O primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta quinta-feira que a prisão do fundador do site WikiLeaks, o australiano Julian Assange, mostra que o Ocidente tem seus próprios problemas com a democracia.

Assange foi preso após se entregar à polícia britânica na manhã de terça-feira. Ele é procurado na Suécia sob suspeita de crimes sexuais contra duas moças, mas nega as acusações e alega que o caso é apenas uma estratégia do Pentágono para desmerecer as revelações feitas por seu site.

Putin questionou, se o Ocidente é democrático, então "porque o senhor Assange está escondido na prisão? Isso é democracia?".

"Vocês acham que o serviço diplomático dos EUA é uma fonte de informação transparente? Vocês realmente acham?", disse Putin, visivelmente de bom humor.



Assange se apresentou à polícia britânica nesta terça-feira. Ele teve um pedido de fiança negado, e deve permanecer sob custódia até 14 de dezembro, enquanto as autoridades britânicas decidem se o extraditam ou não para a Suécia.

O Wikileaks é um site conhecido por divulgar documentos sigilosos. Embora no ar há alguns anos, ele ganhou destaque internacional neste ano, ao levar a público 77 mil documentos da inteligência americana sobre o Iraque e, nas últimas semanas, mais de 250 mil documentos secretos do Departamento de Estado dos EUA.

LULA

Mais cedo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que deveria haver protesto contra a prisão de Julian Assange, e que o erro não é dele que divulgou, mas dos diplomatas que fizeram os documentos.

O presidente criticou a busca mundial feita por Assange. "Ele desnuda a diplomacia, que parecia inatingível e a mais certa do mundo, e começa uma busca. Não sei se colocaram cartaz como no tempo do faroeste, procura-se vivo ou morto, e prenderam o rapaz. Não vi um voto de protesto", disse.

Lula pediu aos assessores que comecem a fazer manifestação no Blog do Planalto. "Vamos fazer o primeiro protesto então contra a liberdade de expressão na internet porque o rapaz estava colocando lá apenas o que ele leu. E se ele leu é porque alguém escreveu. O culpado não é quem divulgou, mas quem escreveu a bobagem. Então, que fique aqui meu protesto", afirmou o presidente.

CRIMES SEXUAIS

O fundador do site WikiLeaks esteve na Suécia no começo de agosto para dar palestras e saiu de lá sendo acusado por crimes sexuais contra duas mulheres.

As duas moças, na faixa dos 20 anos, teriam descoberto por acaso que ambas tiveram relações sexuais com Assange em questão de dias, e decidiram procurar a polícia, informa o tabloide britânico "Daily Mail". Uma delas era uma "fã" de Assange, chegou a pagar os bilhetes de trem para ele e ficou aborrecida porque ele nunca mais telefonou.
A promotoria sueca especificou nesta terça-feira ao tribunal britânico de Westminster as quatro acusações de agressão sexual que pesam contra ele. A advogada Gemma Lindfield, representante legal das autoridades suecas no processo, disse ao juiz britânico Howard Riddle que uma mulher identificada como senhorita A acusou Assange de "coerção ilegal" na noite de 14 de agosto. A mulher argumentou que o australiano usou o peso de seu corpo para imobilizá-la com intenção sexual.

A segunda acusação é de "agressão sexual" à mesma senhorita A por praticar sexo sem preservativo, ignorando o "desejo expresso" dela de usar camisinha.

A terceira acusação é de que, em 18 de agosto, ele "assediou deliberadamente" a mesma pessoa" "de uma maneira voltada a violar sua integridade sexual".

A quarta e última acusação se refere a uma segunda mulher, identificada como senhorita W, que o acusa de ter mantido relações sexuais sem preservativo enquanto ela dormia.

Uma das mulheres disse a um jornal sueco, segundo o "Daily Mail": "A responsabilidade pelo que aconteceu a mim e à outra garota cabe a um homem que tem uma atitude distorcida em relação às mulheres e um problema em ouvir não como resposta".

IMBRÓGLIO JUDICIAL

A promotoria sueca emitiu um mandado de prisão contra Assange em 20 de novembro por suspeita de crimes sexuais, mas esse mandato foi revogado no dia seguinte.

Em 25 de agosto, a promotoria anunciou uma investigação preliminar sobre o caso, e Assange chegou a ser interrogado no dia 30 de agosto, segundo seu advogado.

No dia 1º de setembro, uma outra promotora sueca, Marianne Ny, decidiu reabrir o caso contra Assange. Em 18 de novembro, a Suécia emitiu um mandado de prisão contra ele, e no dia seguinte gerou um mandado de prisão internacional. No dia 1º de dezembro, a Interpol (polícia internacional) divulgou um alerta vermelho pedindo a prisão do australiano.
As autoridades britânicas disseram que não podiam prender o fundados do WikiLeaks por um problema no mandado de prisão --incluia apenas a sentença máxima para o mais grave dos crimes, e deveria ter a pena máxima para todos os crimes alegados.

A promotoria sueca emitiu, então, um novo mandado de prisão atendendo a essas especificidades. Assange negociou um encontro com a polícia britânica, e se apresentou nesta terça-feira.

Fonte:Portal Stylo