Rafale, Super Hornet e Gripen - Análise comparativa


Ao fim de muitos adiamentos, o programa FX2 está actualmente num processo evoluído e deverá ter um vencedor a curto prazo. Actualmente 3 modelos estão na short-list para a decisão final: Rafale (baseado na versão F3), F/A18 E/F Super Hornet e Gripen NG. Estas aeronaves estão dentro da geração 4+ ou 4,5. São modelos com muitas diferenças entre si e cuja análise comparativa é complexa e extensa, sendo este artigo uma abordagem às características mais importantes e pertinentes para compreender o que cada um apresenta de vantagens e desvantagens.



Motorização e Potência

No que toca a motores, SH e Rafale possuem 2 motores, o que é natural tendo em conta o seu peso, quanto ao Gripen, por ser um caça ligeiro, possui apenas um.

O Rafale actualmente utiliza um par de M88-2, com uma potência de 50,04 kN (11.250lbf) (N.A. lbf = medida de potência medida em libras), e de 75,62 kN (17.000lbf) com after-burner, o que tendo em conta o Rafale ser um bimotor, equivale a uma potência total de 22.500 libras, ou 34.000 com after-burner.

Actualmente a empresa Snecma já está a trabalhar numa nova versão, o M88-Eco que terá uma manutenção mais simples e económica e uma potência maior, que deverá chegar às 20.000 libras, algo que resulta da evolução constante deste motor (que já conta com outras duas versões: M88-3 e M88-4), e que deriva também da pressão de potenciais compradores como os Emiratos Árabes Unidos, que exigem um motor mais potente que o M88-2 original.

M-88, o motor do caça Rafale

Super Hornet e Gripen tem basicamente o mesmo motor base, o F414 da americana General Electric. No caso do SH, trata-se do F414-GE-400, um motor com uma potência de 62,3 kN (14.000 lbf), ou 97,9 kN (22.000lbf) com after-burner, o que dá uma potência total de 28.000 libras em regime normal e de umas impressionantes 44.000 com after-burner. O Gripen usa o F414-G do consórcio GE/Volvo Aero, este modelo possui ligeiras alterações em relação ao modelo-base utilizado pelo SH, para permitir a sua instalação em versão monomotor. No entanto, apesar de ter uma potência base muito inferior aos dos seus adversários, o Gripen tem a capacidade de SuperCruise (voar à velocidade do som, sem utilizar o after-burner), desde que carregando uma carga ligeira, como mísseis ar-ar. No caso de usar depósitos de combustível e armas de peso elevado, essa capacidade será inviável.

Acima, o motor F-414 que equipa o Super Hornet e o Gripen

Todos estes motores utilizam um sistema FADEC (Full Authority Digital Engine Control), que permite elevadas acelerações (no caso do Rafale permite passar de Stand By a After-Burner em apenas 3 segundos), e terão também sido optimizados para emitirem o mínimo de calor possível, de modo a transmitir um sinal infra-vermelho reduzido e assim tornar a sua detecção difícil.

Ao analisar as diferentes motorizações, existem outros factores em análise como o peso que essa potência instalada terá que mover.

No caso do Rafale, o seu peso vazio ronda os 10.000 Kg, com um peso máximo de 24.500 Kg, o que dá valores peso/potência bastante elevados: 2,25 libras de potência por cada Kg de peso (usando a potência básica e o seu peso em vazio), passando para 0,918 lbf/kg com carga máxima.


Usando after-burner, estes valores aumentam exponencialmente, o que é importante numa situação de combate intenso (3,4 lbf/kg e 1,38 lbf/kg respectivamente).


O Super Hornet apresenta a maior potência instalada, mas também o maior peso dos 3 concorrentes. Em vazio atinge um peso de 13.900 Kg e um peso máximo de 30.209 Kg. Com os motores em regime normal, atinge 2,014 lbf/kg e 0,927 lbf/kg (peso mínimo/peso máximo), usando after-burner esses valores passam para 3,165 lbf/kg e 1,456 lbf/kg.

