As potências europeias e a China trabalhavam nesta quarta-feira para
tentar salvar um acordo histórico sobre o programa nuclear iraniano,
depois que o presidente Donald Trump retirou os Estados Unidos do pacto e
voltou a impor sanções contra Teerã.
Trump provocou uma onda de
críticas ao anunciar na terça-feira que seu país está fora do acordo que
pretende garantir o caráter não militar do programa nuclear iraniano,
uma medida que ameaça derrubar anos de esforços diplomáticos e
aprofundar a instabilidade no Oriente Médio.
"Os riscos de um confronto são reais", advertiu o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian.
A
reação em Teerã foi de revolta. Deputados iranianos queimaram nesta
quarta-feira uma bandeira americana de papel e uma cópia do acordo sobre
o programa nuclear no Parlamento, aos gritos de "morte à América".
O rivais regionais do Irã, Arábia Saudita e Israel, aplaudiram o anúncio de Trump.
- Salvaguardar o acordo -
Desprezando mais de uma década e meia de esforços diplomáticos entre
Reino Unido, China, França, Alemanha, Irã, Rússia e governos americanos
passados, Trump anunciou na terça-feira a saída de seu país do acordo
nuclear.
Ele descreveu o pacto, assinado em 2015 por seu
antecessor Barack Obama, como uma "vergonha" para os Estados Unidos e um
acordo que não impede as ambições nucleares do Irã.
As potências
europeias e a China, signatárias do acordo, pediram nesta quarta-feira a
salvaguarda do texto, apesar da saída dos Estados Unidos.
"Vamos
respeitar o acordo e faremos todo o possível para que o Irã se atenha a
suas obrigações", declarou a chanceler alemã Angela Merkel.
Os europeus também prometeram fazer o possível para proteger os interesses de suas empresas no Irã.
O
governo dos Estados Unidos ameaçou adotar sanções contra as empresas
estrangeiras que mantêm negócios com o Irã. Washington deu um prazo de
90 a 180 dias para o encerramento dos contratos com este país.
Apesar
das promessas, o guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, disse
que Teerã também abandonará o acordo nuclear se os países europeus não
apresentarem garantias "reais.
"Caso não consigam obter uma
garantia definitiva - e realmente duvido que consigam -, não podemos
seguir assim", disse Khamenei em um discurso transmitido pela televisão.
Os
ministros das Relações Exteriores da França, Alemanha e Reino Unido se
reunirão com representantes iranianos na segunda-feira, para analisar
toda a situação, informou Jean-Yves Le Drian.
O presidente
francês, Emmanuel Macron, conversará por telefone com o colega iraniano
Hassan Rohani nesta quarta-feira para informar que a França deseja
"manter o acordo" e pedir que faça o mesmo, completou o chanceler.
- 'Guerra psicológica' -
Para
Trump, o novo pacto com o Irã deveria incluir não apenas restrições
mais severas sobre seu programa nuclear, mas também sobre o programa de
mísseis balísticos.
"Não permitiremos que as cidades americanas
sejam ameaçadas pela destruição. E não permitiremos que um regime que
canta 'morte aos Estados Unidos' tenha acesso às armas mais letais da
Terra", disse Trump.
Em um discurso exibido pela televisão
estatal, Rohani chamou de "guerra psicológica" a decisão de Washington
de abandonar o acordo e reinstaurar as sanções econômicas contra Teerã.
O
presidente iraniano indicou ainda que seu país poderia retomar o
enriquecimento de urânio "sem limite" em resposta ao anúncio de Trump.
"Vamos
aguardar várias semanas antes de aplicar esta decisão. Vamos conversar
com nossos amigos e aliados, os outros membros do acordo nuclear",
disse.
Trump advertiu: "Se o regime continuar com suas aspirações nucleares, terá mais problemas".
- Revés para a Europa -
A
decisão de Trump é uma dura derrota diplomática para a Europa, cujos
líderes pediram ao presidente americano para manter seu país no acordo.
O
conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, afirmou,
no entanto, que a cooperação com a Europa sobre o Irã vai continuar.
Washington
"trabalhará com os europeus e outros países, não apenas sobre a questão
nuclear, mas também sobre o desenvolvimento de mísseis balísticos do
Irã, seu apoio contínuo ao terrorismo e suas atividades militares que
colocam em perigo nossos amigos", disse Bolton ao canal Fox News.
Com
a decisão de sair do acordo com o Irã, Trump cumpriu uma promessa de
campanha. Mas ainda não é possível saber qual será o impacto a longo
prazo para a política externa dos Estados Unidos e Oriente Médio.
Alguns
analistas advertem que a medida complicará os esforços americanos para
chegar a um acordo com o líder norte-coreano Kim Jong Un sobre seu
programa de armas, ainda mais avançado que o iraniano.
O
ex-diretor da CIA John Brennan afirmou que a decisão de Trump "dá à
Coreia do Norte mais motivos para permanecer com suas armas nucleares".
O
ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, que estimulou o tratado
multilateral, saiu de seu silêncio e chamou a decisão de Trump de
"equivocada".
Do JB
0 Comentários