A QUEDA DE ROMA

Fonte: Roma Antiga blogspot

Poucos acontecimentos provocaram tanto choque e estupefacção como o saque de Roma pelos Visigodos, no ano 410 da nossa Era.

Apesar de há muito não ser a residência principal dos imperadores do Ocidente – que preferiam estabelecer-se perto das fronteiras, em cidades fortificadas como Milão, Ravena, Sirmium ou Treveri -, Roma era ainda a capital espiritual, económica e política do mundo romano. Com cerca de um milhão de habitantes, Roma era ainda a maior cidade do Ocidente. Os imperadores continuavam a manter a populaça romana através dos abastecimentos da Anona, as famílias da aristocracia tradicional continuavam a fixar residência e a possuir luxuosos palácios na Urbs, enquanto o Senado existia ainda como reserva moral e política do Império.

Apesar das dificuldades dos anos anteriores – as derrotas na Mesopotâmia e Andrinopla, as guerras civis, etc -, era crença generalizada que o poder, a riqueza e a majestade de Roma subsistiriam ad aeternum. Ninguém esperava que a capital do mundo seria tão facilmente conquistada por um exército bárbaro. Desde a invasão gaulesa, no século IV a.C., que Roma não era pisada por exércitos estrangeiros. O próprio Aníbal, com todo o seu génio militar, não conseguira mais que cercar a cidade.

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Como caiu então Roma em poder dos Visigodos? Ora antes de mais, vejamos o que conduziu a este trágico desfecho.

Desde os tempos de Teodósio, O Grande, que os Visigodos serviam no exército romano como “federados” (foederati). As duas grandes derrotas sofridas pelas legiões no espaço de vinte anos, na Mesopotâmia e nos Balcãs, privaram o Império das suas melhores forças. Teodósio viu-se forçado a arrolar soldados bárbaros, “barbarizando” desse modo o exército. Alguns historiadores consideram que foi esta a principal razão para a queda do Império: Roma abdicou da excelência militar que nos séculos anteriores lhe dera a supremacia sobre os povos estrangeiros. O exército romano “barbarizou-se”, afrouxando a disciplina e abandonando as tácticas ancestrais. O próprio equipamento militar perdeu qualidade, na medida em que as grandes oficinas imperiais tinham cada vez mais dificuldade em suprir as necessidades do exército. Além disso, os bárbaros que combatiam sob o estandarte imperial faziam-no à maneira dos seus antepassados, sendo liderados pelos seus próprios chefes e reis.

Quando o partido “nacionalista” se acercou do poder, após a morte de Teodósio e da queda em desgraça do seu lugar-tenente semi-bárbaro Estilicão – o último general que poderia ter salvo o Ocidente -, os bárbaros foram expulsos do exército romano (e, em alguns casos massacrados). Mas era tarde demais, para além de contraproducente; os soldados bárbaros eram os únicos que poderiam defender o Império dos seus inimigos ainda mais bárbaros. E na origem da guerra com os Visigodos – que já antes se tinham revoltado devido ao tratamento que lhes era dado pelos funcionários imperiais da distribuição de alimentos -, esteva a pretensão que Alarico, rei dos Visigodos, tinha de suceder a Estilicão como comandante supremo do exército do Ocidente. Como o governo de Honório recusou, estalou a guerra.

Alarico cercou Roma por três vezes. O primeiro cerco foi levantado através do cumprimento das suas exigências por parte do Senado romano: entrega de todo o ouro e prata da cidade, de todos os móveis ricos e preciosos, e de todos os escravos que pudessem provar o seu direito ao nome de “bárbaros”. Estupefactos, os enviados do Senado atreveram-se a perguntar ao rei dos Godos: “Se são essas as tuas vontades, ó rei, o que tencionas deixar-nos?” O conquistador respondeu secamente: “As vossas vidas”.

Durante este primeiro cerco, o pânico, a fome e o desespero na cidade foram tantos, que o próprio Papa Inocêncio concordou em que se realizassem sacrifícios pagãos pela salvação da Respublica.