O Gripen NG está numa classe muito diferente dos seus concorrentes. Com um único motor possui uma potência de 62,3 kN (14.000lbf) e 97,9 kN (22.000 lbf), no entanto, por ser um caça ligeiro, o seu peso é muito menor que o dos seus concorrentes: 5.900 Kg vazio e16.000 Kg de peso máximo, do que resulta uma potência de 2,372 lbf/kg e 0,875 lbf/kg em regime normal, e de 3,728 lbf/kg e 1,375 lbf/kg com after-burner.

Estes valores apresentam variáveis mínimas e máximas, pelo que serão insuficientes só por si para compreender na sua totalidade os diversos regimes de peso/potência de cada aeronave, tudo dependerá também do peso dos armamentos transportados, das dimensões e formas das aeronaves, condições meteorológicas, entre outros.

No entanto, será possível retirar algumas conclusões destes diferentes cenários: num regime de carga pesada (como é o caso das missões de ataque ao solo) o Super Hornet possui melhores performances que o Rafale (apesar de o Rafale ter um menor peso-base), algo que poderá mudar com o Snecma M88-ECO.

Porém, o Rafale em regime de voo com carga reduzida (como é o caso de missões ar-ar) atinge valores muito positivos e inclusivamente superiores aos do SH.

O Gripen apesar da pouca potência instalada, tem também um peso reduzido, o que dá uma boa relação peso/potência, de tal modo que é o que possui os melhores valores em regime de baixo peso. Além disso, a sua menor dimensão leva a que haja um menor atrito, conduzindo a uma inerente vantagem que lhe possibilita inclusivamente a capacidade de SuperCruise.

Performance e alcance

Em relação à performance e alcance de cada um dos 3 concorrentes, os valores são variáveis e dependentes de múltiplos factores. São também de elevada importância para uma nação com as dimensões do Brasil, onde as distâncias entre as diversas regiões assumem valores na casa dos milhares de quilómetros.

O Rafale possui uma velocidade máxima de Mach 1,8, sendo capaz de aguentar altos níveis de stress a velocidade elevada, 9 G's positivos e até 3,2 G's negativos, tendo também uma capacidade de subida superior a 60.000 pés por minuto.

O Super Hornet possui valores relativamente próximos do Rafale, ainda que seja ligeiramente mais rápido em regime de after-burner.

O Gripen NG será capaz de atingir Mach 2, no entanto terá uma capacidade de subida ligeiramente abaixo dos seus concorrentes (55.000 pés por minuto).

De notar que qualquer dos 3 é capaz de atingir elevados níveis de esforço, típico em manobras de «dogfiht», sendo que o limite reside mais no piloto do que na aeronave. Em termos de subida, também é de notar que esse factor depende em muito das condições atmosféricas (humidade, correntes ascendente/descendentes), assim como da carga da aeronave.

Em termos de manobrabilidade o Super Hornet possui uma configuração que não é tão eficiente para o combate próximo - o «dogfight» - enquanto o Rafale e Gripen NG que possuem uma estrutura de asa em delta com canards na parte posterior da fuselagem, conseguem fazer viragens muito apertadas.

Porém, qualquer uma destas aeronaves utiliza mísseis ar-ar de curto alcance de última geração (como o AIM-9X, IRIS-T ou MICA IR,...) que não necessitam de estar numa posição à retaguarda do alvo para serem disparados.

Podem ser disparados a partir de qualquer incidência e acoplados a um capacete JHMCS (Joint Helmet Mounted Cueing System) basta ao piloto olhar para o alvo para este automaticamente ficar "iluminado" e o míssil pode ser disparado, tornando assim pouco relevantes as características de voo das aeronaves para este tipo de combate.

Outro factor importante na performance de voo é a relação da área da asa e o peso do avião. Quanto menor a área, maior o peso a sustentar pela asa e menores certas performances de voo.

No caso do Rafale, a área total das asas é de 45,7 m2 [1], o que com um peso normal de combate dará um rácio de 326kg/m2.

O SH apesar de ter uma asa mais estreita, possui uma envergadura de 13,62 m. (contra 10,80m. do Rafale), tendo uma área superior de 46,45m2, mas devido aos maiores pesos em todos os regimes de voo, acaba por ter um rácio de 453 kg/m2 com um peso em regime de combate normal.

