Um Airbus A330 da Air France, cai no Atlântico, atingido por vários raios e turbulência atmosférica?

O acidente com um avião Airbus A330-200 da Air France, que terá vitimado todos os passageiros do voo, entre os quais 80 cidadãos do país-irmão (o meu sentimento do maior pesar, pela perda registada), 73 franceses e 18 alemães, entre outras nacionalidades, veio recordar-nos a todos que muito embora a tecnologia aeronáutica esteja hoje num patamar inédito de sofisticação, um fenómeno tão fundamental como um trovão, ainda consegue derrubar mesmo o maior e mais sofisticado avião comercial da atualidade.

O avião terá desaparecido no Atlântico, pouco depois de ter comunicado a ocorrência de um curto-circuito a bordo, quando atravessava uma região de forte turbulência por volta das 03:14 (hora de Lisboa). Esta é a maior prova de que o Airbus terá caído em consequência de um raio, como confirma François Brousse, da Air France. Terá sido também por volta desta hora que o avião desapareceu dos radares do controlo do ar brasileiro.

A turbulência atmosférica pode afetar seriamente um avião comercial. Ainda não há muito tempo um avião das linhas aéreas turcas, um Boeing 737-800 despenhou-se em Amesterdão causando a morte a nove dos 128 passageiros e membros da tripulação. Neste caso, o avião terá descido muito rapidamente, mais de 1500 metros num único minuto.

É extremamente difícil que um avião moderno como o A330 se tenha despenhado unicamente devido ao impacto de um raio. Cada motor tem vários sistemas elétricos redundantes, com várias baterias e somente através de uma sucessão invulgarmente rara, de violentos raios caindo sobre o aparelho num período de breves minutos o poderia afetar a um ponto tal que o levasse a perder todos os sistemas elétricos, e logo os motores. Isso mesmo é ilustrado por estes bem eloquentes vídeos:

Mas, de facto, em 1962, um Boeing 707, nos EUA após ter sido atingido por um raio, sofreu um incêndio a bordo que deflagrou num tanque de combustível, causando a morte a todos os tripulantes e passageiros. O acidente lembrou os construtores da possível gravidade de tais fenómenos atmosféricos e levou-os a instalarem os para-raios cujo funcionamento assistimos nos vídeos supra e que fazem com que a carga elétrica passe pela fuselagem e saia pela extremidade do aparelho, sem destruir equipamentos internos.

De qualquer forma, no momento em que escrevo estas linhas a causa mais provável para o acidente parece ter sido uma conjugação extremamente rara de fenómenos – desde o impacto sucessivo de vários trovões, que terão eventualmente derretido a camada protectora de aluminío que conduz para a cauda a descarga elétrica, até á turbulência que pode ter feito com que o avião perdesse milhares de metros de altitude enquanto lutava para recomeçar os motores e com sistemas elétricos destruídos.