização de vôo. Isso cabe à Agencia Nacional de Aviação Civil (Anac). Por mais que ela tenha fiscais, não há como fazer isso em cada aeroporto do país”, diz.
Investigação
Os acidentes da aviação geral, segundo as investigações do Cenipa, 26,5% foram provocados por falhas de motor (principalmente quando o piloto troca o combustível da aeronave), 17,6% por perda de controle de vôo provocada pela falha de manutenção.
“Em 2007, o Comitê Nacional de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos recomendou a inclusão de um programa preventivo como requisito no processo de certificação de oficinas de manutenção.”
O crescente volume de aviações no espaço brasileiro na tem sobrecarregado os controladores de vôo, segundo Kersul. “Eles questão bem preparados, mas é preciso melhorar de qualquer forma, a formação dos controladores é boa. O detalhe é a experiência do profissional, pois é a falta dela que pode aumentar o risco de acidente aéreo”
O brigadeiro disse ainda que é importante fazer reciclagens para aperfeiçoamento profissional. “mais de 700 homens foram adicionados ao efetivos nos últimos dois anos. Os controladores hoje não têm folga. Não temos a facilidade de permitir que ele faça intercâmbios em outros sistemas aéreos no mundo. Mas eles não estão sobrecarregados. Nenhum controlador de vôo trabalha mais do que os padrões internacionais permitidos”.
Petróleo
Ainda segundo Kersul, a FAB está se preparando para atender à demanda de segurança que será necessária na região onde forem encontrados poços de petróleo. “Em Macaé e em Cabo Frio já é percebido um aumento do tráfego de helicópteros por conta do transporte de funcionários de petrolíferas mais afastadas da costa brasileira”, diz.
Apesar de ser recente o crescimento do fluxo aéreo na região, o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) já toma providências para garantir a segurança aérea na região.
São Paulo
Kersul filho garantiu que o espaço aéreo de São Paulo é seguro, apesar de a região ter o maior tráfego aéreo do país. A região vai receber 80 novos helicópteros até 2009 para a frota atual de 480 aeronaves existentes. "Nós trabalhamos para não haver acidentes. Temos esse objetivo em mente, mas isso é utópico", disse o comandante. A capital é a única que tem um controle de tráfego aéreo específico.
Onde há mais tráfego aéreo é também onde há mais risco de acidentes. Apesar disso, qualquer alteração no funcionamento do Aeroporto de Congonhas mexe com muitos interesses e isso deve ser levado em conta, segundo o brigadeiro. "Não acredito na possibilidade de homens da Aeronáutica sofrerem ou já tenham sofrido pressão financeira de empresas de aviação."
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