O Gripen NG possuirá uma área de apenas 30m.2, derivados da sua pequena envergadura (8,4m.), mas essa área pequena, terá de dar sustentação a um avião leve, pelo que o seu rácio será de 336kg/m2, perfeitamente dentro dos valores normais de um caça ligeiro.

Estes valores devem ser vistos dentro de contextos variáveis e relacionados também com a potência dos seus motores. No entanto, se em termos de sustentação, o Rafale revela ser equivalente ou apenas ligeiramente superior ao Gripen NG, tanto Rafale quanto Gripen NG serão superiores ao SH. Em boa parte este facto deve-se tanto à configuração de asas destas aeronaves (que no caso de Rafale e Gripen NG recaiu pelo formato em delta), como também ao facto de por norma o SH carregar maior carga de armas/combustível.

Alcance

Em vermelho o Alcance estimado (máximo total) do caça Rafale
operando de bases no Brasil a partir Manaus, Goiânia e Porto Alegre.


Em termos de alcance, a Dassault anunciou em 1995 que o Rafale de desenvolvimento (muito mais ligeiro que os de produção) teria feito um voo de 3020 milhas náuticas (aprox. 5481 Km’s) em menos de 6 horas e meia, no entanto, estes valores serão diferentes no Rafale F3. Ainda assim, fica claro o seu grande alcance.

Quanto ao Super Hornet, este terá um alcance ferry de 3.330 Km’s, e bons alcances com cargas pesadas, devido às boas prestações do seu motor e asas com boa sustentação.

O Gripen NG terá um alcance em regime de ferry de 4.000 Km’s, segundo foi assegurado pela própria Saab, foi também transmitido que numa missão de combate o Gripen NG poderá voar até 1.300 Km’s da sua base, permanecer por 30 minutos no local e efectuar o voo de retorno, estes valores contradizem a percepção de que um caça ligeiro monomotor como o Gripen NG teria no alcance o seu calcanhar de Aquiles, na realidade, devido ao seu peso ligeiro (que permite consumos mais reduzidos) e a um redesenho interno do Gripen (que lhe permite transportar mais 40% de combustível), este conseguirá atingir um alcance muito elevado, tendo ainda a vantagem de contar com o SuperCruise para se movimentar rapidamente entre grandes distâncias.

Todos utilizam um sistema de sonda "hose and drogue" para reabastecimento aéreo. No caso do Rafale a sonda é fixa, sendo que Gripen NG e SH utilizam uma sonda que recolhe para a fuselagem, evitando criar atrito. O SH, apesar de ser um avião norte-americano, não utiliza o sistema "Boom" utilizado pela maioria dos aviões norte-americanos (F-15, F-16, B-1, B-2,...), isto porque por ser um avião desenvolvido a pensar na U.S.Navy, adoptou o sistema "hose and drogue", tipicamente utilizado por aviões embarcados e também pelos U.S. Marines, este é também o sistema em uso pela FAB e será vital para que os KC-137, KC-130H e os futuros KC-390 sejam compatíveis com o novo caça.

A importância desta capacidade é enorme, ao permitir extender o alcance do vector aéreo e assim permitir que todo o território brasileiro esteja ao alcance desse avião, permite mesmo possuir a capacidade de lançar missões muito para além das fronteiras, garantindo que haja o combustível suficiente para efectuar a viagem e também participar em combates onde o consumo de combustível costuma aumentar de forma dramática.

Além do reabastecimento por aviões especializados, Rafale, SH e Gripen NG estão também habilitados a praticar reabastecimento "Buddy-Buddy", em que uma aeronave transportando vários depósitos de combustível sob as asas, vai abastecendo as outras aeronaves do grupo, usando para o efeito um depósito especial com uma mangueira extensível e um receptáculo na ponta (Basket), que efectuará a transferência de combustível.

[1] - N.A. m2 = metros quadrados


Armamentos

Em termos de armamento existem diferenças entre os 3 concorrentes que convém enunciar:

Canhões

O Rafale tem o Giat 30/791B com um calibre de 30 mm e 125 munições de reserva (do mesmo calibre dos canhões usados no Mirage 2000, mas mais moderno).

