Área Militar
Foram divulgados por varias fontes relatos sobre problemas encontrados no primeiro submarino da família U-214, que foi entregue à marinha da Grécia no ano passado. A Grécia foi o primeiro cliente deste tipo de submarino, tendo adquirido quatro unidades, a primeira das quais foi entregue à marinha grega em 2005.
Segundo os relatos, os submarinos apresentam vários problemas. Entre os problemas detectados, estão os sistemas ópticos, como o periscópio SERO-400 fabricados pela Carl Zeiss Optronics.
O submarino apresentará também problemas ao nível do sistema de combate ISUS, que é também novo, e nunca foi instalado a bordo de outros navios. Problemas no sistema de combate, tanto podem ser ao nível de sensores, como ao nível do software que gere o sistema e conjuga os dados recebidos.
Dos problemas detectados, o mais preocupante, é que no seu conjunto o nível de ruído produzido pelo submarino parece estar a um nível acima do que foi especificado. O nível de ruído produzido por um submarino como o U-214, é da maior importância, porque sendo um submarino com sistema AIP (Propulsão Independente do Ar) utilizando células de combustível, ele baseia grande parte da sua acção na extrema dificuldade em ser detectado por causa de ser (ou dever ser) muito silencioso.
O sistema de células de combustível, tem ainda a vantagem de ao contrário de outros sistemas, não produzir altas temperaturas, o que também parece estar falhando, porque a alta temperatura de operação foi também apontada pela marinha da Grécia como um problema a resolver, e que levou que embora tenha sido entregue à marinha da Grécia em 2005, ele ainda não tenha sido aceite.
Sistema OMS-100, que inclui periscópio. Todo o cojunto vibra, impossibilitando a recolha de dados |
O sistema de combate também é muito recente e mais complexo que o instalado no U-212 alemão e italiano.
Neste capítulo, o sistema de combate do U-214, coordena as suas operações com dados dos seus sensores que permitem ao comandante do submarino ter uma «visão» geral da área, podendo não só disparar torpedos contra um eventual inimigo, como também mísseis anti-navio ou ambos. Problemas com os sensores colocados no mastro do periscópio, podem influir nos dados que alimentam o sistema de combate.
O sistema AIP do U-214 também é novo, utilizando menos componentes, e sendo mais compacto que o instalado no U-212.
Finalmente, foram detectados problemas de estabilidade em mar agitado, que fazem com que o submarino se incline a mais de 45º, o que pode implicar problemas mais graves, ao nível do cálculo da distribuição de pesos de componentes e acessórios, ou mesmo no desenho do casco.
Parece que deste conjunto de questões, se pode concluir que o U-214 Papanikolis, é na realidade um protótipo, o primeiro submarino de uma classe nova, que apresenta soluções ainda não testadas, pelo que os problemas - sendo indesejáveis - são também esperados.
Para vender o U-214, a empresa HDW - fabricante do U-214, bem como dos mais antigos U-209 e U-212 (este último muito mais sofisticado que o U-209) - baseou grande parte da sua propaganda na afirmação de que o U-214, somava as boas características do U-209 à tecnologia do U-212 e a fiabilidade reconhecida nesses sistemas, ajudou a vender submarinos não apenas para a Grécia, como para a Coreia, para Portugal (U-209PN) e para o Brasil, onde estranhamente o U-214 não deverá incluir a sua característica mais importante, o sistema de propulsão independente do ar (AIP).
A acreditar nos relatos, o U-214 foi demasiado «colado» aos submarinos anteriores, para lhe garantir encomendas, mas agora está-se a verificar que ele é bastante mais diferente dos seus «irmãos» mais velhos que o que se pensava. Caso contrário, provavelmente este tipo de problemas não ocorreriam.
O sistema de combate do U-214. Notar ao centro o periscópio |
Não é previsível que os problemas com o U-214 não venham a ser resolvidos, porque neste momento as marinhas que adquiriram estes sistemas estão de olho quer nos problemas quer na resolução dos mesmos, e a industria alemã necessita do sucesso do U-214 no mercado mundial, onde tenta vender o seu modelo.
A marinha grega, tem por isso uma vantagem que lhe permite estar numa posição de força, pois os alemães não vão querer prejudicar o futuro daquele que pode vir a ser o substituto da série «209» que é um dos maiores sucessos da industria naval alemã.
Um projecto novo, normalmente apresenta problemas, na proporção das modernizações que pretende introduzir. No entanto não deixa de ser estranho que estes problemas continuem a ser referidos com alguma insistência na imprensa, onde a concorrência especialmente com a empresa francesa DCN/ARMARIS é extremamente forte. Ou a concorrência está demasiado acirrada, ou então os problemas são mais graves que o que a HDW está disposta a reconhecer, para não prejudicar contratos e concorrências em curso.
Em Portugal, a questão não foi abordada pela imprensa, porque o submarino U-214 para Portugal, é conhecido como U-209(PN).
Este subterfúgio, levou a própria televisão do Estado, através do seu Canal-1, a fazer uma reportagem a bordo de um submarino U-209 da marinha da África do Sul, afirmando que se tratava de um submarino igual ao que Portugal iria comprar[1].
O Brasil, terá também que acompanhar de perto os problemas, embora a opção brasileira por um sistema de propulsão tradicional, provavelmente reduza o numero de quesitos a analisar e a distância que medeia entre o momento actual e o inicio da construção, possam permitir a inclusão de cláusulas de salvaguarda adicionais.
[1]No entanto, não deve haver dúvida quanto ao submarino adquirido por Portugal. O U-209PN é na realidade um U-214 com o nome disfarçado (como se lhe referiu alguma imprensa internacional), o que chegou a ser alvo de um processo na justiça.
