Segunda-feira (22), durante o último debate presidencial, Mitt Romney
atacou o presidente Obama por gerar "tensão" e "conflito" com Israel e o
censurou por ter "pulado Israel" durante suas viagens ao Oriente Médio.
Durante toda a campanha Romney acusou Obama de ter "traído aliados como
Israel".
Mas a história nos mostra uma realidade diferente. De fato, sempre que
os Estados Unidos pressionaram os líderes de Israel de maneira séria e
contínua — a partir dos anos 1950 — a medida partiu de presidentes
republicanos, não democratas. Isso é especialmente verdadeiro em relação
ao predecessor de Obama, George W. Bush.
Apenas uma semana antes do início da guerra do Iraque, em março de
2003, Bush ainda tinha dificuldades para formar uma coalizão
internacional para derrubar Saddam Hussein. Diferentemente da guerra do
Golfo Pérsico, em 1991, a Rússia — membro permanente do Conselho de
Segurança das Nações Unidas — optou pelo veto, impedindo as Nações
Unidas de fornecerem legitimidade oficial à guerra contra Hussein. A
Grã-Bretanha era a única a se alinhar com os Estados Unidos e o apoio do
primeiro ministro Tony Blair era considerado fundamental para
Washington.
No momento em que o Parlamento Britânico estava pronto para aprovar a
empreitada, um grupo do Partido Trabalhista de Blair ameaçou se
revoltar, exigindo concessões israelenses aos palestinos em troca do
apoio à invasão de Israel. Essa exigência teria impedido a guerra e só
havia uma forma de garantir o apoio britânico: Bush teria de declarar
que o "mapa" para a paz no Oriente Médio — uma proposta que havia sido
esboçada no início do governo — seria a política formal dos Estados
Unidos.
O primeiro ministro de Israel na época, Ariel Sharon, havia feito uma
oposição veemente ao "mapa", que continha diversas "linhas vermelhas"
que ele se recusava a aceitar, incluindo a determinação de que o futuro
status de Jerusalém seria determinado por uma "resolução negociada",
levando em conta "as preocupações políticas e religiosas de ambos os
lados". O texto implicava o possível fim da soberania sobre Jerusalém,
que está sob controle israelense desde 1967.
No dia 13 de março de 2003, autoridades israelenses foram sumariamente
informadas de que os Estados Unidos iria adotar publicamente o rascunho
do "mapa" como sua política oficial. Washington deixou claro para nós
que às vésperas da guerra, Israel não poderia criticar a política
americana, além de garantir que os simpatizantes recebessem a mensagem.
Os Estados Unidos insistiam que o "mapa" deveria ser aprovado sem
quaisquer modificações, afirmando que os interesses israelenses seriam
abordados em outro momento. Durante um debate longo e tenso do qual
participei em 2003, Sharon pedia relutantemente para que seus ministros
aceitassem a exigência de Washington. Benjamin Netanyahu, que era
ministro da fazenda na época, discordou e se absteve durante a votação
da resolução do gabinete de cúpula, que acabou sendo aprovado.
A partir daquele momento, o "mapa" — incluindo os parágrafos sobre
Jerusalém, tornou-se a bíblia política para Estados Unidos, Rússia,
União Europeia e Nações Unidas. Israel não foi apenas dominada por um
presidente republicano, mas também foi obrigada a aceitar em silêncio e
engolir o amargo remédio.
Três anos mais tarde, o governo Bush pressionou Israel novamente para
apoiar uma política que iria contra seus interesses soberanos. No início
de 2006, o grupo terrorista Hamas apresentou candidatos para as
eleições legislativas da Palestina. Israel afirmou que nenhum líder
poderia fazer campanha com uma arma na cintura; o partido palestino
Fatah também se opôs à participação do Hamas. Mas a Casa Branca não
aceitou nada disso, forçando o Fatah a permitir que os candidatos do
Hamas concorressem e pressionando Israel a permitir os votos no Hamas,
até mesmo em Jerusalém Oriental.
Depois que o Hamas venceu por clara maioria de votos, Washington
resolveu treinar as forças do Fatah para esmagá-lo militarmente na Faixa
de Gaza. Entretanto, o Hamas previu o estratagema e tomou controle da
Faixa em 2007, deixando palestinos divididos político e
territorialmente.
A despeito da retórica de campanha do partido republicano a respeito de
Israel, até hoje nenhum presidente democrata forçou o governo
israelense a tomar decisões sobre questões de segurança nacional. Na
crise do Canal de Suez, em 1956, foi o republicano Dwight D. Eisenhower
que se juntou à União Soviética para forçar o fundador na nação
israelense, David Ben-Gurion, a se retirar da Península de Sinai após o
ataque franco-israelense-britânico ao Egito.
Em 1991, quando mísseis Scud iraquianos caíram sobre Tel Aviv, o
governo do primeiro presidente Bush exigiu que Israel respondesse ao
ataque, com o objetivo de preservar a coalizão de Estados árabes que
lutavam contra o Iraque. O primeiro ministro Yitzhak Shamir resistiu à
recomendação dos chefes de segurança para retaliar e se curvou às
exigências americanas, enquanto os cidadãos israelenses caminhavam nas
ruas com máscaras de gás.
Após a guerra, Shamir concordou em ir a Madri para uma conferência de
paz do Oriente Médio organizada pelo Secretário de Estado James A. Baker
III. Temendo que Shamir pudesse ser intransigente na mesa de
negociação, a Casa Branca pressionou Israel ao segurar um empréstimo de
10 bilhões de dólares, causando-nos sérios problemas econômicos. O
eventual resultado foi a queda política de Shamir. O homem que salvou a
grande coalizão americana contra Saddam Hussein em 1991 foi traído pelos
Estados Unidos.
Em todos esses casos, governos republicanos agiram de forma fria e
calculista, sem importar-se com o orgulho nacional israelense, ou com os
interesses estratégicos e as sensibilidades do país. É bom pensar nisso
em outubro de 2012.
(Efraim Halevy foi diretor do Mossad de 1998 a 2002 e assessor de
segurança nacional do primeiro ministro israelense, Ariel Sharon, de
outubro de 2002 a junho de 2003.)
Fonte: R7
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