O Super Hornet utiliza o M-61 Vulcan de 20 mm (canhão-padrão dos aviões norte-americanos) do tipo gatling e com 581 munições de reserva (a grande quantidade de munições de reserva está ligada ao elevadíssimo ritmo de fogo deste canhão).

O Gripen NG utiliza o Mauser BK-27 (também utilizado pelo Eurofighter) com um total de 120 munições.

Rafale e Gripen NG possuem um canhão de calibre mais pesado, mas menor ritmo de fogo, o SH com um calibre menor, possui um maior ritmo de fogo, duas opções diferentes portanto.

Mísseis ar-ar

Para o combate ar-ar, o Rafale conta com os MICA nas versões IR (Infravermelhos) e EM (Radar), os velhos Magic II, e no futuro o potente míssil Meteor, um míssil desenvolvido por um consórcio europeu e que revolucionará a luta BVR (Beyond Visual Range). Impelido por um foguete de tecnologia Ramjet, o Meteor será capaz de atingir velocidades de Mach 4 e alcançar objectivos a mais de 100 Km's de distância. No momento do impacto, irá com uma energia cinética entre 3 e 6 vezes superior ao de outros mísseis da sua classe, tendo também capacidade de operar num ambiente de densas contramedidas electrónicas e a capacidade de receber actualizações em pleno de voo, inclusivamente de outros aviões (o R-99 teria neste aspecto um valor enorme). Resumindo, o MBDA Meteor é um míssil com capacidade BVR de muito longo alcance e pode complementar outros mísseis BVR com menor alcance como é o caso do Derby (alcance de 50 Km) em uso nos F-5 EM/FM da FAB.

Esquema do míssil METEOR na foto de topo e do míssil anti-navio Exocet (acima)

No caso do Super Hornet, o AIM-9 X de guia infravermelha seria o míssil de eleição para o combate ar-ar de curto alcance, é um míssil moderno e capaz de manobras extremas, para o combate BVR o AIM-120C-7 proporciona uma capacidade já comprovada em vários conflitos, no entanto, este míssil BVR tem um alcance e inércia cinética inferior ao Meteor. A Raytheon já está a trabalhar no ERAAM (uma versão com alcance maior do AMRAAM) e no FRAAM (um míssil que incorpora novas tecnologias) para colmatar estes défices, será um míssil na categoria do Meteor e resulta da cooperação entre norte-americanos e ingleses.

http://sistemasdearmas.com.br/aam/aim9xpartes.jpg

No caso do Gripen NG, a vantagem está no seu elevado nível de integração de armamentos de outras nações: utiliza tanto o AIM-9X, como o AMRAAM ou o Meteor, tendo mesmo realizado o primeiro disparo deste último. Pode também utilizar os MICA, o IRIS-T ou o Skyflash, e não deverá ter dificuldades para incorporar o Derby, MAA-1 ou outros em serviço na FAB.

Ataque ao solo

Rafale armado com bombas guiadas

Em termos de ataque ao solo, o Rafale tem no Scalp EG (Storm Shadow na versão inglesa) uma potente arma de ataque à distância. Trata-se de um míssil de cruzeiro com características stealth e um alcance de 250 Km. No seu trajecto a muito baixa altitude, o míssil voa a velocidade subsónica e no final do voo identifica o alvo através de um sensor de infravermelhos passivo. É um míssil com capacidade de destruir alvos estratégicos e operar em ambientes de defesa anti-aérea densa, resistindo inclusivamente a modernos sistemas de jamming electrónico. Outro sistema a entrar ao serviço com o Rafale é o AASM (Armement Air-Sol Modulaire), baseado em bombas convencionais de 125kg ou 250Kg, inclui um kit com sistema INS/GPS (tal como o JDAM norte-americano) e possui uma precisão de 10 metros. Num upgrade recente, um sistema de busca infra-vermelho acoplado ao sistema INS/GPS, conseguiu melhorar a precisão, que chega a ser de um metro. O Rafale tem também entre o seu arsenal bombas guiadas por laser da família GBU, o míssil Apache que esteve na base do Scalp EG e que usa uma carga de 10 submunições para interditar o uso de pistas de aviação. Além destes sistemas de ataque ao solo, o Rafale será também capaz de atacar alvos navais, para isso pode usar os mísseis Exocet na sua versão mais recente: o MM40 Block 3, com um alcance de 180 Kms e que usa um novo sistema de navegação destinado a dar-lhe um voo com múltiplas mudanças de direcção e assim iludir sistemas de defesa anti-míssil, este míssil possui um impressionante currículo de combate, tendo afundado múltiplos navios na Guerra das Malvinas e na Guerra Irão-Iraque. O Rafale pode ainda usar bombas convencionais e Foquetes ar-solo.


