Aqui o Kfir 3054, nas instalações da IAI Tel Aviv no aeroporto Ben Gurion durante a cerimonia de entrega a aeroneve foi adquirida com finaciamento americano do "Plano Colômbia"
Foto IAI via Pan American Defense online

Sutilmente, Obama muda o foco do Plano Colômbia


Fonte: Folha de S. Paulo - Por: SÉRGIO DÁVILA

No Orçamento, ação original antidrogas perde dinheiro para programas militares

Números chamam atenção no momento em que países da América Latina discutem o aumento da presença militar dos EUA naquele país

Sutilmente, o governo de Barack Obama parece desviar o foco do Plano Colômbia da proposta original -de auxílio ao combate da produção e do tráfico de drogas para operações militares de contrainsurgência. A ação é nítida na parte militar da proposta de Orçamento do democrata para o ano fiscal de 2010, que se inicia em outubro.

O presidente dos EUA pede US$ 31,5 milhões a menos para operações de controle de narcóticos e cumprimento da lei -queda de 13% em relação ao orçamento anterior do Plano Colômbia, aprovado ainda sob George W. Bush (2001-2009).

Ao mesmo tempo, aumenta em US$ 17 milhões o destinado a operações militares não especificamente relacionadas ao combate às drogas -salto de 30% em relação ao republicano. As versões aprovadas pela Câmara dos Representantes (deputados federais) e pelo Senado dos EUA têm valores um pouco diferentes do pedido, mas respeitam o desvio de foco.

O Orçamento prevê um gasto total de US$ 513 milhões em 2010 com o país, sendo US$ 200,7 milhões para ajuda econômica e social e a maior parte -os 57% restantes- para operações militares.

Autoridades americanas monitoram o emprego do dinheiro, que sai dos EUA com finalidade específica e é objeto de um relatório anual do Congresso com detalhamento dos gastos.

Fora os países do Oriente Médio, a Colômbia é quem mais recebe ajuda militar dos EUA no mundo e é seu principal aliado na América do Sul.

A análise do destino desse dinheiro, feita primeiro pelo centro de estudos progressista Center for International Policy, de Washington, ganha relevância num momento em que a negociação entre os dois países para ampliar a presença militar norte-americana em bases na Colômbia causa desconforto nos governos da região, liderados pelos vizinhos Venezuela e Brasil, e começa a chamar a atenção do resto do mundo.
O venezuelano Hugo Chávez convocou seu embaixador na Colômbia, país que havia cobrado publicamente explicações de Caracas sobre a presença de armas do Exército venezuelano com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), o que o venezuelano disse ser "cortina de fumaça" para desviar a atenção da ampliação da presença norte-americana naquele país.

Já o Itamaraty orientou o embaixador brasileiro em Washington, Antonio Patriota, a questionar detalhes da ampliação nas três bases, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que seja convocado o Conselho de Defesa no âmbito da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), que se reúne no Equador, no próximo dia 10.

Por enquanto, o comando obamista evita se pronunciar a respeito. O atual titular do Departamento de Estado para a região, Thomas Shannon, aguarda em silêncio sua confirmação no Senado para o posto de embaixador no Brasil. O mesmo faz o indicado por Obama para ser seu sucessor, o acadêmico Arturo Valenzuela.

Na única manifestação recente sobre o assunto, na quarta, o porta-voz da chancelaria norte-americana, Ian Kelly, disse que a disputa entre Colômbia e Venezuela "não é na verdade problema dos EUA". Sobre o resto, afirmou, "não temos nenhum comentário".

Ao assumir a chefia do Comando Sul (Southcom, na sigla original), divisão do Pentágono que responde pelas atividades militares dos EUA na América Latina, em junho último, o general Douglas Fraser indicou que o combate às drogas seria o foco principal de seu trabalho.

Preocupação com as Farc

O militar, que viveu na Colômbia por três anos quando adolescente e que visitou o Brasil na semana passada, disse também que as Farc eram motivo de preocupação. "As Farc não estão derrotadas, e nós temos de continuar esse esforço."

Comentou o aumento da influência iraniana na região, que chamou de "risco potencial", disse que havia preocupação real da ligação do país persa com "grupos extremistas" locais e que se preocupava com a corrida às armas venezuelana.

"Eu me preocupo com o crescimento militar da Venezuela porque eu não entendo a ameaça que eles veem", disse então. "Não vejo uma ameaça militar convencional na região, então não vejo sua necessidade de aumentar suas Forças Armadas ao ponto que estão fazendo."


Atuais bases militares americanas na America Latina

Obama segue política de Bush na América Latina, diz Cuba


Agência AFP

O governo de Barack Obama está dando continuidade à política de ingerência de George W. Bush na América Latina, com sua posição ambivalente frente ao golpe de Estado em Honduras, disse nesta sexta-feira o diário oficial Granma.

