Um dos três Ilyushin 76 libios retido em Manaus

O obscuro caso dos Ilyushin 76 libios retidos no Brasil em 1983

By Vinna – Com informações do Jornal do Brasil, ACIG e Defesanet

Em 17 de abril de 1983, quatro cargueiros libios - um C-130 Hércules e três Ilyushin Il-76 TD – lotados de armas e munições foram retidos em Recife e em Manaus. Os dois modelos têm capacidade para transportar respectivamente 20 e 40 toneladas e estavam entre os maiores cargueiros do mundo.

C-130 Libio

Oficialmente os aviões haviam saído de Trípoli com destino à Colômbia e realizaram uma escala autorizada nos aeroportos de Manaus e Recife (o C-130 que pousou no Recife teve problemas no motor na travessia sobre o Atlântico e não pode seguir com os demais que acabaram retidos em Manaus). O pouso foi autorizado por razões técnicas, obedecendo normas internacionais de transporte aéreo. As aeronaves rumavam para a Colômbia, com um carregamento de remédios e alimentos.

Reportagem original do Jornal do Brasil

Naquela época o governo americano andava claramente enfronhado em uma série de “problemas” pelo mundo em plena Guerra Fria e há algum tempo, já monitorava a movimentação dos rebeldes sandinistas na Nicarágua, além das guerrilhas no Peru e Colômbia. A época inclusive, já se especulava que caças MiG-21 seriam entregues pelos Cubanos ou Soviéticos as FAS – Forças Armadas Sandinistas. De fato isso nunca chegou a acontecer pelas vias acima citadas, mas quase ocorreu pelas mãos dos Líbios.

Alertados muito provavelmente pelos americanos as autoridades brasileiras ordenaram a verificação da carga constante nos aviões. Realizada a inspeção verificou-se que na verdade os cargueiros levavam armas para a Nicarágua, que estava em guerra civil desde 1979.

Em 1978, o presidente Anastásio Somoza havia sido deposto pela Frente Sandinista de Libertação Nacional - FSLN e tentava retomar o poder com o apoio dos Estados Unidos, que financiavam os "contra" (com dinheiro do lucro das armas vendidas pela CIA ao Irã – Caso Irã Contra), para derrubar o governo sandinista.

Após a verificação o “relatório oficial” brasileiro "dava conta" que a bordo das aeronaves se foram encontrados fuzis russos, canhões franceses, munição da Ucrânia e "variadas caixas sem identificação externa". Rumores surgiram de que muitas das pessoas a bordo eram terroristas, com destino a El Salvador.

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Dois L-39 Albatros do Afghan National Air Corps. (foto: USAF)

Se estas questões são pouco comentadas, imagine a obscura informação aerca dos engradados com os primeiros de 17 jatos de treinamento avançado de origem Tcheca Aero L-39 Albatros destinados a FAS. Pior foi constatar que através do Coronel Ricardo Wheelock Romano, do Comando Sandinista que estes não tinham qualquer conhecimento prévio desta “transferência”.

O incidente deixou o Brasil em uma situação bastante incômoda uma vez que a Líbia já era uma importante importadora de armas do país. A retenção dos cargueiros poderia levar a deterioração das relações diplomáticas e comerciais entre os dois países. Por outro lado o Governo Brasileiro que havia declarado neutralidade no conflito da América Central se liberasse a carga para que esta seguisse para o seu destino (Nicarágua e/ou Colômbia) ficaria em clara posição de confronto com os Estados Unidos.

Ilyushin 76 libios em Tripoli

Assim os Brasileiros decidiram reter temporariamente a carga e os aviões. Isso levou a um incidente que durou 50 dias. Depois de quase dois meses de negociações diplomáticas, sob pressão de fabricantes nacionais de equipamentos militares, que temiam perder a Líbia como cliente, o incidente se resolveu com a devolução dos aviões e suas cargas para a Líbia.