O Super Hornet usa a maioria das armas de ataque ao solo ao dispor da aviação norte-americana: Bombas JDAM, Bombas a laser Paveway (inclusivamente as Mark IV com designação dual GPS/Laser), mísseis AGM-65 Maverick (Em versões a Laser, infravermelhos e por TV, para uso contra blindados e outros alvos móveis ou estáticos), AGM-84 SLAM ER (Um míssil com capacidade de atacar alvos tanto em terra como no mar, estejam estacionários ou em movimento, e na sua versão K, é inclusivamente capaz de identificar um alvo autonomamente e atacá-lo de imediato, a mais de 150 Kms do seu local de lançamento), AGM-154 JSOW (Uma bomba planadora, capaz de atingir alvos a mais de 100 Kms de distância, usa um sistema INS/GPS para o voo e um sistema de infravermelhos para a aproximação final, dando-lhe uma grande precisão. Existem 3 versões: A - com uma carga de 145 BLU-97B, submunições capazes de atingir uma área extensa e causar danos a veículos e pessoas; B - Versão anti-tanque que usa 6 BLU-108/B que por sua vez carregam 24 submunições cada, estas possuem um sensor capaz de detectar carros de combate, e assim procurar um ângulo de ataque para o seu explosivo perfurante; C - com uma WDU-44 e uma WDU-45, estas duas cargas foram desenhadas para agirem em conjunto e destruírem alvos difíceis como bunkers. Existem ainda vários novos modelos em desenvolvimento que irão melhorar as capacidades desta arma de ataque de precisão), AGM-88 HARM (High speed Anti-Radiation Missile - Um míssil destinado a seguir as emissões de Radar de sistemas de defesa anti-aérea, conferindo ao SH capacidade de realizar missões SEAD), Bombas CBU (de submunições), Bombas de queda livre como as Mark82/83/84, roquetes de diversos calibres e ainda mísseis AGM-84 Harpoon (para uso anti-navio e capaz de atingir alvos a 280 Km de distância), e muitas outras armas se juntam a esta lista.

Este enorme arsenal de guerra tem a reputação de eficiência em várias guerras travadas pelos E.U.A. no Iraque, Afeganistão, Sérvia/Kosovo, Somália, Sudão (ataques aéreos em 1998),...e ainda será reforçado com outros equipamentos, como bombas SDB (Small Diameter Bomb, bombas de pequeno diâmetro mas com grande precisão, capazes de atingir diversos alvos evitando danos colaterais devido ao seu pequeno tamanho e carga explosiva) e outras armas de precisão.

Esquema mostrando a quantidade de sistemas de armas que podem ser utilizadas a partir do Super Hornet.

O Gripen NG também possui a versatilidade dos seus concorrentes, usando não só equipamentos norte-americanos e europeus, como também algumas armas de desenvolvimento Sueco, caso do míssil Taurus (desenvolvido em parceria com a Alemanha) capaz de atingir alvos a 350 Km’s de distância, usa uma ogiva dupla para perfurar o solo e explodir no interior de um bunker soterrado. A Suécia desenvolveu também o RBS-15 Mk II, um míssil anti-navio capaz de atingir alvos a mais de 70 Kms de distância e cujo alcance na versão Mk IV poderá chegar aos 1.000 Kms. Além destas armas, o Gripen tem demonstrado enorme polivalência e capacidade de integração de diferentes armamentos, como se tem comprovado com o Gripen da África do Sul que já incorporou tanto o Derby como o Darter-A. É neste ponto que o Rafale e SH se revelam menos flexíveis, sendo que a integração de armamentos de diferentes proveniências serão mais complicados.