- Se na cúpula das Américas de abril passado, em Porto Espanha (Trinidad e Tobago), o presidente Obama pretendeu se diferenciar de seu antecessor nas relações com a América Latina, seus últimos passos mostram que seu governo está dando continuidade à política de ingerência da administração de George W. Bush - destacou o Granma.

- O golpe de Estado em Honduras confirma isto, porque Washington manteve uma dupla atitude, que na prática serviu para os golpistas ganharem tempo - acrescentou o órgão oficial do Partido Comunista (PCC, único).

Ele destacou que, em Washington, o legítimo presidente hondurenho, Manuel Zelaya, é criticado, enquanto o governo de fato recebe um silêncio cúmplice, uma posição ambivalente, que incentiva as autoridades de fato.

Segundo o Granma, outra das ações de Obama que aponta para a continuidade da política anterior é sua intenção de elevar a um nível superior o Plano Colômbia de Bush, de expandir a presença militar americana na região.

Crítica a uso de bases militares explora antiamericanismo

Chávez conseguiu que América Latina desviasse atenção das armas vendidas pela Suécia à Venezuela encontradas com as Farc para reclamar de fato trivial

Fonte: Folha de São Paulo - RICARDO BONALUME NETO

O presidente venezuelano Hugo Chávez é um gênio da propaganda. Conseguiu que a América Latina desviasse a atenção de um fato seríssimo -a Colômbia ter achado com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) foguetes antitanque AT-4 que foram vendidos pela Suécia ao Exército da Venezuela -, para começar a reclamar em uníssono contra um fato trivial: um pequeno aumento do número de militares americanos em cinco bases colombianas.

lança-foguetes AT-4


Chávez sabe explorar habilmente o antiamericanismo sempre latente na região.

Há vários motivos para um fato ser sério e outro, trivial. Armas das Forças Armadas de um país serem encontradas com a narcoguerrilha em um país vizinho é algo sério, ilegal e que mereceria investigação. Permitir que militares de um país amigo façam operações conjuntas e utilizem bases é algo trivial e legítimo em qualquer parte do mundo, desde que aprovado pelo governo local.

E-3 Sentry - AWACS

O aumento do número de militares e civis americanos na Colômbia já era esperado desde que o Equador decidiu não renovar a permissão para os EUA usarem a base aérea de Manta. Para os EUA poderem continuar fazendo voos com os aviões-radar de alerta antecipado E-3 Sentry AWACs e de patrulha marítima P-3 Orion, precisariam de novas bases.

Pode-se argumentar que os EUA vão mais que "triplicar" o número de militares. Mas o número em si é pequeno: de 250 para 800 militares, além de 600 contratados civis. Não é bem uma invasão.

A localização das bases também deixa claro que o foco é em operações contra traficantes, não um "cerco" à Venezuela, como reclamou Chávez. Há um fluxo de droga por mar e ar.

Duas das bases onde operam ou operarão os americanos estão no litoral do Caribe -a base naval Bolívar, em Cartagena, e a base aérea Alberto Pouwels, em Malambo (Barranquilla). Uma está no Pacífico -base naval Bahía Málaga, ideal para substituir Manta. E duas estão no interior -base aérea Palanquero, em Puerto Salgar, e base aérea Apiay, em Villavicencio.

Um detalhe óbvio está ausente: desde quando os EUA precisariam de bases na América Latina se quisessem intervir militarmente na região?



Há só uma superpotência militar no planeta hoje. Nenhum outro país tem o alcance global das Forças Armadas dos EUA.

Ter bases próximas de onde se queira atacar é útil, mas não essencial. Se quisessem bombardear Caracas e Chávez, não seria preciso uma base na Colômbia. Basta lembrar que os EUA usaram porta-aviões para atacar o Afeganistão em 2001.

Um porta-aviões nuclear USS Nimitz tem 100 mil toneladas de deslocamento. Carrega 85 aeronaves e quase 6.000 tripulantes. Basta um para varrer a Força Aérea Venezuelana do mapa. A Marinha dos EUA tem dez destes navios e um mais velho, o USS Enterprise.

O antiamericanismo era típico da época em que de fato os EUA intervinham militarmente na América Latina. Antes da Segunda Guerra, era rotina ter fuzileiros navais ocupando países como Cuba, Haiti, República Dominicana, Nicarágua. Depois, houve na Guerra Fria o apoio explícito a ditaduras para evitar novas Cubas.

Mas, com a redemocratização do continente a partir dos anos 80, desaparecem motivos e pretextos para intervenções.

Uma curiosa exceção aconteceu em dezembro de 1989, quando o então presidente americano George H. W. Bush ordenou a invasão do Panamá para derrubar o ditador e narcotraficante Manuel Noriega.

O mais novo porta-aviões nuclear dos EUA chama-se USS George H. W. Bush -nome que decerto desagrada a Chávez.