F-X2: Boeing expõe sua última cartada
Boeing encontra imprensa especializada no Rio para falar e para ouvir
Fonte: Alide - por Felipe Salles
Michael Coggins, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Boeing, uma das figuras mais envolvidas com a forte dos caças F-18E/F para o Brasil reuniu um grupo de repórteres que vem acompanhando de perto a evolução da concorrência F-X2 para defender seu produto e fustigar a concorrência. Desde a entrega das propostas a Boeing tem mantido pelo menos um executivo sênior permanentemente no Brasil, eles vêm se substituindo por aqui a cada duas semanas, em um esquema de rodízio.
Coggins detalhou os planos que fazem parte da nova oferta final (Best and Final Offer - “BAFO”) da Boeing. Segundo ele, o preço do pacote americano não se modificou na última rodada, mas outras coisas foram adicionadas para “adoçar” a proposta. Para não impactar o ritmo de entrega (12 aviões por ano, em 2013, 2014 e 2015) os primeiros doze aviões (“um esquadrão”, como ele qualificou) seriam entregues a partir da linha de produção americana, com os 24 restantes, e quaisquer outros aviões contratados posteriormente, sendo montados pela Embraer em Gavião Peixoto.
A fabricação do F-18E/F no Brasil
Pela Boeing, a Embraer montaria as aeronaves a partir de um kit completo de componentes, ao qual se adicionaria aqui os componentes fabricados no país como off-set. Para atender às necessidades de conteúdo brasileiro nestas aeronaves a Boeing propôs que as seções externas das asas, aquelas que ficam para fora da dobradiça, assim, como, o “nose barrel”, o segmento do nariz localizado entre a antepara de apoio do radar e a base do pára-brisa frontal do avião, sejam fabricados pela Embraer para instalação nos aviões brasileiros e americanos, indiferentemente de onde eles terão sua montagem final. Este acerto industrial é garantido para os 36 aviões da FAB e para o lote de 58 aviões atualmente sob contrato para a US Navy. Este número pode ser expandido posteriormente, caso a FAB coloque mais pedidos do F-18.
Coggins demonstrou abertamente seu desconforto com a incapacidade da imprensa em geral e dos políticos brasileiros, em aceitar como “críveis” as garantias que o Governo, o Congresso e a Marinha Americanos, deram de que haveria uma efetiva transferência de tecnologia aeroespacial para o Brasil.
Ele também ressaltou que se fosse possível remover as questões puramente políticas nesta concorrência, naturalmente seria o Gripen da Saab o oponente a ser vencido. Ironicamente ele emendou: “pelo preço que os franceses estão pedindo pelo Rafale daria para a FAB comprar 36 F-18 e MAIS outros 36 Gripens NG. Contra o Gripen, o americano ressalta que se a FAB comprar os caças suecos ela, provavelmente, acabaria sendo o único usuário deste modelo do caça sueco no mundo. “seria a ocorrência de novo na FAB do mesmo problema do AMX da década de 80”. Coggins ainda disse que ao contrário, ao escolher o F-18 a FAB receberia todo o programa de transferência de tecnologia assim como um inédito acesso para as empresas brasileiras ao gigantesco mercado consumidor americano através da própria Boeing.
O executivo da Boeing contou também que a despeito da perspectiva universalmente aceita de que o número de caças a ser comprados pela FAB deva ultrapassar em muito o número desta concorrência, a FAB teria instruído explicitamente aos competidores de que não levassem números maiores que 36 em conta na formulação de suas propostas. A despeito de qualquer benefício de escala que isso pudesse gerar no preço ofertado.
O “Boeing Integrated Technology Center”
Uma das maiores mudanças na posição da Boeing nesta concorrência foi a decisão anunciada agora de montar no país uma laboratório de software e de integração para atender localmente as necessidades da FAB neste segmento. Ali será trabalhado o hardware dos aviônicos além do software e da integração de novos armamentos e sensores ao F-18 durante sua vida útil. Esta informação contradiz frontalmente a estratégia anunciada por Bob Gower VP da Boeing na última LAAD. Ele afirmou então que esta mesma integração seria toda feita nos EUA pela empresa para o Brasil. Mike Coggins garantiu que na última proposta, finalmente, a Boeing garantiu entregar 100% do código fonte do F-18 para o F-18 aos brasileiros, mas ao mesmo tempo ele comentou que isso corria o risco de acabar sendo um “benefício vazio”, pois a versão do código atual é imediatamente obsoleta assim que é liberado para instalação nas aeronaves operacionais.
Neste centro a Boeing desenvolverá soluções e sistemas visando sua integração nos produtos que chegarão ao mercado nos próximos dez anos. Além disso, para o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial – DCTA, a Boeing está ofertando a instalação de um novo túnel de vento tri-sônico para complementar o túneis de vento já existentes em São José dos Campos.
A presença da Northrop Grumman dentro do consórcio do F-18 deu à Boeing a possibilidade de incluir na sua proposta a possibilidade da Embraer converter alguns dos F-5E monoplaces atuais da FAB em F-5F biplaces. Isso permitiria seu uso como aeronaves LIFT – treinamento introdutório para futuros pilotos de caça. O pacote de conversão é conhecido como “Tiger Century” e foi desenvolvido pela Northrop para a empresa do mesmo nome no início de 2000.
As palavras mais duras de Coggins, no entanto, foram quando ALIDE perguntou se ele concordava com a opinião da Saab de que o uso de fuselagens projetadas para der formas “Stealth” aos caças do futuro estava com os dias contados por ser uma solução inflexível e fácil de ser contornada pelos fabricantes de radares. Ele disse que são declarações deste tipo que demonstram o quanto a Saab não entende do tema Stealth. Segundo ele a seção radar do F-18, devido ao amplo know-how da Boeing é “chocantemente pequena”, evitando, no entanto, dar maiores detalhes ou valores para sustentar suas alegações.
Perguntado sobre que tipo de sistemas americanos haveria dentro do Rafale o americano disse que não devem ser elementos de segundo ou terceiro nível (“2nd or 3rd Tier”, em inglês), coisas que seriam de substituição não muito difícil para os franceses.
Saindo um pouco do tema Coggins comentou que o novo F-15SE, o chamado “Silent Eagle” já estava sendo visto pela empresa como um produto capaz de ser usado não somente por forças aéreas estrangeiras, mas pela própria USAF para complementar os novos F-35 da Lockheed cujos custos não param de se ampliar. No exterior a Força Aérea da Coréia do Sul tende a ser o foco principal para as primeiras vendas deste novo modelo do F-15 Eagle.
Agora as cartas estão na mesa, e cabe à FAB entregar seu relatório final ao Ministério da Defesa para que seja tomada a decisão sobre qual caça será o próximo vetor principal da FAB. Para Mike Coggins, a Boeing e os demais proponentes, este é apenas mais um, de tantos, angustiantes momentos de espera até a conclusão do F-X2
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