O míssil Taurus, resultado da cooperação entre suecos e alemães.

Outro factor importante neste capitulo, é a quantidade de pontos de encaixe de armamento que cada aeronave possui assim como a carga máxima que estes possam carregar, o Rafale possui 14 cuja capacidade de carga chega às 9 toneladas, o Super Hornet possui 11 pontos de encaixe, e a sua capacidade de carga é de 8 toneladas. O Gripen NG possuirá 11 pontos (9 no Gripen C/D) e uma carga de 6 toneladas, todos estes aviões têm pontos de encaixe (na fuselagem, ou nos pontos de asa próximos da fuselagem) que permitirão o uso de depósitos de combustível para aumentar a distância de combate, sendo também capazes de transportar um mix de armas ar-ar, ar-solo.

Sistemas eletrônicos

Após um complexo desenvolvimento, o Rafale irá possuir um radar com tecnologia AESA: o RBE2 da Thales, que na sua evolução AA irá usar apenas equipamento de origem europeia (e não sujeita ao boicote norte-americano). Segundo a Thales este radar terá capacidade de actuar numa banda larga elevada e em sistema totalmente monopulso, o que lhe dará uma leitura espectral bastante pura.

No entanto, os dados acerca deste novo sistema são muito escassos e por consequência é difícil avaliar a sua real capacidade.

Um segundo sistema de detecção do Rafale baseia-se na visão optrónica que funciona tanto no espectro visual como infravermelho, em varrimento frontal, trata-se do OSF. Estes e outros sensores são integrados no SPECTRA que permite transmitir ao piloto uma imagem do ambiente onde opera e detectar ameaças activas. O SPECTRA permite ao piloto saber o tipo de sistema que está a "iluminar" a sua aeronave (por guiamento radar, infravermelho, laser, optrónico,...) e assim agir com a contra-medida e manobras aéreas adequadas. No papel, os sistemas electrónicos do Rafale estão entre os mais modernos do mundo, no entanto, a sua integração ainda é recente e falta-lhe comprovação em ambiente de combate, sendo que no Afeganistão a sua missão passou por dar apoio aéreo, não havendo ameaças reais à sua actuação.

Os sistemas electrónicos do Super Hornet estão entre os mais modernos do mundo e têm a vantagem de terem muita experiência de combate no Iraque e Afeganistão. O seu radar APG-79 de tecnologia AESA já demonstrou uma elevada definição no mapeamento terrestre através do modo SAR (Synthetic Aperture Radar), e em modo ar-ar está entre os mais avançados do mundo, capaz de resistir a ambientes de contra-medidas electrónicas densas e actuar em modo passivo com bons resultados. Para a detecção de alvos terrestres o Super Hornet conta ainda com o AN/ASQ-228 ATFLIR, um sistema de detecção por infravermelhos com alcance de até 48 Kms. Em termos de capacidade de defesa electrónica, o AN/ALQ-214 é um sistema de jamming electrónico com uma das "bibliotecas" mais extensas do mundo, fruto do elevado trabalho de prospecção electrónica levada a cabo pelos E.U.A. através de aviões como o EP-3E, RC-135 Rivet Joint, entre outros.

Isto significa que com o AN/ALQ-214 o SH poderá interferir com a maioria dos sistemas de radar do mundo, sejam de aeronaves, ou de sistemas SAM, conferindo-lhe um elevado nível de sobrevivência. A este sistema está ligado o AN/ALE-55 (Fiber Optic Towed Decoy), que usando os dados do AN/ALQ-214, usa um decoy para simular o SH, assim, quando um míssil se encaminhar para o SH, este decoy é usado para simular o SH e afastar o míssil do seu verdadeiro alvo. Para a defesa contra mísseis de orientação por infravermelhos , o SH possui um sistema SUU-42A/A que dispara Flares com uma intensidade calorífera que simula os motores dos SH. A sua capacidade para combate em ambiente NCW é também elevada devido ao uso do sistema de data-link Link-16, que usa o AN/USQ-140 para distribuir múltipla informação entre outros elementos amigos que estejam na zona, de novo, é de realçar a experiência conseguida com este sistema no Iraque e Afeganistão, onde em pleno combate permitiram transmitir informação em tempo real entre os elementos no solo, as aeronaves na zona e até ao Quartel-General do Central Command norte-americano situado milhares de quilómetros de distância. A integração de todos estes sensores transforma o SH num dos aviões com maior SA (Situational Awareness) do mundo, e constitui o seu ponto forte em relação à concorrência.

