Bases importam problemas, diz Amorim
Presença de forças americanas na Colômbia "pode trazer para a região problemas que não são dela", afirma chanceler Brasileiro recebeu ontem colega equatoriano antes de reunião da Unasul que vai discutir acordo entre Bogotá e Washington, na sexta
ELIANE CANTANHÊDE - Estado de Minas - Via NOTIMP FAB 25/08/2009
Apesar de "oferecer os préstimos" do Brasil para reduzir o nível de tensão dos países da América do Sul em função do novo acordo militar entre os EUA e a Colômbia, o chanceler Celso Amorim repetiu ontem a crítica à presença de tropas americanas em bases colombianas, que pode atrair para a América do Sul "problemas que não são da região".
"A presença de uma força de fora da região pode trazer para dentro da região, independentemente de outros problemas já existentes, problemas que não são da região", disse ele, ao lado do colega Fander Falconí, do Equador -país que suspendeu as relações diplomáticas com a Colômbia e é um dos mais críticos ao acordo militar entre Washington e Bogotá.
Apesar da forma tortuosa, Amorim deixou claro, assim, que o Brasil não recuou nem amenizou suas críticas ao acordo de Washington com Bogotá para abaixar a temperatura e favorecer um desfecho apaziguador na segunda reunião da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) centrada na questão, que será realizada na próxima sexta-feira, em Bariloche, Argentina.
Falconí, ao contrário, falou todo o tempo da entrevista num tom que, se não foi conciliador, também não foi ácido nem de provocação contra a Colômbia. Classificou de "legítima preocupação" as críticas ao uso de bases colombianas pelos americanos, mas disse que "não se trata de colocar ninguém no banco dos réus".
Tanto Amorim quanto Falconí concordaram com os termos colocados pelo presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, para debater a questão em conjunto. Ele não foi à última reunião da Unasul, em Quito, mas confirmou a ida à próxima, desde que a pauta não se resuma às bases colombianas.
Uribe quer que os 12 presidentes da região possam discutir temas variados relativos à segurança, como, por exemplo, eventuais relações dos vizinhos com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e até a "aliança estratégica" do Brasil com a França.
"Não temos nada a esconder. Mas há uma diferença entre fazer um acordo de compra de equipamentos e de treinamento [como no caso do Brasil com a França] e a presença militar estrangeira no seu território, mesmo que o objetivo declarado seja de combate ao narcotráfico e ao terrorismo na Colômbia", disse Amorim.
Referia-se ao contrato que os governos do Brasil e da França vão assinar no dia 7 de setembro, para a compra de submarinos e helicópteros e para um projeto de construção de um submarino de propulsão nuclear no Rio. A França disputa também a venda de aviões de caça para a FAB (Força Aérea Brasileira).
Amorim acrescentou que o uso de bases por forças externas é diferente também das manobras militares que o Brasil desenvolve em conjunto com os parceiros do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul). "Se perguntarem, daremos as explicações. Não é nenhum segredo, e não vejo nada de mal em falar sobre isso."
Falconí disse que o Equador recebeu, na condição de presidente pro-tempore da Unasul, um comunicado da Colômbia propondo um conjunto de temas para a reunião de sexta, inclusive sobre tráfico de armas -a Colômbia questiona a Venezuela por armas de seu Exército que foram encontradas com as Farc- e trata a questão naturalmente.
Segundo ele, "nenhum tema é vetado, devemos tratar de todos os temas referentes a segurança na reunião e, se for o caso, no Conselho de Defesa Sul-Americano [vinculado à Unasul], que é o foro para isso".
Nesse momento, Amorim balançou afirmativamente a cabeça e foi preciso: "De acordo". A proposta de arrastar a discussão para o Conselho de Defesa foi feita pelo Brasil, e o ministro Nelson Jobim (Defesa) está no Equador e na Colômbia, entre ontem e hoje, justamente para tentar fechar a ideia com os dois lados.
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