Napoleão Bonaparte dizia que, quando os chineses se movimentassem, o mundo tremeria. E nem havia mais de 1 bilhão deles então... Mas no grande século napoleônico, o século 19, a China foi humilhada de múltiplas formas pelo Ocidente. Os britânicos lutaram duas guerras para forçar os chineses a consumir ópio. No começo do século 20, todo mundo tirava sua casquinha do decadente império: Alemanha, França, Rússia etc. exigiam e conseguiam concessões dos chineses, como portos exclusivos para comércio, sem que se sujeitassem à legislação local.
O Japão derrotou a China de modo humilhante em guerra em 1894-1895. Na rebelião Boxer, de 1898 a 1901, o nacionalismo chinês entrou em combate (e perdeu) com Rússia, Reino Unido, Japão, Áustria, Itália, Alemanha, França e EUA. Por isso é fácil entender a atual assertividade chinesa, quando na primeira década do século 21 o país é a segunda economia e o segundo poderio militar do planeta, ambicionando nas próximas décadas virar o número um. E o momento coincide com a maior fraqueza econômica e militar dos antigos algozes europeus e americanos. Outro momento fundamental que definiu as atitudes chinesas foi a tomada do poder pelos comunistas em 1949. Um dos primeiros focos de crise foi a fuga dos inimigos nacionalistas para Taiwan, que estabeleceram um baluarte capitalista até hoje protegido pelos EUA. A China sempre quis invadir Taiwan, mas em toda crise a Marinha americana se coloca no caminho. Como se colocou no caminho dos norte-coreanos quando eles afundaram uma corveta sul-coreana em 2010. Já os chineses nem ligaram para o ato de guerra, deixando os sul-coreanos e os americanos profundamente indignados. É essa atitude chinesa que preocupa o Ocidente. Não só os chineses não ligam para as barbáries de "amiguinhos" como os norte-coreanos como fazem declarações preocupantes sobre intenções expansionistas no mar da China do Sul, em relação a ilhas que também são reivindicadas por Vietnã (ironicamente, também comunista) e Filipinas. Claro, a região é potencialmente rica em petróleo. Os chineses estão investindo em algo inédito e que é tradicionalmente algo de que os americanos dependem muito para a projeção de poder: porta-aviões. Também investem em aviões modernos e mísseis, além de submarinos nucleares. Em uma década, eles terão um poderio regional suficiente para bloquear intervenções americanas na Ásia, no Pacífico e mesmo no Índico. A única alternativa sensata, e que é bem razoável, é que, com as economias dos dois países dependendo tanto uma da outra, a hipótese de guerra continue sendo impensável, apesar das tensões regionais.
Fonte: Folha de SP
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