O Gripen NG seguirá o "Modelo Sueco" de tácticas de combate electrónico, o qual já deu resultados surpreendentes em missões de treino contra outras aeronaves da NATO, supostamente superiores neste campo.

A Suécia tem investido continuamente no desenvolvimento de sistemas electrónicos desde a Segunda Guerra Mundial e conseguiu produzir toda uma gama de Radares e Sistemas de Jamming que estão entre os mais completos do mundo. Esta necessidade decorreu da tradicional independência Sueca em área de armamentos devido à sua neutralidade politica ao longo de todo o século XX, aliado a esta situação, a proximidade geográfica da ex-União Soviética tornou vital o domínio da electrónica, e ao longo de décadas a Força Aérea Sueca fez reconhecimento ELINT ao longo das suas fronteiras. Isso permitiu-lhe criar uma "biblioteca" de sinais electrónicos bastante completa e desenvolver sistemas bastante capazes. O radar PS-05/A do Gripen C/D será renovado com tecnologia AESA, usando módulos baseados nos mesmos utilizados do RBE2 do Rafale. Um total de 1000 módulos T/R serão utilizados numa varredura de 200 graus que permitirá "olhar pelo ombro", permitindo uma visualização mais alargada que a tradicional varredura frontal. Entretanto, o Gripen NG possuirá também um sistema IRST para detecção por infravermelhos. Todos estes sistemas são integrados num elevado grau, dando ao Gripen um dos melhores sistemas de Sensor Fusion da sua classe.

Componente política e transferência tecnológica

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Num negócio da magnitude do FX2, é inevitável que outros factores para além do militar acabem por ter uma influência na decisão.
A FAB ao evitar escolher um candidato, delega na liderança política essa decisão, e esta (além dos pormenores técnicos de cada aeronave), avalia também o relacionamento com o pais de origem numa perspectiva geoestratégica.
Mas, também avalia o impacto que essa compra possa ter a nível de contrapartidas industriais, sempre importantes para potenciar a economia brasileira, assim como na transferência de tecnologias aeronáuticas, numa perspectiva de saltar os vários estágios de investigação necessários para atingir a maturidade tecnológica de diversos componentes, sendo o objectivo final do Brasil adquirir competências que lhe permitam desenvolver autonomamente aeronaves de alta capacidade militar, uma capacidade ao alcance de poucas nações.

O Rafale e a França, representam uma relação estável e que já dura há décadas. França e Brasil já têm parceria nos submarinos, e a transferência de tecnologias nesta área irá dar os seus frutos em breve. Além disso, a França tem fornecido ao Brasil os principais vectores de defesa como o Mirage III e mais recentemente o Mirage 2000, não tendo havido problemas logísticos ou de qualidade de fabrico.
Porém...com o FX2 pretende-se ir muito além destes últimos caças, e as tecnologias a transferir estão entre as mais sensíveis na área militar. Sistemas de Radar, Motores e Técnicas de redução de Assinatura Radar, entre outros. Basta verificar as dificuldades que a Índia tem tido com o seu motor Kaveri para se perceber a dificuldade de desenvolver autonomamente essa tecnologia.

A própria China, mesmo praticando «reversed-engineering» de motores russos, ainda está longe de conseguir produzir um motor com qualidade. É um processo longo, complexo e caro.

Com as tecnologias electrónicas passa-se o mesmo. Desenvolver um radar AESA é um processo que só agora começa a ter resultados, e são ainda muito poucos os radares dessa classe desenvolvidos. A França pode ter aqui um papel primordial, no entanto, até onde está a França disponível para partilhar conhecimentos considerados segredo de estado?

