O governo japonês divulgou nesta quinta-feira, 20, em sua página oficial
no Facebook, documentos históricos que provariam a posse das ilhas
Senkaku (ou Diaoyu, como são conhecidas na China). A briga pelo pequeno
arquipélago localizado ao extremo sul do Japão dura mais de duas
décadas, mas a tensão entre os dois países aumentou depois que o governo
japonês anunciou a compra de três das ilhas, na semana passada.
Milhares de manifestantes protestaram nas ruas de cidades chinesas
contra a compra das ilhas pelo Japão. Prédios de fábricas e escritórios
de empresas japonesas foram atingidos pelos manifestantes, que também
atacaram consulados japoneses na China.
Entre as provas divulgadas pelo Japão estão uma carta, de 1920, que
teria sido assinada pelo cônsul chinês em Nagasaki, na qual ele agradece
o resgate de pescadores chineses que naufragaram perto das ilhas
Senkaku. "(No total) 31 pescadores de Hui'an, província de Fujian, se
perderam durante uma tempestade de vento e foram empurrados para a ilha
Wayo, uma das ilhas Senkaku, distrito de Yaeyama, província de Okinawa,
império do Japão", diz o trecho. Para o governo japonês, é uma prova de
que a China já reconhecia o arquipélago como parte de Okinawa.
Outro documento é um artigo publicado pelo People's Daily, a
imprensa oficial da China, em 8 de janeiro de 1953, que fala sobre a
luta da população local contra a ocupação americana. No texto, é citado o
nome Senkaku e não Diaoyu - como os chineses chamam o arquipélago hoje.
Uma terceira prova seria um mapa geográfico publicado pela China em
1933, no qual as ilhas Senkaku são indicadas como pertencentes ao Japão.
Já a China diz que as ilhas Diaoyu são parte de seu território desde
tempos antigos, servindo como área de pesca e administrada pela
província de Taiwan. O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês diz
que isso é "totalmente comprovado pela história e está legalmente
fundamentado". Mas até agora não apresentou provas concretas e se recusa
a ir à corte internacional para resolver a questão.
Risco
Para o especialista em estudos asiáticos Jeff Kingston, da Universidade de Temple, em Tóquio, agora não é hora de discutir quem está certo. "A briga atual piorou além das expectativas porque os dois lados não têm tratado o assunto adequadamente", afirmou.
Para o especialista em estudos asiáticos Jeff Kingston, da Universidade de Temple, em Tóquio, agora não é hora de discutir quem está certo. "A briga atual piorou além das expectativas porque os dois lados não têm tratado o assunto adequadamente", afirmou.
O pesquisador disse à BBC Brasil que há um risco enorme de que se
crie um mártir na disputa - caso em que, para ele, ficará muito difícil
de se restaurar a confiança bilateral. "Os líderes de ambos os países
precisam se concentrar no fato de que as ilhas não compensam os danos
que serão causados em ambas as nações."
Os japoneses reclamam que somente a partir da década de 1970, quando
foi divulgada a existência de potenciais reservas de petróleo e gás na
região, que as autoridades chinesas e de Taiwan passaram a reivindicar a
posse das ilhas. Segundo uma fonte japonesa do alto escalão, o país não
tem pretensão de explorar as ilhas e quer manter as relações estáveis
na região. As ilhas nacionalizadas pelo Japão pertenciam a investidores
privados japoneses, e a compra foi feita para evitar que o governador
nacionalista de Tóquio, Shintaro Ishihara, comprasse o arquipélago e
construísse instalações no local, o que irritaria ainda mais o governo
chinês.
Mas a fonte japonesa disse que o governo ficou muito preocupado com a
reação extrema dos chineses. Na quarta-feira, o vice-presidente da
China, Xi Jinping - apontado como provável sucessor de Hu Jintao na
Presidência do país - disse que o governo japonês precisa "pôr limites
ao seu comportamento" e parar de minar a soberania chinesa.
Manifestações Desde que o Japão anunciou a
nacionalização das ilhas, na semana passada, começou na China uma onda
de protestos antinipônicos. Prédios de embaixadas e consulados japoneses
e também empresas viraram alvo de milhares de manifestantes
enfurecidos. Várias lojas de departamentos, restaurantes e supermercados
japoneses foram alvo de vandalismo no começo desta semana. Algumas
fábricas também tiveram de suspender a produção por alguns dias.
O governo do Japão disse nesta quinta-feira que vai pedir uma
compensação financeira à China pelos estragos causados aos prédios do
governo. O gabinete do primeiro-ministro Yoshihiko Noda disse também que
considera mandar à China um enviado especial "na tentativa de resolver o
problema por meio de vias diplomáticas".
Sobre os danos causados às propriedades de empresas japonesas na
China, o gabinete disse que a questão deve ser tratada localmente, de
acordo com as leis do país. O pico das manifestações foi na última
terça-feira, quando os chineses lembraram também o aniversário da
ocupação japonesa no nordeste do país em 1931.
Centenas de navios pesqueiros chineses cercaram as ilhas durante o
começo da semana. Nesta quinta, segundo a guarda costeira japonesa, dez
barcos chineses estavam sendo monitorados - quatro da marinha e seis
pesqueiros.
Com o agravamento da crise entre as duas maiores potências asiáticas,
o secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, fez uma visita aos dois
países e pediu pelo estreitamento dos laços bilaterais. "Nosso objetivo é
ter certeza de que a disputa não evolua para uma tensão indesejada ou
um conflito", disse o americano. As ilhas também são disputadas por
Taiwan.
Fonte: Estadão
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