O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, morreu nesta terça-feira em Caracas, após sofrer "complicações" devido ao agravamento de uma infecção respiratória adquirida durante seu tratamento contra o câncer.
O anúncio foi feito em rede nacional de televisão pelo vice-presidente, Nicolás Maduro.

"Estávamos recebendo informações e estávamos acompanhando suas filhas, seu irmão, sua família (no hospital) e aí recebemos as notícias mais trágicas e mais difíceis que jamais transmitiremos ao nosso povo. Às 16h25 (18h25 em Brasília), de hoje, dia 5 de março, o comandante Hugo Chávez Frías morreu", disse com a voz embargada e visivelmente emocionado.
Mais cedo, o governo havia culpado as potências ocidentais pelo câncer que acometeu o líder, e expulsou o adido militar da Embaixada dos Estados Unidos em Caracas, David del Mónaco, alegando suspeitar que ele planejava angariar apoio dos militares para lançar um golpe no país. O diplomata tem 24 horas para deixar a Venezuela.

O líder da "revolução bolivariana" comandava a Venezuela há 14 anos e havia sido reeleito em 2012 para ocupar o cargo até 2019. Em julho de 2011, autoridades do país anunciaram que ele começava a ser tratado de um câncer na região pélvica. Detalhes da doença, porém, nunca foram esclarecidos pelo governo venezuelano.

Cirurgias

O mandatário vinha fazendo viagens regulares a Havana para receber tratamento. Na última delas, em dezembro de 2012, já temendo o pior, reconheceu a precariedade de seu estado de saúde e apontou seu vice, Nicolás Maduro, como principal sucessor político.
Ele foi submetido à quarta cirurgia relacionada ao câncer no dia 11 de dezembro. Poucas informações foram divulgadas sobre o procedimento, exceto que durou seis horas e o presidente perdeu muito sangue. A operação foi considera "exitosa", mas desde então Chávez não foi mais visto publicamente.
Porém, o quadro de saúde do presidente se agravou, evoluindo para uma insuficiência respiratória. Autoridades do país abandonaram o tom otimista que vinham usando nos comunicados anteriores sobre a saúde de Chávez e pediram orações da população.

Uma crise política tomou forma em Caracas com a aproximação do dia 10 de janeiro - a data marcada para que Chávez tomasse posse de seu próximo mandato. A oposição fez pressão para que a Presidência fosse cedida ao presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello - que deveria organizar um novo pleito, segundo a Constituição.
A maioria chavista venceu o embate e a posse fosse adiada indefinidamente.
Nesta terça-feira, o governo convocou os venezuelanos para rezarem por Chávez em frente ao hospital onde o mandatário estava internado. No início da noite, o vice-presidente Nicolas Maduro discursou confirmando a morte de Chávez.

'Tragédia histórica'

Em seu pronunciamento emocionado, Maduro destacou que Chávez batalhou "duramente" contra o câncer por quase dois anos, "com o amor e as orações do povo e a lealdade absoluta de seus companheiros e companheiras de luta" e deixou claro que liderará a continuidade do projeto chavista.
"Nós assumimos sua herança, suas metas e seus projetos, comandandante, Hugo Chávez. Levantaremos suas bandeiras com muita honra e dignidade. Onde quer que esteja, obrigado, mil vezes obrigado, deste povo que tanto você protegeu, comandante".
O vice-presidente também pediu por união e respeito à paz, citando até mesmo os opositores de Chávez.
"Teremos que nos unir, mais do que nunca. Vamos enfrentar as dificuldades. Àqueles que nunca o apoiaram, que o respeitem neste momento", disse.
O vice oficializou o envio das Forças Armadas às ruas do país para garantir estabilidade.
"O respeito à paz neste momento de dor imensa e desta tragédia histórica que toca hoje a nossa pátria, chamamos a todos os compatriotas para serem os vigilantes da paz, do amor e da tranquilidade desta pátria".
Maduro disse que nas próximas horas serão anunciados os detalhes das homenagens póstumas e do velório de Chávez.

Sucessor

Uma vez que a Justiça autorizou a continuidade do governo chavista mesmo sem a posse oficial do presidente, ainda não está claro como ocorrerá a sucessão na Venezuela.
Diferentemente de Chávez, Maduro não foi eleito, logo oposicionistas podem exigir a realização de novas eleições. Maduro foi chanceler da Venezuela por pouco mais de seis anos, até ser escolhido por Chávez para vice-presidente – substituindo Elisas Jaua, que deixou o governo para concorrer nas eleições regionais.
Segundo analistas, o processo de sucessão pode sofrer influência do setor militar do país. "Aqui há uma revolução militar que deve ser permanente e não pode ser detida", disse Maduro no último dia 28.
A oposição no país permanece fragmentada. O candidato mais provável para enfrentar o chavismo em um novo pleito é Henrique Capriles, reeleito no ano passado governador do Estado de Miranda.
Porém, parte da oposição o critica, dizendo que não teve força para assumir a liderança e não possui carisma suficiente para enfrentar os partidários de Chávez. Essa fragmentação abre a possibilidade para que outros oposicionistas disputem com Capriles uma eventual candidatura presidencial.
Mas isso também é sintomático de outro grande problema que impediu a oposição de levantar a cabeça: há partidos sem postulantes, e postulantes sem partidos.Ou seja, a oposição venezuelana segue sendo uma grande massa disforme de agremiações e pessoas disputando cotas de poder ou mera influência.

Fonte: BBC