A visita que a chanceler alemã Angela Merkel irá fazer a Portugal, daqui a uma semana, está a causar incómodo em vários sectores da nossa sociedade, fruto da influência económica e política que a Alemanha detém na União Europeia.
Ao longo do século XX, foi quase sempre esta a situação: a Alemanha a querer dominar a Europa, tendo em alguns períodos dominado mesmo! Foi o que aconteceu durante a 1.ª Guerra Mundial, com um episódio que agora pretendo recordar.
Quando os alemães decidiram usar os seus submarinos para atacar os navios que circulavam no Oceano Atlântico, os países aliados decidiram ripostar, fechando-lhes os seus portos ou declarando-lhes mesmo guerra. Foi o que aconteceu com Portugal, ao aprisionar os navios ale-mães, que se encontravam na costa portuguesa, e foi o que aconteceu com os EUA, que entraram na guerra precisamente porque os submarinos alemães atacavam permanentemente os navios norte-americanos.
A Alemanha declarou oficialmente guerra a Portugal no dia 9 de Março de 1916, tendo essa declaração sido recebida pelo bracarense Augusto Luís Vieira Soares, Ministro dos Negócios Estrangeiros. A partir desse momento, o nosso país envolveu-se directamente na 1.ª Guerra Mundial, ao lado da sua velha aliada, a Inglaterra.
Durante o conflito mundial, na costa portuguesa, ocorreram muitos ataques e combates, quer entre navios de várias nações envolvidas no conflito, quer entre os submarinos alemães que os atacavam permanentemente.
A costa portuguesa, junto a Viana do Castelo, Esposende, Póvoa de Varzim, Vila do Conde e Matosinhos, era palco de várias aparições de submarinos alemães, que atacavam as embarcações que por lá circulavam e causavam pânico às populações.
No momento em que por todo a faixa costeira se verificava uma autêntica caça aos submarinos alemães, em Esposende ocorriam episódios verdadeiramente deslumbrantes, uma vez que vários submarinos alemães, secretamente, iam abastecer-se a esta, então, vila portuguesa!
Quando se soube desta “traição nacional” que ocorria em Esposende, de imediato as autoridades portuguesas resolveram averiguar a veracidade dos factos, tendo o próprio Governador Civil de Braga, José Feria Dordio Teotónio, deslocado pessoalmente a Esposende. Depois de várias averiguações efectua-das em Esposende, o Governador Civil confirmou que de facto os submarinos alemães eram abastecidos nesta terra. Este acontecimento foi noticiado na época, tendo, por exemplo, o jornal “Gazeta de Braga” (13 de Maio de 1917) referido que “O snr. Governador civil d’este distrito, tendo ido a Espozende inquirir do facto de serem por ali abastecidos os submarinos alemães, chegou á conclu são de que o facto é verdadeiro…”.
Espantado com esta descoberta, o Governador Civil de Braga de imediato comunicou ao Ministro do Interior esta grave ocorrência, tendo o Governo decidido aumentar a vigilância de Esposende e impedir que mais submarinos alemães ali fossem abastecidos.
O movimento de navios era de tal forma elevado, que eram muitos os que naufragavam junto à costa portuguesa. Nessa semana (10 de Maio de 1917), o vapor grego “Athina” acabou imergido junto a Esposende, conseguindo os portugueses fazer ainda a descarga de todo o carvão que este navio tinha, bem como o aproveitamento de várias peças, artilharia e máquinas do mesmo navio.
Um mês depois (11 de Junho de 1918), foi a vez de um navio português ser atingido junto à costa de Viana do Castelo, e novamente por um submarino alemão. Tratou-se do “Ligeiro”, que se dirigia para França com um grande carregamento de produtos, entre os quais 600 pipas de vinho. Nesse mesmo dia, também junto a Viana do Castelo, o navio dinamarquês ‘Lilly’ foi atacado e afundado por um submarino alemão.
A 25 de Junho de 1917 outro navio português foi destruído por um submarino alemão. Tratou-se do ‘Cabo Verde’, que também se dirigia para França com mantimentos.
O verão de 1917 foi particularmente difícil para os portugueses, uma vez que os ataques de submarinos alemães eram constantes. O próprio Ministro da Marinha comunicou ao parlamento português, no dia 4 de Julho de 1917, que um submarino alemão tinha disparado vários tiros para alvos na cidade de Lisboa, tendo provocado pelo menos uma morte e um elevado prejuízo material.
Também a cidade do Funchal foi bombardeada duas vezes. O primeiro bombardeamento ocorreu no dia 3 de Dezembro de 1916 e o segundo no dia 12 de Dezembro de 1917.
Já na parte final da guerra, ocorreu um episódio que atingiu proporções de quase dramatismo quando, no dia 14 de Outubro de 1918, o pequeno caça-minas português, Augusto de Castilho, um autêntico calhambeque, comandado por Carvalho Araújo, enfrentou o poderosíssimo submarino alemão U-139, com 100 metros de comprimento. Esta “luta” impediu o submarino alemão de atacar o paquete S. Miguel, que se deslocava da Madeira para os Açores com 206 passageiros, entre eles muitas mulheres e crianças.
O Augusto de Castilho foi afundado pelo submarino alemão, sendo este o episódio mais célebre de toda a participação da marinha portuguesa na 1.ª Guerra Mundial.
No único conflito mundial em que Portugal participou torna-se curioso verificar que, junto a Esposende, vários portugueses colaboravam com o então inimigo nacional: a Alemanha.