Nesse mesmo campo...a Suécia já demonstrou uma grande abertura com o projecto R-99, esse mesmo aparelho tem sido vendido a países como a Grécia e México e é um bom exemplo de cooperação tecnológica numa área bastante sensível. No entanto, o Gripen NG é um avião com muitos componentes de origem não-sueca (como por exemplo o motor F414-G), e essas tecnologias não poderão ser partilhadas com o Brasil. Além disso, o peso do relacionamento com a Suécia é relativamente reduzido em termos internacionais.

O Super Hornet possui um elevado conjunto de tecnologias de ponta em estado de maturidade comprovada em combate. Porém, os norte-americanos têm tido uma política muito reservada na hora de transferir tecnologias sensíveis , e apesar da abertura demonstrada nos últimos tempos, resta saber até onde irão partilhar os seus conhecimentos tecnológicos.

No que toca ao fornecimento logístico, têm surgido preocupações nos mídia brasileiros acerca da hipótese de um embargo (como aconteceu com Índia, Paquistão,...), que acabe por imobilizar as aeronaves responsáveis pela defesa do pais. No entanto, o Brasil já é cliente dos E.U.A. há muito tempo (caso dos F-5,...) e nunca houveram problemas nesse campo, nem é de prever que os venham a haver no futuro.

Além destes pontos, existe também a questão Geoestratégica. Apesar de ser um parceiro de topo do Brasil, os E.U.A. sempre tiveram uma política para com os países da América Latina que preconizava um certo grau de arrogância, outras vezes indiferença. Aparentemente a presidência de Obama está a tomar um novo rumo na abordagem à América Latina, mas até que ponto estarão dispostos a ir? Autorizará o Congresso norte-americano a transferência de tecnologias de ponta?

Conclusão e dados adicionais
http://www.defenseindustrydaily.com/images/AIR_JAS-39_Gripen_Top_Smokewinders_lg.jpg
Gripen NG Saab (Suécia)
Raio de combate 1.300 km
Velocidade máxima 2.100 km/h
Motor 1 (GE 414)
Peso máximo de armamentos 6,5 toneladas
Ponto forte: Seria o mais barato e poderá agregar tecnologia até o início da produção
Ponto fraco: Como é um projeto em desenvolvimento, poderá ficar mais caro que o previsto
Nunca foi testado em combate

Rafale, Super Hornet e Gripen NG, são três aeronaves modernas e com uma capacidade militar enorme, no entanto, as semelhanças e as diferenças são muitas e fazem com que cada uma destas aeronaves se destaque das restantes em algumas características especificas.

Super Hornet F-18
Fabricante Boeing (EUA)
Raio de combate 1.800 km
Velocidade máxima 2.100 km/h
Motores 2 (GE 414)
Peso máximo de armamentos 8 toneladas
Ponto forte: É o mais testado. Foi muito usado no Afeganistão, Bosnia e Iraque e está sendo produzido em larga escala, a fabricante garante abrir mercado americano exatamente no momento em que a USAF re-lança requerimento para comprar 100 aeronaves similares ao Super Tucano.
Ponto fraco: Há poucas chances de o Brasil aperfeiçoar a tecnologia, pois o modelo já está consolidado.

Não é o objectivo deste artigo indicar uma que seja globalmente a superior, até porque, cada uma será a melhor dependendo do cenário. Assim sendo, caberá à FAB avaliar pormenorizadamente o cenário e as missões em que a nova aeronave irá actuar para poder avaliar a que melhor se adapta a esses critérios, e esta selecção é de tal modo especifica, que só uma entidade especializada como a FAB estará devidamente credenciada para a fazer com rigor militar.

Porém, como em todas as decisões desta magnitude, o factor politico acabará por ser preponderante.


Rafale F-3 Dassault (França)
Raio de combate 1.800 km
Velocidade máxima 2.100 km/h
Motores 2 (sNeCMa M882)
Peso máximo de armamentos 8 toneladas
Ponto forte: Foi muito usado no Afeganistão, além disso o Brasil já tem aliança na área com a França: está comprando helicópteros e submarinos e o avião possui versão naval capaz de ser usada pela marinha no porta aviões São Paulo. Ponto fraco: É apontado por especialistas como o mais caro e só a França usa o equipamento.

O Rafale é o modelo favorito do poder político e tudo indica que será o escolhido, resta saber quanto custará esta opção e quais serão as vantagens para o Brasil no futuro.