O Governo argentino, num gesto sem precedentes desde a Guerra das Malvinas em 1982, ofereceu o envio de alimentos, material médico e testes, além de permitir receber pacientes em hospitais argentinos, na sequência da pandemia da covid-19.
"Transmiti ao embaixador (Mark) Kent a mensagem do chanceler (argentino) Felipe Solá de que, em momentos tão difíceis, a solidariedade deve ser o caminho para superar a situação provocada pelo coronavirus", informou numa nota oficial o secretário para as Malvinas, Antártida e Atlântico Sul, Daniel Filmus.
A
ajuda oferecida pelo Governo argentino através do embaixador do Reino
Unido em Buenos Aires, Mark Kent, aos 3.500 habitantes do arquipélago
inclui o envio de alimentos frescos, material médico e testes para detetar o novo coronavirus, além da abertura de centros médicos argentinos aos 'kelpers', como são designados os habitantes do arquipélago.
"O
secretário mencionou a possibilidade de dispor de meios para realizar
voos humanitários que sejam necessários e lugares de atendimento nos
centros médicos do território continental argentino", indica o Governo
argentino, que considera as Malvinas seu território insular.
O
gesto argentino não tem precedentes desde a Guerra de 1982 entre a
Argentina e o Reino Unido pela soberania das ilhas ocupadas em 1833
pelos britânicos. Também marca uma alteração na política exterior proposta pelos governos peronistas para as ilhas, a 13 mil quilómetros do Reino Unido e a 700 quilómetros do território continental argentino.
Quando foi Presidente, entre 2007-2015, a atual
vice-Presidente da Argentina, Cristina Kirchner, manteve uma política
que visava submeter o arquipélago à asfixia económica ao proibir voos,
rotas marítimas e a atividade na Argentina de qualquer empresa que atuasse nas Malvinas na exploração de pesca ou de petróleo, a base da economia local.
A postura já tinha sido flexibilizada pelo Governo de Mauricio Macri (2015-2019), que passou a permitir voos semanais numa estratégia de aproximação a um diálogo pela soberania.
Embora, oficialmente, ainda não existam casos confirmados do novo coronavírus
no arquipélago, o governo local das Falklands (como o Reino Unido
designa as ilhas) considerou que "é provável" que o vírus já ali tenha
chegado.
A diretora médica das Malvinas, Becky Edwards, admitiu, na semana passada, que "as ilhas não possuem a possibilidade de testar casos da covid-19"
e que "seria ideal confirmar os casos através de laboratórios", mas que
às habituais demoras no envio de testes ao Reino Unido somam-se agora
as interrupções nas linhas aéreas.
"Estamos a relevar os
ventiladores, a analisar o que poderíamos precisar e ordenámos o nosso
abastecimento. De qualquer forma, esperamos nunca precisar", apontou
Becky Edwards, referindo ainda que o autoisolamento de habitantes indica que "é provável que alguns desses casos sejam de covid-19".
Se as Malvinas
ficarem isoladas, a economia local sofrerá um golpe e deixará o
arquipélago sem a possibilidade de retirada de pessoas para tratamentos
médicos no exterior.
Na semana passada, o governo das ilhas
ordenou que os estrangeiros que chegarem devem isolar-se por 14 dias e
que, devido às restrições internacionais aéreas, aqueles que quisessem
sair deveriam tê-lo feito até ao passado dia 18.
Para fazerem
escala nas ilhas, os cruzeiros devem ter todos os passageiros a bordo
por um mínimo de 10 dias sem que nenhum tenha sintomas compatíveis com o
novo coronavirus. Já os barcos de pesca ou os navios de carga só podem desembarcar se ninguém a bordo for um caso suspeito.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 345 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 15.100 morreram.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde a declarar uma situação de pandemia.
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