Caso contrário, não haveria como justificar o seu elevado preço, que está expresso nos valores apresentados na Lei de Programação Militar.
NOTAS:
Os navios do tipo U-214 são o resultado da fusão das características dos submarinos oceânicos U-209, com as caracteristicas dos mais modernos submarinos costeiros da classe U-212 e de desenvolvimentos experimentados nos submarinos do tipo Dolphin donstruidos na Alemanha para a a marinha de Israel.
A influência do U-209 ainda se encontra no layout interno dos submarinos U-214, enquanto que o desenho hidrodinâmico, lembra em parte o Dolphin. Os mais recentes desenvolvimentos tecnológicos em termos de sistemas de propulsão (Propulsão Independente do Ar) foram por sua vez especialmente desenvolvidos para os submarinos U-212, embora o sistema de combate seja o ISUS-90 pois o MSI-90 (utilizado pelos U-212) não permite a operação conjunta de torpedos e mísseis.
A classe U-214 foi adquirida pela Grécia e pela Coreia do Sul. Portugal encomendou dois navios que pelas características apresentadas pela própria marinha de Portugal e pelo custo do programa são igualmente U-214, embora os portugueses tenham classificados os seus submarinos de U-209PN.
Mais recentemente o Brasil chegou a demonstrar interesse na aquisição de um submarino da classe U-214, No entanto, conforme as notícias vindas a público e notas divulgadas pela própria marinha brasileira, os U-214 brasileiros não teriam sistema de propulsão independente do ar.
A afirmação de responsáveis da marinha brasileira não foi entendida por vários especialistas na matéria, que afirmam que a construção de um submarino U-214 sem o sistema AIP - para o qual o submarino foi concebido - resultaria na necessidade de redesenhar todo o projecto do navio, tornando-o absurdamente caro.
Rumores recentes dão conta de que este tipo de submarinos terá apresentado problemas de desenvolvimento. Alegadamente problemas com a vibração do mastro do periscópio e uma inclinação considerada exagerada, estarão na origem da recusa da marinha grega em receber os submarinos.
Falhas: U-214 tem infiltrações, se inclina a 50º e tem alto nível de ruído | |
Brasil quer comprar da Alemanha teve sérios problemas na Grécia |
Por Cláudio Camargo - Isto é |
Grandes guerreiros do mar na Antigüidade,
os gregos estão vivendo uma situação de
virtual guerra em águas profundas com a Alemanha por causa dos problemas apresentados pelo submarino convencional
U-214 – o mesmo tipo que a Marinha do
Brasil pretende adquirir. O novo modelo de submarino alemão está, literalmente, fazendo água. O desempenho do primeiro dos quatro submarinos de propulsão a diesel encomendados pela Grécia em 2000, fabricado pelo estaleiro alemão HDW, está seriamente comprometido por diversos problemas técnicos, cuja origem – projeto ou construção – ainda não está determinada. São problemas graves, como alta instabilidade em superfície (inclinação de 50 graus em situações de mar revolto), infiltração de água no sistema hidráulico durante a imersão, alto nível de ruído – o que tornaria sua detecção pelo inimigo mais fácil –, vibração no periscópio em velocidades acima de três nós – o que provoca imprecisão fatal para a mira nos alvos – e sistema de armas fora das especificações.
Desde a assinatura do contrato, o governo grego já desembolsou 1,3 bilhão de euros de um total de 1,8 bilhão. O problema foi identificado há mais de um ano, em setembro de 2005, quando estava prevista a entrega da primeira unidade, fabricada em Kiel, na Alemanha (as outras três seriam fabricadas no estaleiro grego de Skaramonga, adquirido pela HDW). A imprensa grega tem reportado que Berlim pressionou fortemente o governo de Atenas para que aceitasse a encomenda, sem que o fabricante se comprometesse formalmente a resolver as falhas. Em face da recusa do Ministério da Defesa grego em receber os submarinos com os defeitos apresentados, a ThyssenKrupp, que controla a HDW, ameaçou retirar-se do estaleiro Skaramonga. O governo grego manteve-se firme na sua decisão, lembrando que a sobrevivência do estaleiro não dependia da fabricação dos U-214, porque o Ministério da Defesa grego já havia feito grandes encomendas a ele. No último dia 30 de outubro, os alemães finalmente reconheceram a existência de problemas técnicos e se comprometeram a resolvê-los num prazo de seis meses. O governo grego não exigirá pagamento de multa por não cumprimento de contrato, mas a HDW não recorrerá caso não apresente solução.
O problema com os U-214 vendidos à Grécia tem implicações diretas para o Brasil. O comando da Marinha pretende adquirir uma unidade do mesmo modelo e reformar os cinco existentes (classe Tupi, modelo U-209, também fabricados pela HDW). A Comissão de Financiamentos Externos (Cofiex) do Ministério do Planejamento aprovou, nesta semana, o contrato para que um consórcio de bancos europeus financie parte de 1,08 bilhão de euros (R$ 2,9 bilhões) para a compra (do total, 136 milhões de euros deverão ser desembolsados pelo governo brasileiro). O curioso é que a essa aquisição – justificada como necessária pela Marinha para evitar duplicidade de custos logísticos – esteja sendo divulgada sem que se faça menção aos graves problemas ocorridos com o mesmo modelo na Grécia, detectados há mais de um ano. Sabe-se que técnicos alemães virão ao Brasil para explicar como pretendem corrigir as falhas. Então, por que a pressa? Por que descartar a construção do submarino nuclear – como sugeriu o chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Jannot de Mattos –, se ainda não há no mundo um único submarino do tipo que a Marinha encomendou à HDW?
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