Fonte: Correio do Minho - Por Joaquim Gomes
Ao longo do século XX, foi quase sempre esta a situação: a Alemanha a querer dominar a Europa, tendo em alguns períodos dominado mesmo! Foi o que aconteceu durante a 1.ª Guerra Mundial, com um episódio que agora pretendo recordar.
Quando os alemães decidiram usar os seus submarinos para atacar os navios que circulavam no Oceano Atlântico, os países aliados decidiram ripostar, fechando-lhes os seus portos ou declarando-lhes mesmo guerra. Foi o que aconteceu com Portugal, ao aprisionar os navios ale-mães, que se encontravam na costa portuguesa, e foi o que aconteceu com os EUA, que entraram na guerra precisamente porque os submarinos alemães atacavam permanentemente os navios norte-americanos.
A Alemanha declarou oficialmente guerra a Portugal no dia 9 de Março de 1916, tendo essa declaração sido recebida pelo bracarense Augusto Luís Vieira Soares, Ministro dos Negócios Estrangeiros. A partir desse momento, o nosso país envolveu-se directamente na 1.ª Guerra Mundial, ao lado da sua velha aliada, a Inglaterra.
Durante o conflito mundial, na costa portuguesa, ocorreram muitos ataques e combates, quer entre navios de várias nações envolvidas no conflito, quer entre os submarinos alemães que os atacavam permanentemente.
A costa portuguesa, junto a Viana do Castelo, Esposende, Póvoa de Varzim, Vila do Conde e Matosinhos, era palco de várias aparições de submarinos alemães, que atacavam as embarcações que por lá circulavam e causavam pânico às populações.
No momento em que por todo a faixa costeira se verificava uma autêntica caça aos submarinos alemães, em Esposende ocorriam episódios verdadeiramente deslumbrantes, uma vez que vários submarinos alemães, secretamente, iam abastecer-se a esta, então, vila portuguesa!
Quando se soube desta “traição nacional” que ocorria em Esposende, de imediato as autoridades portuguesas resolveram averiguar a veracidade dos factos, tendo o próprio Governador Civil de Braga, José Feria Dordio Teotónio, deslocado pessoalmente a Esposende. Depois de várias averiguações efectua-das em Esposende, o Governador Civil confirmou que de facto os submarinos alemães eram abastecidos nesta terra. Este acontecimento foi noticiado na época, tendo, por exemplo, o jornal “Gazeta de Braga” (13 de Maio de 1917) referido que “O snr. Governador civil d’este distrito, tendo ido a Espozende inquirir do facto de serem por ali abastecidos os submarinos alemães, chegou á conclu são de que o facto é verdadeiro…”.
Espantado com esta descoberta, o Governador Civil de Braga de imediato comunicou ao Ministro do Interior esta grave ocorrência, tendo o Governo decidido aumentar a vigilância de Esposende e impedir que mais submarinos alemães ali fossem abastecidos.
O movimento de navios era de tal forma elevado, que eram muitos os que naufragavam junto à costa portuguesa. Nessa semana (10 de Maio de 1917), o vapor grego “Athina” acabou imergido junto a Esposende, conseguindo os portugueses fazer ainda a descarga de todo o carvão que este navio tinha, bem como o aproveitamento de várias peças, artilharia e máquinas do mesmo navio.
Um mês depois (11 de Junho de 1918), foi a vez de um navio português ser atingido junto à costa de Viana do Castelo, e novamente por um submarino alemão. Tratou-se do “Ligeiro”, que se dirigia para França com um grande carregamento de produtos, entre os quais 600 pipas de vinho. Nesse mesmo dia, também junto a Viana do Castelo, o navio dinamarquês ‘Lilly’ foi atacado e afundado por um submarino alemão.
A 25 de Junho de 1917 outro navio português foi destruído por um submarino alemão. Tratou-se do ‘Cabo Verde’, que também se dirigia para França com mantimentos.
O verão de 1917 foi particularmente difícil para os portugueses, uma vez que os ataques de submarinos alemães eram constantes. O próprio Ministro da Marinha comunicou ao parlamento português, no dia 4 de Julho de 1917, que um submarino alemão tinha disparado vários tiros para alvos na cidade de Lisboa, tendo provocado pelo menos uma morte e um elevado prejuízo material.
Também a cidade do Funchal foi bombardeada duas vezes. O primeiro bombardeamento ocorreu no dia 3 de Dezembro de 1916 e o segundo no dia 12 de Dezembro de 1917.
Já na parte final da guerra, ocorreu um episódio que atingiu proporções de quase dramatismo quando, no dia 14 de Outubro de 1918, o pequeno caça-minas português, Augusto de Castilho, um autêntico calhambeque, comandado por Carvalho Araújo, enfrentou o poderosíssimo submarino alemão U-139, com 100 metros de comprimento. Esta “luta” impediu o submarino alemão de atacar o paquete S. Miguel, que se deslocava da Madeira para os Açores com 206 passageiros, entre eles muitas mulheres e crianças.
O Augusto de Castilho foi afundado pelo submarino alemão, sendo este o episódio mais célebre de toda a participação da marinha portuguesa na 1.ª Guerra Mundial.
No único conflito mundial em que Portugal participou torna-se curioso verificar que, junto a Esposende, vários portugueses colaboravam com o então inimigo nacional: a Alemanha.
Fonte: Correio do Minho - Por Joaquim Gomes
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