Esquadra russa caminha para o colapso

Afirma almirante chefe da marinha russa

ÁREA MILITAR

Durante uma cerimónia que decorreu na abertura de uma exposição naval na cidade russa de S. Petersburgo, o chefe da marinha russa, Almirante Vladimir Vytsotsky proferiu declarações que permitem ter no ocidente uma imagem mais aproximada, ou então confirmada, da situação actual da marinha da Rússia, dos seus problemas e das suas perspectivas de futuro.

Os dados sobre a marinha russa, são muitas vezes distorcidos por afirmações mais ou menos propagandísticas por parte das autoridades ou da imprensa russa, que costumeiramente afirmam que se iniciaram grandes programas de construção que normalmente nunca se confirmam. A marinha russa é normalmente apresentada nos noticiários da televisão, sempre que um navio cumpre uma missão no estrangeiro.

Mas no passado dia 24 de Junho, foi o próprio chefe máximo da marinha russa que veio deitar um balde de água fria sobre esta realidade virtual quando afirmou literalmente que a Rússia não só não tem uma marinha moderna, como provavelmente perdeu a capacidade para construir uma.

Vytsotsky, que foi comandante da esquadra russa do Mar do Norte antes de ascender ao posto de comandante máximo da marinha da Rússia, foi devastador nas suas afirmações, mostrando-se contrário aos planos de modernizar a esquadra russa, porque isso implica gastar dinheiro na modernização de navios velhos, com tecnologia que já está ultrapassada.

O almirante russo deu claramente a entender que deixou de acreditar na capacidade dos estaleiros russos para conceber e produzir os navios que a marinha do país necessita, considerando que uma das possibilidades que a marinha russa tem, é a de adquirir navios a estaleiros estrangeiros.

Almirante Vytsotsky: O comandante da marinha da Rússia
Numa análise caso a caso da situação da força, o almirante afirmou que a marinha russa tinha disponíveis vinte e nove submarinos nucleares, dezanove submarinos a diesel, um porta-aviões, seis cruzadores, oito contra-torpedeiros e onze fragatas com capacidade anti-submarina, às quais se juntavam mais 29 navios de menores dimensões também com capacidade anti-submarina. Mas desses, quinze submarinos nucleares, três diesel, dois cruzadores, e três contra-torpedeiros encontravam-se em lentos processos de modernização, que na maioria dos casos são tão lentos, que os navios estão obsoletos quando são entregues à marinha russa e isto se chegam a ser entregues.

A situação no entanto é considerada de terrível pelo almirante Visotsky, quando se considera que as forças russas estão separadas em cinco distintos comandos, separados por muitos milhares de quilómetros, o que transforma cada um desses agrupamentos de navios numa força naval de muito pouca relevância.

A comparação nem sequer é feita com a marinha dos Estados Unidos, mas sim com a poderosíssima marinha japonesa e com a cada vez mais poderosa marinha da China, ao pé das quais a esquadra russa do Pacífico não passa de uma força absolutamente secundária, possuindo um cruzador e um contra-torpedeiro, juntamente com quatro patrulhas com capacidade anti-submarina além de outros navios secundários.

Mas as coisas não vão ficar melhores.
O almirante Vysotsky afirmou igualmente que o actual plano de construções da esquadra russa, pode considerar-se praticamente como «não existente». O país tem em construção um submarino do tipo 885 «Yasey/Graney», três submarinos convencionais do tipo 677 «Lada / St.Petersburg» três corvetas / fragatas ligeiras e uma fragata do tipo Admiral Sergei Gorshkov. É tudo, para uma marinha que necessitaria no mínimo do triplo destes navios, só nos próximos cinco anos para manter uma marinha com alguma credibilidade nos vários teatros de operações prováveis.

Segundo fontes russas, o submarino do tipo 885 continua no estaleiro por problemas técnicos. As corvetas Stereguschy e a fragata Gorshkov, são navios relativamente modernos, mas a marinha russa precisava receber no minimo dois navios de cada tipo por ano. A média é inferior a um quinto desse numero.

Colapso irreversível.
Mas as palavras mais fortes do comandante da marinha russa ficaram para o fim, quando afirmou que com o actual numero de navios em construção, a inevitável obsolescência dos que estão em operação, a situação da marinha russa é de colapso irreversível, pois ao actual ritmo, dentro de 10 anos a marinha terá menos de 50 navios de guerra entre submarinos, cruzadores, contra-torpedeiros, fragatas e corvetas.

As críticas do almirante russo dirigiram-se também aos estaleiros do país que são lentos, pouco eficientes, ultrapassados e que continuam a utilizar o mesmo tipo de tecnologias de construção que se utilizavam há vinte anos e por essa razão o almirante russo afirmou que a compra de navios a estaleiros estrangeiros seria uma possibilidade.

A possibilidade de aquisição de navios, segundo a mesma fonte estaria necessariamente limitada aos países do ocidente, os únicos com capacidade efectiva para os produzir, dado que a China e a Índia ainda adquirem navios aos estaleiros russos.

A possibilidade de a Rússia estabelecer relações especiais com alguns dos países ocidentais para permitir equipar os seus navios com sistemas de armas mais modernos tem vindo a ser considerada.
A França é um dos países que dispõe de um sistema com capacidade para ser adaptado às necessidades da marinha da Rússia, as fragatas FREMM.
Os sistemas electrónicos e a qualidade dos sensores fabricados em Israel, são também vistas com interesse pelos russos, cuja força aérea ainda recentemente adquiriu àquele país os seus primeiros UAV`s.

Israel tem interesse neste tipo de negociação, porque está interessado em condicionar as relações da Rússia com o Irão, que utiliza tecnologia russa para desenvolver o seu programa de armas nucleares.