Relatórios internos da ONU apontam que arsenais chineses começam a ser encontrados em países africanos proibidos de importar armas em razão de embargos impostos pela organização. O resultado da investigação vai na linha de outro levantamento, feito pela Instituto de Pesquisa de Paz Internacional de Estocolmo, segundo o qual a China domina 25% do mercado de armas na África. Há apenas 15 anos, essa taxa era de apenas 3%. 

Barato, o armamento chinês está inundando a região, um fator decisivo para colocar a China no posto de sexto maior exportador de pistolas e fuzis do mundo. (na foto ao lado um Chengdu J-7 do Zimbabue fornecido pela China - cópia chinesa do MiG-21 Sovietico)

A investigação da ONU foi conduzida durante dois anos em áreas como República Democrática do Congo, Somália, Sudão e Costa do Marfim. O documento seria publicado neste mês, mas por pressão de Pequim a ONU resolveu engavetá-lo. Nele, países como Rússia e Ucrânia também são citados. Nas últimas semanas, cópias desse documento vazaram, enfurecendo a diplomacia chinesa. Uma cópia, vista pelo Estado, relata como grupos têm obtido munição e armas de fornecedores da China. 

Dez anos depois de estabelecer a África como uma de suas prioridades, a China transformou o mapa do continente africano e passou a ser o principal parceiro econômico dos africanos, superando as ex-potências coloniais. 

Cerca de 800 mil chineses vivem no continente. Pequim lançou o primeiro satélite nigeriano, construiu os novos prédios da administração pública na Argélia, terminou a estrada que Ossama bin Laden tinha começado no Sudão antes de fugir para o Afeganistão, construiu mais de cem escolas pela África, financiou até mesmo prisões e mais de 50 estádios de futebol. (na foto ao lado um Chengdu J-7 fornecido pela China - cópia chinesa do MiG-21 Sovietico)

O continente é visto pelos chineses como o trampolim para permitir que a China, segunda economia do mundo, tenha acesso a recursos naturais, alimentos e energia para manter o ritmo de crescimento nas próximas décadas e eventualmente superar a economia americana. 

A China, que acredita que, em 20 anos, se abastecerá de 50% de sua energia do continente africano. Em 2011, o fluxo comercial entre a China e a África superou a marca de US$ 100 bilhões, dez vezes mais que em 2001. (na foto ao lado cinco Chengdu J-7 da Tanzania fornecidos pela China - cópia chinesa do MiG-21 Sovietico)

 O movimento é semelhante ao dos americanos na marcha para o oeste, que promoveu a transformação econômica e produtiva dos EUA e deu acesso a novas fontes de recursos naturais há mais de um século. Num "safári" sem precedentes, a China rompeu monopólios europeus nos países africanos, injetou novo crescimento nas economias da região e abriu uma nova lógica na África.

A revelação da ONU dá sinais de que o envolvimento chinês na região iria bem além de relações comerciais sem implicações políticas, uma espécie de diferencial apresentado pelos chineses em relação a EUA e Europa. Pelo menos 16 países receberam armas da China, o que tornou o país asiático o maior fornecedor para a região. A ONU hoje adota embargos de armas contra sete países africanos.

O caso do Sudão é um dos mais claros. O país em si não está sujeito a um embargo. (na foto ao lado um Chengdu J-7 do Sudão fornecido pela China - cópia chinesa do MiG-21 Sovietico)

Mas a região de Darfur, sim. Segundo a investigação, as armas chinesas entram por Cartum e vão para Darfur, driblando a proibição. Em maio de 2011, especialistas da ONU visitaram a cidade de Tukumare, em Darfur. O local havia sido palco de uma intensa luta entre rebeldes e governo. Lá, encontraram munição e armas fabricadas na China com data de 2010.

O embargo internacional começou a vigorar em 2005. 

Poucos meses depois, a ONU encontraria fuzis chineses com piratas na costa da Somália. Na República Democrática do Congo, outro país sob embargo, também foram encontradas armas chinesas. (na foto ao lado um Chengdu J-7 do Congo fornecido pela China - cópia chinesa do MiG-21 Sovietico)

Ao saber do conteúdo do documento, a China vetou a publicação do relatório e negou um novo mandato ao alemão Holger Anders, um dos investigadores. Em uma outra manobra, os chineses tentaram limitar o orçamento destinado a esse tipo de investigação dentro da ONU. 

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Durante as investigações, funcionários das Nações Unidas envolvidos no projeto disseram ao Estado, em caráter de anonimato, que a China recusou-se a fornecer informações quando os investigadores apresentaram provas da existência das armas e quiseram saber qual era a empresa que as fabricava. (Outro avião chinês o K-8 Kararorum da nas cores da Zambia).

Fonte: Estadão