Telegramas enviados a Washington por Cliford Sobel em 9 de janeiro de 2009, fazem duras críticas ao Plano Nacional de Defesa, anunciado em dezembro de 2008 pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva. Na visão do ex-embaixador, não se trata de uma estratégia, mas de “um conjunto de ideias” sobre o papel dos militares no desenvolvimento do País, que não explica como será executado ou de onde virá o dinheiro. “Ainda não está certo quantas das recomendações vão ser implementadas”, descreve.

“Independência”, na visão de Sobel, é uma palavra-chave do Plano Nacional de Defesa. Isso significa que o Brasil quer controlar a produção de armamentos e só deve fazer alianças com países que queiram transferir tecnologia. Mas, no caso da compra dos caças, pelo número relativamente pequeno, ele acha que “não faz sentido economicamente”.

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Mangabeira

O então ministro do Planejamento Mangabeira Unger é mencionado algumas vezes porque “dá mais importância à “independência” do que à capabilidade militar ou ao uso eficiente de recursos”. O relato destaca também o interesse do Brasil em controlar tecnologia nos setores espacial, cibernético e nuclear. Mas critica a prioridade à indústria de defesa nacional, vista como “não competitiva”.

‘Elefante branco’

O diplomata considera uma ‘paranoia’ a atividade de organizações na Amazônia e a proteção das reservas petrolíferas. “Não há nenhuma ameaça às reservas de petróleo brasileiras, mas os líderes brasileiros e a mídia têm citado as descobertas de petróleo no mar como razão urgente para melhorar a segurança marítima. Essa preocupação se fundiu à busca de duas décadas do Brasil por desenvolver um submarino nuclear, dando um novo ímpeto à pesquisa sobre um pequeno reator para propulsão naval”. Sobel chama de “elefante branco” o submarino nuclear de construção anunciada em 2008, em parceria com a França.

Lula

Em um dos comentários do telegrama, Sobel escreve que “algumas das propostas do plano têm menos a ver em melhorar a estrutura militar e mais com a integração da Segurança Nacional com o desenvolvimento do País”. “A ênfase em benefícios sociais em detrimento ao profissionalismo no serviço militar coincide com a visão de um presidente e outros líderes cujas carreiras na política começaram durante o regime militar e que agora querem minimizar a capacidade dos militares de se envolverem na área”. O ex-diplomata credita ao “passado socialista” do PT, partido do presidente Lula, tais esforços.

Fonte: Estadão